O historiador Yuval Harari, ao analisar o impacto da automação na sociedade, conclui que “Em 2050, a nova classe social predominante será a dos inúteis”. Com efeito, estima-se que no Brasil, até o ano 2030, pelo menos 50% da força de trabalho será substituída por robôs, ao mesmo tempo em que se estima que pelo menos 130 mil novos postos de trabalho serão criados no mundo todo.
Desde o século XVIII o mundo experienciou três revoluções industriais, sendo a primeira baseada no vapor, a segunda, na energia elétrica e no petróleo e a terceira no desenvolvimento de eletrônica e informática. Atualmente, estamos a vivenciar a quarta revolução industrial, baseada na convergência e combinação de tecnologias biológicas, físicas e digitais, dando origem a inteligência artificial, internet das coisas, nanotecnologia, impressão 3D, bio insumos, dentre outras tecnologias de amplo uso comercial. Apesar de apresentar-se em diferentes bases tecnológicas o elemento impulsionador a todas as revoluções industriais não foi outro senão a necessidade de reversão de uma tendência decrescente da taxa de lucro.
Curiosamente, todo este cenário foi antecipado pelo filósofo, sociólogo e economista Karl Marx, ainda em 1867, em seu livro “O Capital”. Marx identificou muito bem o fenômeno da tendência decrescente da taxa de lucro e a inevitável substituição de trabalhadores por máquinas como forma de revertê-la. Entretanto, esta reversão ocorreria às custas de um aprofundamento das contradições do modo de produção capitalista, cuja materialização ocorreria na forma de crises econômicas, recessões, elevado número de quebra de empresas, desemprego em massa, crises financeiras, aumento da concentração de renda e acentuada polarização social, tudo isso favorecido por ciclos de negócios cada vez mais curtos. Entenda-se a crise como uma correção de excessos, com o agravante que tais excessos não são expurgados do sistema econômico, mas tornam-se o rejeito dele, ali permanecendo por longos e incontáveis períodos.
Assim, a economia 4.0 traz em seu bojo uma falsa abundância, em que haverá excesso de oferta de empregos e pouca gente habilitada a ocupá-lo, haverá excesso de capital e poucas ideias de negócios rentáveis, haverá excesso de novos negócios e poucos negócios resilientes, haverá excesso de acumulação de capital e pouca gente com acesso ao capital.
Nesse sentido, na economia 4.0, o maior desafio para o empreendedor será desenvolver modelos de negócios lucrativos e resilientes face à intensa concorrência submersa em um ambiente econômico hostil. Para o trabalhador, o maior desafio será manter-se habilitado junto a uma tecnologia que se desenvolve exponencialmente e com vida útil cada vez menor. Para os governos, o maior desafio será proteger os cidadãos, atenuar correções de ciclos econômicos, promover políticas públicas eficazes, antecipar necessidades futuras dos cidadãos e tributar uma economia cuja base produtiva reconfigura-se numa frequência cada vez maior.
Por tudo isso, na economia 4.0, será bastante comum: odiar o mercado e ficar cada vez mais preso a ele; odiar o governo, e precisar cada vez mais dele; repudiar os tributos e ser cada vez mais achatados por ele; repugnar os inúteis e conviver com o número crescente deles. Eis o mundo 4.0, compreendê-lo adequadamente é a melhor maneira de tirar proveito desta nascente, contraditória, assustadora e promissora revolução.
César Piorski é Doutor, Mestre e Bacharel em economia com especializações em Economia de Empresas, Engenharia Financeira e Macrocenários. Atua como estrategista da Volk Capital, empresa que fundou em 2022.