A polêmica do uso excessivo das redes sociais pelos adolescentes sempre foi um tema recorrente de debate nas escolas, na mídia, em clínicas e na família. Seria uma ferramenta que aproxima ou afasta os adolescentes do convívio social?
O que não podemos negar é que este é um caminho sem volta. A tecnologia faz parte da nossa cultura, já está incorporada em nossas rotinas e, principalmente, no dia a dia dos mais jovens. A internet e as redes sociais ocupam cada vez mais espaço na agenda dos adolescentes, o que vem despertando nos pais uma preocupação com o “isolamento social”.
Afinal, podemos chamar o popular “Call” (apelo, chamada, convite, ligação, convocação) de encontro social?
Se você ainda não conhecia este termo, fique sabendo que o que costumávamos chamar de rolê, paquera ou festinha, foi substituído pelos encontros virtuais conhecidos como Call. Que critérios precisamos levar em consideração para avaliar se as interações humanas, as discussões e as manifestações de opiniões acontecem, de fato, nos rolês virtuais?
Com a imposição do distanciamento social, em razão da pandemia, a busca por interação por meio das redes sociais deixou de ser apenas uma preferência entre os adolescentes para se tornar o único meio de convívio entre pessoas de todas as idades, por orientações e protocolos dos órgãos de saúde. Essa experiência, que os pais vinham tentando controlar em doses homeopáticas, se tornou um hiperconsumo devido a atual realidade. Novas reflexões e discussões têm sido geradas e o que antes era quase um consenso – adolescente + redes sociais = isolamento – tem provocado questionamentos e dividido opiniões.
É possível se divertir com os amigos na call? Os encontros virtuais são mais seguros ou perigosos? Os rolês e encontros presenciais serão substituídos de vez pelos virtuais? O adolescente desenvolverá comportamento de isolamento social e outros transtornos? Essas são algumas perguntas que já eram recorrentes no repertório dos educadores, mas que ganharam ênfase após meses de interações online, espontâneas ou não. Muitas serão as discussões e os estudos sobre comportamentos que serão desenvolvidos nos próximos anos, em razão das mudanças que a pandemia nos trouxe, entretanto parece razoável que haja uma busca pelo equilíbrio nas interações digitais.
Não podemos negar que as redes sociais fazem parte da nossa cultura. É preciso entender que, ao realizar um “Call”, o adolescente não está se isolando do convívio social, mas vivenciando uma outra forma de encontrar e fazer novos amigos. Fundamental ressaltar que os rolês virtuais não substituem os encontros presenciais, afetivos, e o contato físico, essencial a todo ser humano.
No entanto, é perfeitamente possível a interação das duas versões para um convívio social saudável e produtivo. Afinal, o isolamento social também pode ocorrer nos ambientes de contato físico, como a escola, o condomínio, em clubes e até na família. Como pais, responsáveis e educadores devemos estar atentos, próximos e acompanhar o desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental dos nossos adolescentes, buscando entender as necessidades, estabelecer limites, incentivar e acolher quando necessário. Somos os adultos dessa relação e é nosso dever educar, mas acima de tudo, amar os nossos adolescentes, sejam eles internautas viciados ou não.
Fabiana Kadota Pereira, especialista em Recreação e Lazer e professora da Área de Linguagens Cultural e Corporal atuando nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Internacional Uninter.