Praticamente todos os dias os especialistas repetem que o desenvolvimento de melhores produtos e serviços depende cada vez mais do volume de informações sobre os consumidores que as empresas têm acesso. O argumento é que para criar soluções mais econômicas, eficientes e convenientes é necessário conhecer hábitos, desejos, necessidades, condições financeiras e uma série de outros aspectos relacionados à vida das pessoas.
Neste sentido, o Brasil tem acompanhado a tendência mundial e feito esforços para avançar com iniciativas que permitem às organizações saberem praticamente tudo o que querem de seus clientes.
O mercado de crédito, por exemplo, já conta com o Cadastro Positivo, o Open Banking e o Open Finance.
Por sua vez, a indústria dos seguros trabalha o conceito de Open Insurance e assim por diante. Seja em qual for o segmento, o compartilhamento de dados é o nome do jogo e a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) procura fazer com que a regra seja clara no que se refere às melhores práticas de uso desses dados.
Ocorre que a lógica desse sistema parte sempre da premissa de que os dados das pessoas sejam conhecidos e compartilhados por aqueles que vão tê-las como usuárias de suas criações. No caso da eleição, não é diferente. Os eleitores também serão impactados por aquilo que os parlamentares inventarem ou deixarem de inventar, mas aqui existe uma possibilidade fundamental de inversão de papéis. Ao invés de ter seus dados à disposição, os consumidores poderiam e deveriam ter a oportunidade de conhecer e compartilhar os dados sobre o histórico e o comportamento dos candidatos.
Afinal, é consenso que um dos maiores sinais de loucura é continuar fazendo tudo da mesma forma e esperar por resultados diferentes. Ou seja, manter o formato atual, no qual eleitores sabem dos políticos somente aquilo que eles querem, vai continuar levando o país a ter muitas surpresas negativas.
O conhecimento, por exemplo, de que um determinado candidato havia sido preso por suspeita de venda ilegal de anabolizantes em academias da cidade e que, depois de ter se tornado policial militar, essa mesma pessoa havia recebido 60 sanções disciplinares, 14 repreensões e duas advertências por comportamento inadequado, provavelmente evitaria o desperdício de energia das últimas semanas, causado por que esse mesmo político assumiu um comportamento e uma defesa de teses não condizentes com o que se espera de uma parlamentar.
Quantos casos como esse já aconteceram? Quantos ainda estão para ser descobertos? Até quando esse tipo de erro será cometido?
Afinal, assim como existe tecnologia para captar, processar, minerar, orquestrar e extrair de banco de dados as melhores informações sobre consumidores para a criação de produtos e serviços, também existem ferramentas para auxiliar o eleitor a escolher melhor seus representantes.
Durante muito tempo os bancos, financeiras e varejistas contaram com os chamados cadastros negativos de crédito, ou seja, um repositório de informações que denunciavam se uma pessoa tinha deixado de pagar alguma conta em algum momento de sua vida. Hoje, além da lista negativa existe ainda a lista positiva.
E no caso dos candidatos? Onde o eleitor pode consultar se existe alguma incoerência entre a realidade do comportamento histórico daquele político e a lista de qualidades que ele apresenta no momento da campanha?
As plataformas de tecnologia especializadas em compliance judicial hoje em dia já são capazes de disponibilizar, a baixos custos, a possibilidade de fazer pesquisas por meio de mineração de dados através de mais de 3.500 fontes, nacionais e internacionais, realizando análises, a partir de Inteligência Artificial para verificação de processos, vestígios de corrupção, lavagem de dinheiro, terrorismo, leis ambientais, crédito e mídia negativa, entregando esse resultado para os clientes em menos de 1 minuto.
Por que não colocar tudo isso à disposição do eleitor? Será que já não é hora de se falar em ‘Open Election’ com o mesmo entusiasmo que se fala em Open Finance, Open Banking, Open Insurance e tantos outros opens?
Com a palavra as autoridades!
Ou será que só os eleitores devem ter seus dados conhecidos e compartilhados?
Alexandre Pegoraro é CEO da Kronoos