“Bom dia, Isabel. Adivinhe, o que eu guardei pra você? Sabe aquela uva que tinha acabado na semana passada? Hoje, eu separei alguns cachos caso você queira!”. Há dez anos, a aposentada Isabel de Moura Brito, 62 anos, sabe que na banca da feirante Eliane Cristina Franzão, 40 anos, sempre haverá uma surpresa ou agrado esperando por ela. “Eliane até pode não ter mais naquele dia a fruta ou verdura que eu tanto queria. Mas, se for possível, na semana seguinte, ela traz para mim”, conta Isabel, freguesa da comerciante na feira do São Francisco, às quintas-feiras, e também, no sábado, no Alto da Glória.
Daria para escrever um livro com as belas histórias de amizades feitas nas feiras de Curitiba. Afinal, a relação entre feirantes e fregueses vai muito além da comercialização de alimentos. “As feiras são um espaço em que as relações de confiança e respeito se fortalecem a cada conversa, a cada risada, a cada contato”, destaca o secretário municipal de Agricultura e Abastecimento (Smab), Luiz Gusi, responsável pelos 93 pontos da Prefeitura.
O secretário lembra que na sexta-feira (25/8) é o Dia do Feirante, uma homenagem merecida a esses profissionais que mantêm a tradição de um dos ofícios mais antigos da humanidade. “Eles acordam de madrugada para montar as barracas e organizar os alimentos com todo o carinho e ainda têm um sorriso no rosto, além do astral lá em cima, para oferecer aos clientes alimentos frescos e saudáveis”, completa Gusi.
Tudo é fresco
Freguesa há mais de 50 anos, a viúva Ana Maria Munhoz da Rocha, 80 anos, garante que não abre mão dos peixes e camarões vendidos nas feiras pela família de Maçaru Koga, 82 anos. “Conheço seu Maçaru desde o tempo que ele vendia pescados na Praça 19 de Dezembro. Lá já nem tem mais. Toda a família me atende muito bem, tudo é fresco e eles cortam e limpam como eu peço”, conta dona Ana Maria, que normalmente busca os frutos do mar comercializados pelos Koga na feira livre do São Francisco, mas também já os procurou nos pontos da Água Verde e Alto da Glória.
A advogada Aline Jacobs, 27 anos, andava meio sumida das feiras livres, por conta do nascimento de Christopher, de 4 meses. “Tinha que esperar ele ficar maiorzinho”, conta a jovem mãe. Há algumas semanas, no entanto, Aline percebeu que já dava para sair com o primogênito e não pensou duas vezes. “Moro perto da feira, aqui no São Francisco, e queria vir comprar as frutas e verduras e, em especial, comer o pastel que tanto gosto”, conta a advogada, fã dos concorridos salgados fritos na hora por Everton Kulik, 42 anos. Aline afirma que a qualidade e o sabor dos pastéis preparados pelo feirante são imbatíveis. “Sem falar no clima da feira, que é único”, reforça ela, que também já saboreou os salgados vendidos por Everton nas feiras do Centro, Ahú e Alto da Glória.
A aposentada Clélia Regina Pereira, 71 anos, vai à feira sempre que pode e não abre mão das conversas com os vendedores. Na banca da família Schuelong, por exemplo, ela se sente confortável para escolher com mais tempo e até pedir sugestões de alimentos que estão com melhor preço. “Eles são sempre atenciosos, o que me incentiva a comprar mais alimentos frescos para eu mesma preparar. Faz um bem danado para a saúde comer comida mais caseira”, frisa Clélia, enquanto é atendida por Rogério Luiz Schuelong, 49 anos, na banca da família, às quartas-feiras, no Bigorrilho.