“Na mira dos médicos estão os idosos ‘rebeldes’, de até 75 anos”

“Na mira dos médicos estão os idosos ‘rebeldes’, de até 75 anos”

Afirmação é do geriatra Rubens de Fraga Júnior, que explicou, em programa da TV Assembleia, porque os idosos estão entre os grupos mais vulneráveis para a Covid-19

Mais de 70% dos óbitos de Covid-19 no Brasil e no mundo são de idosos. Boa parte, homens. As principais características do perfil mais comum das vítimas da doença. Segundo o Ministério da Saúde, dos mais de 160 mil óbitos pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em decorrência do vírus, a maior parte das vítimas é do sexo masculino e a faixa etária mais acometida é, justamente, entre 70 a 79 anos. E a explicação, segundo o convidado do programa Assembleia Entrevista, da TV Assembleia, Rubens de Fraga Júnior, geriatra e professor de Gerontologia da Universidade Mackenzie do Paraná, está na perda de reservas omeostáticas.

Conforme o especialista, com o envelhecimento, ocorre a queda dessas reservas de equilíbrio do organismo, chamadas de omeostasias. Isso leva a uma menor capacidade funcional do corpo. “Num corpo de 18 anos, a reserva do coração, por exemplo, é de 40% e chega a 50% de reserva renal. O mesmo ocorrendo com o pulmão. Quando se tem 75 anos, essa reserva cai. O coronavírus não afeta apenas o sistema respiratório. Ele leva à inflamação, que pode atacar vários órgãos”, afirmou.

Claro que existe um grupo que o médico costuma chamar de gerontolescentes, idosos que envelhecem bem. Mas os mais frágeis, que têm maior queda nessas reservas são em maior número. Então, eles ficam mais vulneráveis a ter complicações da Covid-19.

Mas é preciso lembrar que pessoas que fumam, bebem e são sedentárias e estressadas têm os percentuais das reservas similares aos de idosos frágeis. Por isso, há um número relativamente alto de vítimas mais jovens que apresentam comorbidades.

A preocupação dos médicos, analisou o geriatra, é maior com os idosos “rebeldes”, entre 60 e 75 anos, que não respeitam as regras de distanciamento social. Os acima de 80 anos têm seguido as orientações. “Eles viveram a gripe espanhola. Têm lembranças ruins da época e não querem que a tragédia se repita, como ocorreu em 1918”.

No entanto, é fundamental, garantiu o médico, que os idosos não adiem a realização de exames. Sempre obedecendo as regras. “A pandemia não pode ser usada como desculpa para não fazer exames preventivos. Tivemos o Outubro Rosa e agora o Novembro Azul que estão aí pra mostrar a importância desses exames. É seguro sair tomando os cuidados de usar a máscara, higienizar as mãos e manter o distanciamento“.

Praticando o desapego

Questionado se já é possível idosos receberem a visita de filhos e netos, o geriatra explicou que, com a queda no número de óbitos e com cuidado, é possível se reencontrar, mesmo que de mais longe, afinal, o contato também é terapêutico.
Pela experiência que adquiriu ao longo dos anos no consultório, Rubens de Fraga Júnior, acredita que os mais velhos são mais resilientes que os mais jovens quando se trata de desapego. “Eles preferem se reinventar que ficar estáticos. Claro que sentem falta dos passeios com filhos, netos. A internet não substitui o contato físico, mas, por incrível que pareça, estão lidando bem com esse novo jeito de conviver”, indica.

Além dos cuidados básicos de distanciamento de um metro e meio, uso de máscaras e higienização das mãos, o médico pontuou que filtrar o que se assiste na TV e reduzir o tempo em frente ao aparelho são importantes para manter a calma. “Assim, se evita a infordemia, o excesso de informação sobre o tema, o que causa ansiedade e estresse”.

Ele também aconselha que os confinados mantenham a rotina de horários e tarefas em casa. Mas que também não deixem de lado uma boa caminhada, desde que se respeite o distanciamento e sempre ao ar livre.

Para se distrair dentro de casa, a ordem é abusar dos trabalhos manuais, jogos que estimulem a atividade cerebral, como a memória. “Os idosos também podem aproveitar para aprender novos jogos e, quem sabe até a tocar um instrumento. Na internet, há muitos cursos. Nunca é tarde para isso. O apoio da família, mesmo que de longe, é fundamental e nós, médicos, com o auxílio da telemedicina, conseguimos assistir nossos pacientes, ainda que não estejamos no mesmo local”, finalizou.

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