Vencedora do concurso Miss Pinhais 2018, Edna dos Santos Sousa tornou-se influenciadora digital no Instagram como ativista em defesa da autoestima feminina e combate à violência contra a mulher
“Miss Preta”. É assim que ela é conhecida nas redes sociais, mais especificamente no Instagram, e em Curitiba e Região, por seu trabalho de ativismo social em defesa do empoderamento feminino, em especial, da mulher afrodescendente. Mas, seu nome é Edna dos Santos Sousa, 26 anos, e, desde que ganhou o título de Miss Pinhais 2018 tem obtido notoriedade em diversas ações de ativismo social e de empoderamento feminino, a exemplo de palestras e eventos em que a promoção da autoestima da mulher é o foco.
“Muito antes de ser miss, já estava atenta a essa questão por perceber que havia essa necessidade da mulher aprender a buscar sua beleza real, verdadeira, em conformidade com suas características pessoais e biotipo únicos. Começou com minhas tias vizinhas que maquiavam as mulheres e eu ficava observando como é importante valorizar a beleza única de cada uma. Comecei a trabalhar com alguns jobs de modelo, a maquiar e a me motivar a ajudar outras mulheres a encontrar a sua beleza própria, muito além dos estereótipos difundidos pela mídia. A imensa maioria não se encaixa nesse padrão de beleza único estereotipado. Então, passei a atuar de forma a incentivar as mulheres a valorizar e realçar sua beleza original, sem ater-se a esse padrão difundido pela mídia. Pois, cada mulher, desde menina, merece ter sua beleza e características próprias realçadas, independentemente de raça, etnia, altura, peso, sem escravização à busca de um modelo único inalcançável para a maioria”, conta Edna, moradora do bairro Vargem Grande.
Um lugar de fala à mulher
O concurso de Miss em 2018, quando conquistou o título de Miss Pinhais, naturalmente, abriu muitas portas, fazendo com que fosse ouvida com mais atenção. “Sou eternamente grata a Pinhais por ter vencido esse concurso. O melhor de tudo é que a conquista da faixa, da coroa, do título, fez com que pudesse ser mais ouvida, encontrasse mais oportunidades para levar minha mensagem. Palestrei em diversas oportunidades, a exemplo da Fundação Weiss Scarpa, em escolas, eventos, ações sociais, falando de preconceito racial, autoestima e empoderamento feminino. Enfim, vencer um concurso de beleza tão importante como o de miss me deu essa credibilidade maior para falar de um assunto que afeta a todas as mulheres. Afinal, toda mulher, ao menos, uma vez na vida, já teve inseguranças quanto a sua aparência, sua beleza, e, por consequência, sofreu com problemas de autoestima e algumas até preconceito e discriminação”, revela.
Beleza afro
Vencer o concurso Miss Pinhais 2018 foi uma surpresa para Edna, pois, não enxergava a própria beleza e chegou a sofrer situações de preconceito racial. “Nunca sonhei em ser miss. Nunca achei que seria possível, pois, me achava feia. As pessoas faziam comentários negativos sobre minha aparência. Inclusive, passei por uma situação muito difícil de discriminação racial de uma proprietária de loja em Curitiba. Prefiro nem contar detalhes porque é muito ruim lembrar. Com o trabalho de modelo, fui despertando para minha própria beleza e veio o convite para participar do concurso. Vencer o Miss Pinhais foi a melhor forma que encontrei de ajudar a empoderar as mulheres. Senti que posso contribuir para mudar a sociedade com minha palavra sendo ouvida. Passei a faixa e sigo em frente no ativismo”, destaca.
Ela conta que o mais legal é conversar com crianças e adolescentes. “Na última palestra que dei, uma menina linda me disse ‘nossa, tia, eu não sabia que havia miss negra. Seu cabelo é tão bonito’. A menina, também afrodescendente, encontrou essa referência em mim. Eu não tive essa referência quando menina”, acrescenta.
Digital influencer
Após a notoriedade obtida pelo título de Miss Pinhais 2018, a vida de Edna mudou bastante. Formada como Técnica em Segurança do Trabalho, atuava como vendedora. Atualmente, é sua própria empresária. Como digital influencer no Instagram, onde conta com mais de 20 mil seguidores, obtém diversos patrocínios de marcas diversas de moda, beleza, e outras, além de jobs (trabalhos), como a participação na Operação Verão em Caiobá, da Rede Massa. “Todo final de semana, estou descendo para o litoral para trabalhar nesse job com a Rede Massa, como promotora, distribuindo brindes, participando das atrações e atividades da Operação Verão”, completa.
Mais respeito às mulheres no Carnaval
Edna já foi 1ª Princesa do Carnaval de Curitiba, em 2019, e lembra que desfila em nove escolas e cinco blocos, e não perderá a oportunidade de levar seu ativismo nas folias do Rei Momo em 2020. “Estou no meu 4° ano no Carnaval aqui. Em 2017, foi o primeiro ano em que desfilei como passista da Acadêmicos da Realeza. Já em 2018, fui 2ª Princesa do Carnaval de Curitiba e em 2019 fui 1ª princesa. No próximo dia 06 irei competir para ser a rainha do Carnaval de Curitiba. Gosto muito do carnaval e quero levantar a bandeira de que é preciso respeitar as mulheres durante essa festa independentemente da roupa que elas estejam usando. É preciso mudar essa ideia de que ‘mulher pelada’ é objeto sexual. A passista de uma escola de samba, por exemplo, deve ser vista como sinônimo de elegância, beleza, cultura e arte. O corpo exposto deve ser visto como parte da obra de arte, do samba-enredo, do desfile. É esse tipo de ideia que precisa ser difundida, assim como qualquer mulher no carnaval deve ser respeitada, mesmo que esteja com roupas mínimas. Hoje, sou respeitada nas escolas de samba. Sou vista como a ativista, a feminista, me chamam dessa forma. E quero que todas as mulheres sejam respeitadas dessa forma no carnaval”, salienta.
Violência contra a mulher
Inclusive, a luta contra a violência à mulher é outra de suas bandeiras. Cerca de cinco meses atrás, passou por um episódio de importunação sexual no terminal de ônibus de Pinhais que a levou a registrar um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia Civil do município. “A pretexto de fazer uma pesquisa de satisfação, um homem, de boa aparência, me abordou. Quando conversava com ele, me mostrou um vídeo em seu celular em que ele próprio praticava gesto obsceno. Levei o caso à polícia, registrei B. O, mas este caso foi considerado apenas injúria. Os guardas municipais conseguiram localizá-lo. Verificaram que se trata de uma pessoa que trabalha no próprio terminal, sendo proprietário de um comércio. Meu advogado não considera satisfatória a tipificação como injúria. Pois, foi importunação sexual. A tipificação influi nas penalidades impostas. Então, é importante que as delegacias estejam preparadas para a tipificação mais adequada e que as mulheres sempre denunciem casos semelhantes. Essa é mais uma bandeira que levanto em minhas palestras e no Instagram. Mulheres, não se calem, não tenham vergonha de denunciar. É preciso mudar essa cultura de menosprezar o que as mulheres passam em situações assim. No terminal, fiquei assustada, gritei e ninguém me ajudou. Mas, não deixei de ir à polícia registrar e pedir punição”, enfatiza.