Em recente viagem a Nova Iorque, os ministros do STF (e TSE) foram alvos de persistentes protestos e manifestações de bolsonaristas indignados com a atuação dos magistrados durante a campanha eleitoral, em especial. Em uma dessas ocasiões, o ministro Luís Roberto Barroso foi abordado na rua por um manifestante que o questionava sobre o código-fonte não revelado aos militares para a auditoria das urnas eletrônicas. Sem a mínima paciência e compostura para responder ao manifestante, Barroso soltou uma resposta que tem dado muito o que falar: ”Perdeu, mané. Não amola”.
Vulgaridade na linguagem
A reação, bastante tosca e vulgar para um magistrado, só ganhou elogios da esquerda, que saiu postando nas redes sociais que seria a “frase do século” e que deveria passar a constar nos livros de História como exemplo a seguir de reação adequada a qualquer manifestação de bolsonaristas. Contudo, a resposta do ministro choca pelo nível de vulgaridade com que uma autoridade pública reage diante de um questionamento legítimo sobre as urnas eletrônicas. Barroso muniu-se de uma expressão que se popularizou no Rio de Janeiro a partir de seu uso por assaltantes ao abordarem suas vítimas. ”Perdeu, mané”, é o que a vítima costuma ouvir do bandido quando é assaltada. A frase popularizou-se em diversos contextos, mas, tem sua origem na linguagem própria da bandidagem.
Máscaras
Quando vemos um magistrado representante da mais alta corte do país perder a compostura, sem a mínima preocupação com a liturgia do cargo público que ocupa, é porque realmente sua máscara caiu após o resultado das eleições. O manifestante, conforme vídeo gravado, não havia sido grosseiro ou ofensivo com o ministro. Apenas, questionava sobre o código-fonte das urnas eletrônicas. Mas, o magistrado, sem a mínima boa vontade em dar explicações, demonstrou que não está nem aí em dar alguma satisfação ao eleitorado sobre a falta de transparência sobre o funcionamento das urnas eletrônicas.
Seria, esta grotesca reação, uma forma de expressar de que lado o ministro está nesta acirrada polarização política no país? Acredito que a resposta de Barroso foi realmente uma espécie de “ato falho”, uma confissão involuntária, espontânea, de que ele se sente do lado dos vencedores da eleição, evidentemente. “Perdeu, mané”, a gente diz a quem não está do nosso lado, a quem disputa conosco por um objetivo diferente.
Isenção de magistrados
Entretanto, além do chocante pela própria vulgaridade da linguagem adotada, mais chocante, ainda, é verificar um magistrado tomando partido em disputas políticas. Onde está a isenção do ministro quando se trata de política, principalmente, em uma disputa eleitoral? É de conhecimento público que juízes devem adotar posturas absolutamente imparciais mesmo em situações para além das ações que julgam. Uma postura de sobriedade, discreta, isenta, comedida e imparcial é o mínimo que se espera de juízes em qualquer lugar do mundo quando em situações públicas.
Liturgia e sobriedade
Nos EUA, por exemplo, não se vê juízes palpitando em redes sociais ou para a imprensa sobre política, eleições, ou quaisquer outros temas polêmicos. Não se vê juízes dando palestras, pitacos na imprensa, ou entrevistas. Tudo para preservar a postura de isenção e distanciamento de opiniões pessoais, a fim de não comprometerem a objetividade de suas decisões judiciais. Pelo menos, busca-se passar essa imagem de respeito e responsabilidade diante do cargo que ocupam.
Mas, aqui no Brasil, tal postura condizente ao cargo não se vê. Isso para não falarmos dos julgamentos e decisões arbitrárias e ideológicas em tantos momentos da nossa mais alta corte judicial do país, em que viu-se magistrados empenhados em favorecer partidos e políticos sem embasamento jurídico algum. Bem como prejudicar o presidente Bolsonaro em decisões judiciais de clara motivação política.
Esquerda muito à vontade
Sem causar nenhuma surpresa, a frase do Barroso, não demorou muito, foi repetida pelo senador de esquerda, da REDE, Randolfe Rodrigues, ao ser abordado por uma bolsonarista no aeroporto. O senador é declarado opositor do governo Bolsonaro, porém, poderia ter reagido de forma mais elegante e sóbria diante dos protestos da manifestante. Mas, o que tem se tornado evidente, após anunciado o resultado das eleições, é o descaramento e falta de compostura de alguns detentores de cargos públicos em demonstrarem que estão se sentindo “donos do pedaço”.
Possivelmente, a esquerda já se sente “dona do Brasil”, ”dona do poder”, novamente. E a sensação é a de que transmitem a certeza de que “daqui, ninguém nos tira mais”. A julgar pela forma com que passaram a tratar o povo que não vota na esquerda após as eleições. Demonstram esquecer que têm de governar para todos, devendo satisfações a todo o povo brasileiro e, não, apenas, a quem vota na esquerda.