sexta-feira, 20 de setembro de 2024
Mídias sociais exageram em suas políticas de violação de regras, mas, liberdade de expressão também tem limites

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Mídias sociais exageram em suas políticas de violação de regras, mas, liberdade de expressão também tem limites

O governo Bolsonaro está estudando um decreto para limitar a exclusão de conteúdos das mídias sociais como, YouTube, Instagram, Facebook e outras. A partir do decreto, tornaria-se mais difícil para as empresas de mídias sociais excluírem posts considerados ofensivos ou fake news, pois, determinadas exclusões não seriam automáticas, ficando a cargo de decisões judiciais. Há exceções para a limitação, a exemplo de violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente e questões de violações a imagem, privacidade e direitos autorais, entre outras, que continuariam sendo excluídas mediante decisão das empresas.

RESTRIÇÕES

Num primeiro momento, a proposta do decreto parece ser boa, afinal, as redes sociais têm se tornado insuportáveis com suas políticas de uso cada vez mais restritas, tornando-se raro o usuário que nunca tenha sido punido com alguma retirada de post, e restrições ao acesso por 24 horas ou mais, no mínimo.Qualquer uso de palavra considerada ofensiva pelas empresas já dá motivos para o banimento. No YouTube, produtores de conteúdo precisam tomar todo cuidado para não terem seus vídeos desmonetizados a partir do mero uso de uma palavra ou outra “inapropriada”. A palavra “coronavirus”, por exemplo, já não pode ser mencionada por qualquer produtor de conteúdo aleatório, sob pena de desmonetização. Neste caso, em específico, o objetivo parece ser evitar a propagação de fake news sobre a pandemia.

AGENDA IDEOLÓGICA

O fato é que essas plataformas de mídias sociais são, sabidamente, dirigidas por progressistas como o próprio Mark Zucckerberg falou de sua equipe. Então, a propagação da agenda progressista de esquerda é a bússola a definir os critérios. Porém, não são apenas conteúdos de direita que estão sendo banidos. No ano passado, muitos perfis de extrema esquerda também o foram, conforme noticiou o jornal The Intercept. Logo se conclui que quem não se adaptar a agenda ideológica dita moderada da esquerda progressista, com toda sua cartilha politicamente correta, termina por ser punido ou até banido dessas plataformas.Lamentavelmente, a proposta inicial das redes sociais, que ao menos, pareciam se constituir em espaços democráticos para o debate público tem se transformado em uma utopia. E o pior de tudo é que não há muita transparência e clareza para o banimento. Os checadores de fatos do Facebook, normalmente, buscam esclarecer os motivos da retirada de determinados posts, por conterem inverdades ou meias-verdades. Contudo, o banimento do Facebook tem se dado até mesmo por uso de determinadas palavras consideradas ofensivas, sendo classificadas subjetivamente como “discurso de ódio”, mesmo que o conteúdo seja contrário ao discurso de ódio, mas, desde que se use tais palavras, ou o modo irônico, a plataforma não considera aceitável.

CONTRADIÇÃO

Creio que dificilmente o suposto decreto venha a entrar em vigor, muito embora, o próprio presidente Bolsonaro já tenha comentado publicamente em evento no Planalto que pretende elaborar algo nesse sentido.Porém, se aprovado, só complicará mais a situação, com as empresas tendo de recorrer ao Poder Judiciário diante de cada post a ser banido. Inviável, na prática, atravancar mais ainda o Judiciário com tantos processos. Além do fato de se tratarem de empresas privadas, que têm todo o direito de estabelecer as regras e políticas que bem quiserem para seus usuários. O Estado não deve ter essa prerrogativa de interferir na iniciativa privada. Logo o governo Bolsonaro que foi eleito para defender políticas liberais na economia, onde o Estado deve interferir o mínimo possível nas atividades das empresas privadas? Sem dúvidas, uma contradição incompreensível…

POSSÍVEL DECRETO

Mas, o ponto fundamental é a especulação em torno do que estaria por detrás desse possível decreto ainda obscuro.Especula-se que o Governo Federal quer, realmente, garantir a liberdade de propagação de fake news sobre política, ideologias e especialmente, sobre a pandemia. Assim, posts e perfis dedicados, por exemplo, a propagação de medicamentos e tratamentos ineficazes contra a Covid-19 estariam liberados.

BOM SENSO

Em tempos de pandemia, disseminar fake news contra a vacinação, o uso de máscaras e a favor de medicamentos duvidosos é um verdadeiro crime contra a saúde pública.Liberdade de expressão deve ser defendida, sempre, em nações democráticas. Mas, para tudo há limitações e responsabilizações. Pois, durante uma pandemia, fake news sobre Covid-19 costumam matar muitos. Quantos já morreram de Covid-19 por acreditarem que o uso de máscaras faz mal a saúde, que a Covid-19 é só uma “gripezinha” ou “que não morreram tudo isso de Covid-19, não”, como tantos repetem por aí? Realmente, o bom senso precisa ser adotado quando se trata de limitar a liberdade de expressão. Tanto as mídias sociais andam exagerando nas restrições e banimentos como tanto parece que o governo anda exagerando na defesa da liberdade de expressão.

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