Quando observamos filmes antigos, podemos notar que muitas tecnologias então consideradas impossíveis se tornaram comuns nos dias de hoje. Assim, talvez aconteça com o metaverso, que, a princípio, tem esse apelo de ficção científica. O termo vem do romance de ficção científica “Snow Crash”, lançado em 1992, por Neal Stephenson. O enredo se passa na interligação entre o mundo real com o virtual. No primeiro, o protagonista é um rapaz comum, no segundo, o metaverso, ele se torna um prestigiado hacker samurai e tem outra vida totalmente diferente.
A proposta de Stephenson foi mostrar que o metaverso é um ambiente digital imersivo, onde os humanos podem interagir entre si, por meio da utilização de plataformas, softwares e avatares. Em 2011, o metaverso, o termo voltou a ser mencionado no livro “Ready Player One”, que virou filme dirigido por Steven Spielberg, em 2018. E o termo ganhou força para definir esse universo de realidade virtual. No metaverso, é possível ir a qualquer lugar, fazer qualquer coisa e até ser uma pessoa diferente. Em termos práticos, seria uma convergência de realidade física, aumentada e virtual em um espaço on-line compartilhado.
Podemos dizer que essa estrutura funciona como uma nova forma de consumo e de conexão digital entre as pessoas, com a fundamental diferença de que será possível avançar para além do patamar 3D em que nos encontramos hoje em termos de realidade virtual.
Soa estranho? Nem tanto. Hoje, onde alguns dos aspectos mais importantes de nossas vidas, incluindo nosso trabalho, estão sendo vividos e realizados dentro de espaços virtuais. A construção do metaverso será o resultado de recursos que já conhecemos, como realidade virtual e realidade aumentada e que estão presentes em diferentes plataformas de computação, como PCs, dispositivos móveis e consoles de jogos.
Imagine as atuais reuniões que fazemos on-line desde que a pandemia de Covid-19 teve início. A maioria de nós enxerga nossos interlocutores por um único ângulo na tela do computador. Porém, embora não seja usual, hoje é possível até mesmo participar de reuniões virtualmente por meio de um holograma. No metaverso, essa experiência vai além. Nosso avatar poderá circular por diferentes ambientes e não apenas permanecer em uma sala onde todos os participantes estão juntos. Um mundo virtual completo poderá ser acessado por nosso avatar.
Para isso, empresas de todos os setores precisarão dar o primeiro passo e construir essa estrutura virtual. E se você pensa que isso está distante da nossa realidade, saiba que uma das maiores redes varejistas do mundo já fez isso.
Isso significa que condições extras precisam ser satisfeitas. E, consequentemente, as empresas terão que projetar marcas para atender essa nova diversidade. E, inclusive, pensar em negócios que ainda não existem. De onde vem outro ponto importante. O impacto nos negócios.
Para entender os reflexos que o metaverso pode trazer para os negócios é necessário, antes, pensar nas possibilidades que os usuários terão diante de si. E isso vai muito além do mencionado e-commerce.
Por exemplo, no mundo do trabalho, a pandemia nos mostrou que é possível contratar talentos que vivem a quilômetros de distância da sede da empresa. Isso funciona como um jogo de dominós, cuidadosamente enfileirado. O que acontece quando se empurra a primeira peça? As demais são afetadas.
Então, as pessoas poderão escolher morar longe dos grandes centros em receio de não encontrar trabalho. Na verdade, novas ocupações serão criadas. E um mundo inteiro de possibilidades de estudos, de recreação e lazer se abre à nossa frente.
Sendo mais claro ainda: se hoje as empresas estão obrigatoriamente presentes em sites na internet, elas precisarão se reposicionar mercadologicamente no metaverso. Só que para isso os custos mudarão.
O que temos de concreto até o momento é que uma vez definido um sistema econômico funcional, o metaverso estará em posição de impulsionar um crescimento significativo em todos os setores.
Há quem afirme que desenvolver o metaverso será o maior desafio tecnológico que nossa indústria enfrentará na próxima década. Temos hoje alguns elementos necessários para entrar no metaverso, como a própria internet, os fones de ouvido e os óculos de realidade virtual. Certamente eles precisarão passar por uma evolução. E ninguém garante que continuem sendo necessários no futuro.
Está claro que serão necessários grandes investimentos em ferramentas tecnológicas, em hardware e em software, para que o metaverso exista. Além disso, os desenvolvedores precisarão estabelecer acordos bilaterais ou multilaterais de compartilhamento de dados para melhorar a integridade da experiência do consumidor.
Além das questões tecnológicas, desafios de ordem moral, social, econômica e jurídica se levantam. A primeira pergunta é a seguinte: quem irá moderar ou governar o espaço virtual e até onde vai a interferência no senso compartilhado de realidade.
Já sabemos que a inovação resulta do contínuo investimento em tecnologia, e do trabalho produzido por algumas das mentes mais inteligentes do mundo se unindo para resolver problemas que antes eram considerados impossíveis de resolver.
Thammy Marcato é sócia-diretora de inovação e transformação da KPMG no Brasil e Co-founder da Leap