Com a pandemia do coronavírus, a máscara de proteção virou item indispensável, sendo procurada e utilizada no mundo todo. O seu uso, porém, se iniciou muito antes do que se imagina.
Se analisarmos o momento histórico em que essa peça começou a fazer parte da vida das pessoas, remonta pelo menos ao século 6 a.C. Em tumbas persas, foram encontradas imagens de pessoas cobrindo a boca com panos.
Ainda era um processo em que o acessório tinha função mais de vestuário do que protetiva. O reconhecimento do uso de máscaras para proteger as vias respiratórias de trabalhadores veio depois. Plínio (79-23 a.C.) citava o emprego de bexiga animal como cobertura das vias respiratórias sem vedação facial com o intuito de proteger contra a inalação do óxido de chumbo nos trabalhos dentro das minas. Outros autores de antes de Cristo também aludiam o uso de respiradores feitos com bexiga de animais para serem usadas por mineiros.
O surgimento da máscara médica, porém, foi relatado no século 14, período em que a peste negra chegou à Europa e provocou a morte de mais 25 milhões de pessoas, entre 1347 e 1351.
Naquela época, os estudiosos acreditavam que a doença se espalhava por meio do ar envenenado, gerando um desequilíbrio nos fluidos corporais das pessoas contaminadas. Eles tentavam se proteger cobrindo o rosto. A imagem marcante da peste, aquela sinistra máscara com bico de pássaro, só foi aparecer muito tempo depois, em meados do século 17.
Em seu tempo, Leonardo da Vinci (1452-1519) recomendava o uso de um pano molhado contra agentes químicos.
Na fase mais vigorosa da Revolução Industrial, entre 1800 a 1850, começou-se a fazer diferença entre os contaminantes particulados e gasosos, anteriormente reconhecidos somente como “poeira”. Nesse quesito, pode-se dizer que o desenvolvimento mais significativo dos últimos séculos provavelmente foi a descoberta, em 1854, da capacidade do carvão ativo de remover vapores orgânicos e gases do ar contaminado. Nessa época, E.M. Shaw e o físico Jonh Tyndall inventaram o “filtro contra fumaça” para bombeiros, que tinha uma camada de algodão seco para proteger contra particulados, cal sodada contra o gás carbônico e carvão ativo contra outros gases e vapores.
Os avanços mais rápidos relacionados a medidas de proteção respiratória aconteceram, principalmente, durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), com o advento das máscaras de uso militar.
Os alemães desenvolveram aerossóis altamente tóxicos no campo de batalha, forçando à criação de filtros altamente eficientes contra particulados. Um desses filtros foi desenvolvido em 1930 por Hansen e usava lã animal impregnada de resina, com eficiência em torno de 99,99%. Atualmente, os filtros contra aerossóis utilizam fibras mais baratas, de mais fácil obtenção, com baixa resistência à respiração e com boas propriedades contra o entupimento superficial.
No fim da Primeira Guerra Mundial, a gripe espanhola se tornou uma pandemia global extremamente avassaladora, que vitimou 50 milhões de pessoas. Acredita-se que a propagação do vírus tenha sido impulsionada pela volta dos soldados, que retornavam das trincheiras. A publicação britânica “Nursing Times”, de 1918, divulgou que as freiras da St. Marylebone Infirmary, em Londres, levantaram divisórias desinfetadas entre cada cama dos pacientes. Outra medida adotada era que “cada enfermeira, médico, babá ou assistente” no local tinha que usar uma máscara para se proteger. As pessoas comuns também foram estimuladas a usar máscara. Muitas as improvisaram com gaze ou adicionavam gotas de desinfetante a engenhocas adaptadas embaixo do nariz.
Com relação às máscaras de proteção mais adaptadas ao cenário atual de Covid-19, temos estudos comprovando a maior eficácia dos modelos N95, que se tornaram simbólicas desse período. Ajustado adequadamente ao rosto, o objeto é capaz de filtrar 95% das partículas transportadas pelo ar, como vírus, o que outros apetrechos de proteção não conseguem. Seu uso começou nos idos de 1910.
Contudo, as primeiras máscaras cirúrgicas começaram a ser utilizadas por médicos em 1897. Consistiam em um lenço amarrado ao redor do rosto, mas não foram projetadas para filtrar doenças transmitidas pelo ar. Eram mais usadas para impedir que os médicos tossissem ou espirrassem gotículas nas feridas durante a cirurgia. E assim se seguiram novas possibilidades, mais seguras e efetivas, que nos protegem até hoje.
J.A.Puppio é empresário e autor do livro “Impossível é o que não se tentou”
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