por José Pires
A afirmação foi feita pela psiquiatra da Rede de Saúde Mental de Pinhais, Dra. Maria Cecília Beltrame, durante evento educativo realizado na cidade.
Com o tema “Liberdade é poder escolher! Escolha a vida e não as drogas”, Pinhais realizou, entre 11 e 15 de junho, a IX Semana Municipal de Prevenção ao Uso Indevido de Drogas. Ação coordenada pelas Secretarias Municipais de Saúde; Educação; Assistência Social; Cultura, Esporte e Lazer e Conselho Municipal Antidrogas.
Trabalho de prevenção
Evento realizado desde 2009, nesta edição, a Semana Antidrogas contou com rodas de conversa e oficinas, todas coordenadas pela Rede de Saúde Mental de Pinhais, como destaca a gerente Ivanilde Gonçalves do Nascimento. “Uma comissão formada por servidores de diversas Secretarias do Município e outros órgãos é responsável pelo evento e definição do tema de cada Semana. A programação deste ano foi bem extensa, tendo como objetivo intensificar a prevenção ao uso indevido de drogas. Já trabalhamos com a prevenção das drogas em nossa rede de atendimento, como por exemplo nos Caps AD, escolas e também com a população em geral. Agora, nesta edição, estamos atuando intensivamente nas escolas, tanto as municipais quanto as estaduais. Assim realizamos trabalhos por meio de oficinas com crianças e adolescentes, focando na prevenção. Outro público alvo desta Semana foram os servidores municipais, porque muitos deles trabalham diretamente com crianças e adolescentes, por isso precisam ser capacitados”, ressaltou.
Em entrevista concedida ao jornal A Gazeta Cidade de Pinhais, durante uma roda de conversa com os servidores municipais no Cenforpe II, no dia 12, terça-feira, a Dra. Maria Cecília Beltrame, psiquiatra da cidade, destacou a importância do evento, assim como a necessidade dos profissionais de saúde, educação e assistência social, além das famílias, terem conhecimento do problema para poder identificar sinais de que crianças e adolescentes estão fazendo uso indevido de drogas, entre outros temas relativos ao uso de ilícitos. Confira!
A Gazeta Cidade de Pinhais: A roda de conversa de hoje é voltada aos servidores municipais. o que um profissional que trabalha diretamente com crianças e adolescentes precisa saber sobre prevenção ao uso indevido de drogas?
Dra. Maria Cecília: É importante perceber alguns fatores que deixam os adolescentes mais propensos e vulneráveis ao uso indevido de drogas. Essas características vão desde a busca pela aceitação em grupos, autoafirmação, fuga de problemas, ambiente familiar, predisposição genética, entre outros. Os profissionais que trabalham com crianças e adolescentes precisam perceber alguns “sinais de alerta” que podem significar que este jovem está fazendo uso de drogas.
A Gazeta: E quais seriam esses sinais? Eles servem também para as famílias?
Dra. Maria Cecília: Mudança de comportamento e de amigos. As crianças e adolescentes ficam mais hostis. Mudam radicalmente as amizades e começam a conviver com outros jovens de perfil bem diferente. Têm inicio as saídas que não estavam previstas ou autorizadas pelos responsáveis. Começam também os conflitos com familiares, seja com o pai, mãe, irmãos e demais membros. O baixo rendimento escolar também pode ser um aviso de que algo está errado.
A Gazeta: Existe um momento certo em que os pais devem buscar ajuda profissional para os filhos que estão fazendo uso de drogas?
Dra. Maria Cecília: Quando a família percebe que a criança ou adolescente fez uso de entorpecentes, é preciso primeiro entender se foi um uso motivado pelo grupo, fruto da influência do meio, ou se tem um problema de saúde mental que pode se agravar com o uso de substâncias ilícitas. Porém, é importante observar se o jovem já se encontra em um estado de dependência. Todos esses fatores precisam ser levados em conta para a busca de ajuda profissional.
A Gazeta: A repressão, muitas vezes por meio de agressão física, é usada por alguns pais na tentativa de coibir que os filhos façam uso indevido de drogas. A seu ver, que efeitos esse tipo de atitude pode ocasionar?
Dra. Maria Cecília: Quanto mais o adolescente for confrontado, menos ele estará aberto para receber ajuda. Assim, quanto mais punitivo o pai for, menos ele vai conseguir informações que possam ajudar seu filho. E, geralmente, o perfil do usuário de drogas, tanto do adolescente quanto do pai, é por demais autoritário ou muito permissivo.
A Gazeta: É mais fácil para o profissional de saúde, educação ou assistência social alertar sobre os prejuízos do uso de substâncias ilegais, como maconha, cocaína e outras, ou alertar sobre as drogas legalizadas, como o cigarro e o álcool?
Dr. Maria Cecília: Eu diria que o perfil do adolescente de hoje é mais para o uso de maconha. É claro que muitos fazem uso abusivo de cigarro e álcool, mas a maconha é o que mais atrai os adolescentes. É, sim, mais difícil pra eles entenderem os malefícios causados pelas bebidas alcóolicas, mas a tendência é de uma procura maior pela maconha. Então, por isso, existe a necessidade de ações preventivas, como essa organizada pela Prefeitura de Pinhais.
A Gazeta: Que importância um avento como a Semana Municipal de Prevenção ao Uso Indevido de Drogas tem?
Dra. Maria Cecília: Esse evento tevm uma importância enorme. Ele serve, no mínimo, para sensibilizar a população para esse tema que, hoje em dia, envolve não apenas a Secretaria de Saúde, mas também Educação e Assistência Social. Todos nós temos um papel preventivo ou de rápida identificação do jovem que está fazendo uso de ilícitos. Podemos e devemos fazer algo pra ajudar a mudar essa realidade.