por Carlos Sandrini
O repasse de conteúdo acadêmico é o axioma da maioria dos cursos de ensino superior no Brasil de hoje. Costurar as palavras desse modo pode soar não apenas uma postura exorbitante, como também um pouco duvidosa. O fato é que a imagem de alunos como seres passivos e professores como entidades máximas dentro de sala de aula é uma cena que vem sendo alvo de um processo de desconstrução – ao menos para as instituições preocupadas em inovar.
Um rápido exercício deixa isso à mostra: pense em reduzir o tempo de conhecimento recebido de maneira passiva em sala. Seria impossível não chegar à diminuição drástica da duração dos cursos a partir dessa percepção. Na contramão dessa estrutura formatada de ensino, o advento da internet convida, há séculos, as pessoas a desbravarem múltiplas fontes de conteúdo para saciar a sede de conhecimento.
Chega a ser injusto comparar tamanha diversidade de informações à bagagem que o professor pode transmitir durante a aula. Isso sem falar na possibilidade de acessar os dados sem restrições de tempo ou espaço. Engana-se quem pensa, porém, que a função do docente se torna dispensável diante disso. Ao contrário, ela precisa ser revisitada para passar por reformulações constantes.
Hoje, melhor designado como mentor, o professor deve, de uma vez por todas, abraçar a interatividade e a responsabilidade pelo aprendizado dos alunos. É dele a incumbência de criar um ambiente propício à evolução dos pupilos, os provocando a pensar criticamente em todos os aspectos. Os deixando inquietos. Com isso, espera-se que o aluno vá para a aula preparado, com conteúdos já previamente assimilados. Na presença do professor e dos colegas, ele terá, então, a oportunidade de ir além, debatendo, tirando dúvidas e construindo projetos sobre os temas. O direcionamento partirá do mentor e, justamente por isso, são tão decisivas a atuação que ele possui no mercado e a relação que cultiva com a área que ministra. Um campo de estudo que lança mão desse método há bastante tempo é o da saúde.
Nos cursos de medicina, por exemplo, os alunos mergulham na prática desde os primeiros anos, sempre sob orientação de mestres atuantes. A pesquisa, por sua vez, fica a critério do aluno e é, por isso, desenvolvida além do período de aula, com ou sem o auxílio dos avanços digitais. Atualmente, novas demandas profissionais surgem em uma rapidez sem precedentes e, atender a esses anseios com eficiência significa apostar não apenas em capacitações mais enxutas, mas que esbanjam, de fato, qualidade. Nesse momento a importância do papel dos mentores é, mais uma vez, retomada. E o brilhantismo na área também corresponde à capacidade do docente extrair, de cada aluno, todo potencial a fim de prepará-lo para travar as batalhas que escolher.
Vale lembrar que, sozinho, o professor pode até tentar inserir essa abordagem, mas a assertividade da tentativa fica a cargo da instituição, que precisa abarcar, em sua política, a inovação. Por essas razões, até mesmo os perfis dos cursos ofertados no país têm mudado, com um destaque especial para os segmentos da hospitalidade e da economia criativa. É essa última área, por exemplo, que abrange o design, o cinema, a música, a fotografia, a gastronomia, as mídias digitais, o marketing e a publicidade, entre muitas outras. É ela também a que mais emprega e remunera em todo o mundo, se revelando cada vez mais capaz de provocar transformações mais rápidas e positivas na sociedade. Não raro os cursos deste nicho exijam tanta rapidez, inovação, inspiração e inquietude de seus mentores, que precisam sempre se antecipar às tendências de mercado. As mudanças não param de acontecer e nós precisamos sempre caminhar de mãos dadas com elas.
Carlos Sandrini
Especialista em educação. É fundador e presidente do Centro Europeu (www.centroeuropeu.com.br), uma das principais escolas de profissões e idiomas do mundo.