Imprensa manipula opinião pública com especulações sobre investigação sigilosa do caso Marielle
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Imprensa manipula opinião pública com especulações sobre investigação sigilosa do caso Marielle

Durante a semana, o caso Marielle voltou ao debate público devido a uma suposta delação do ex-sargento da PM, acusado de matar a vereadora, e que está preso, Ronnie Lessa. Na delação, Lessa teria dito que o mandante da execução de Marielle seria o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) e ex-deputado estadual Domingos Brazão.

A notícia deixou satisfeitos os bolsonaristas. Brazão é um ex-deputado que, supostamente, não estaria ligado a Jair Bolsonaro, derrubando-se, assim, as frequentes desconfianças da esquerda de que o ex-presidente estaria envolvido no crime, mais, precisamente, que seria o mandante.

Funesta “torcida”

Porém, o que está ocorrendo é uma funesta “torcida”, entre direita e esquerda, para que o mandante da execução de Marielle pertença ao lado político do adversário. Obviamente, quase ninguém está preocupado com justiça, de fato, mas, em fazer uso político da morte da vereadora por mais algum tempo. Como se não bastassem o uso que se fez nos últimos anos, desde sua morte em março de 2018. Para a esquerda, há uma tentativa de relacionar Brazão a Bolsonaro, recorrendo-se ao argumento da concessão de passaporte diplomático a família de Brazão durante seu governo, bem como ao argumento de que o delatado teria apoiado a eleição do ex-presidente em 2018.

Meras especulações

Os bolsonaristas não deixam por menos, buscando associar Brazão ao petismo, a partir de referências ao apoio do ex-deputado a eleição de Dilma em 2010. Alguém sensato diria, diante dessa “torcida” macabra para que o lado adversário seja o responsável pela morte de Marielle: ”E, daí, se Brazão apoiou Dilma, em 2010? E, daí, se Brazão apoiou Bolsonaro em 2018?” Essas informações não têm significado algum, desvinculadas de outros fatos.

Trivialidades

Ter apoiado um ou outro candidato em eleições passadas é, em si, mesmo, um dado trivial, sujeito a circunstâncias do momento eleitoral e, não, necessariamente, representaria vínculos consistentes com o petismo ou bolsonarismo. Até, Bolsonaro, também já afirmou ter votado em Lula. E quantos eleitores bolsonaristas já não teriam votado no PT, em eleições anteriores? Enfim, há uma troca mútua de acusações entre direita e esquerda como se Brazão tivesse que, necessariamente, estar vinculado ao bolsonarismo ou petismo. Para decepção de muitos, Brazão é um político típico do Centrão, não vinculado a defesa de ideologias.

Delação não confirmada

Entretanto, uma delação precisa ser homologada pelo Poder Judiciário. A suposta delação de Lessa não teria sido homologada ainda pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Diante de todo o estardalhaço na mídia após a publicação do The Intercept sobre a suposta delação, a Polícia Federal emitiu nota sem confirmar a delação, tendo afirmado, apenas, que só houve uma delação homologada pela justiça, até o momento. Sem citar nomes, a PF referiu-se a delação, em outubro passado, de Élcio de Queiroz, outro ex-policial militar acusado e que confessou co-participação no crime. Curiosamente, o nome de Brazão também foi citado por Élcio de Queiroz…

Alegação de inocência

Mas, é claro, o conselheiro do TCE-RJ, Domingos Brazão, nega qualquer envolvimento no crime. Inclusive, nega ter conhecido Marielle. Todavia, a mera alegação de inocência não torna ninguém inocente. Aliás, é duvidosa a afirmação de não ter conhecido Marielle, sendo ela uma política do Rio.

Ampla defesa

Contudo, mais intrigante, ainda, é o espaço que a imprensa tem dado para a autodefesa e autopromoção de Brazão. O ex-deputado tem concedido entrevistas em veículos de imprensa variados, sempre obtendo amplo espaço para sua defesa pessoal. Há um perceptível viés da maioria dos veículos em levar a opinião pública a desacreditar na seriedade da delação de Ronnie Lessa. O próprio advogado de Lessa negou, ao falar com a imprensa, ter conhecimento da delação. Porém, se esta delação realmente aconteceu, deve ser provada. As investigações só consideram as delações em que é possível a obtenção de provas. Ronnie Lessa seria estúpido o suficiente para fazer uma grave acusação sem provas, prejudicando, assim, sua situação perante a justiça? Brazão diz que Lessa o acusa falsamente para proteger outra pessoa, para confundir as investigações. A imprensa “dá cartaz” a essa hipótese como se quisesse participar das investigações atropelando a PF, plantando dúvidas perante a opinião pública. Porém, tem atrapalhado o sigiloso trabalho da Polícia Federal com especulações feitas para confundir e acirrar a polarização política.

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