Fanatismo político-ideológico é um dos grandes entraves à maturidade do eleitorado brasileiro
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Fanatismo político-ideológico é um dos grandes entraves à maturidade do eleitorado brasileiro

Com a polarização política no país, têm se tornado notórias expressões de opiniões e análises entre a população brasileira que revelam características de puro e explícito fanatismo político-ideológico. Tanto à direita ou à esquerda do espectro ideológico, tem sido possível encontrar pessoas que demonstram estarem completamente “cegas” à realidade dos fatos, tornando-se impossível manter algum debate civilizado e racional com elas. O fanatismo, que, outrora, era muito mais relacionado a crenças religiosas, tem ganhado contornos cada vez mais próximos, também, a motivações político-ideológicas. O que é lamentável para a vida política nacional tal passionalidade e parcialidade na análise dos fatos, empobrecendo o debate e limitando a percepção da realidade de uma forma muito preocupante.

 

“Bem” x “mal”

Uma das características desse tipo de ponto de vista tomado pelo fanatismo é uma percepção da realidade bastante infantilizada, baseada na dicotomia entre “bem” e “mal”. Quem está comigo, compartilha das minhas opiniões, e defende os políticos do “meu” lado, pertenceria ao “bem”. Quem não está, pertenceria ao “mal”. Esse é o entendimento simplista básico predominante em mentes convertidas a determinada ideologia. É um comportamento muito semelhante ao fanatismo religioso, onde seus adeptos seguem um ideário unificado, com opiniões, bandeiras e posturas aderidas em bloco, sem a permissão para questionamentos mais aprofundados. O comportamento de “seguidores de seita” também é muito perceptível. Todos repetem frases feitas e chavões em coro uníssono, como bordões que se pretendem passar por argumentos. E quem discordar dessas ideias e comportamentos, por mais pontuais que sejam tais discordâncias, torna-se um “inimigo”, um “traidor”, muito provavelmente passando a ser perseguido, esculachado publicamente, tendo sua imagem pública e reputação atingidas ou até mesmo destruídas.

 

Fanatismo divide o país

Considero muito triste que parte expressiva do povo braseiro tenha se tornado fanática ideológica, não importando se de esquerda ou de direita. Pois, é esse fanatismo que tem dividido o país de forma primitiva, autoritária e agressiva. E o pior, ofuscando, “cegando” completamente a percepção da realidade. Empobrecendo o debate e limitando barbaramente a capacidade de raciocínio. O fanatismo político-ideológico representa a morte de todo senso crítico. Ainda falta a essa parcela do povo brasileiro a maturidade para perceber que ter votado em determinado político, defender certas ideias e bandeiras políticas, não é sinônimo de torcida. Não se trata de uma partida de futebol em que se deve torcer e defender seu “time do coração” irrestritamente, por mais vexames e trapalhadas que este protagonize.

 

“Voto de confiança” e senso crítico

Falta a compreensão de que votar em determinados políticos ou linhas ideológicas não é dar carta branca para que seus representantes façam o que bem entendam sem estarem sujeitos a críticas, e ao escrutínio da imprensa e do público. Políticos são funcionários públicos que têm salários e todas a verbas que usam ou manejam pagos com o dinheiro dos tributos, ou seja, dinheiro dos trabalhadores e consumidores brasileiros. Enfim, devem estar a serviço da população, do interesse público. Acredito que é muito mais lógico fiscalizar, estar atento e criticar, se necessário e pertinente, aquele político em quem votamos do que a seus adversários. Afinal, foram estes políticos que receberam nosso voto. E voto representa muito mais do que dígitos de números nas urnas, representa nossa confiança. Porém, nenhuma confiança deve ser “cega”, irrestrita e incondicional. Tampouco, nunca devemos colocar nenhuma pessoa, seja ela quem for, em nossas relações, num pedestal a ser adorada e venerada, “endeusada” sem critérios. Muito menos, quando se trata da classe política. Mas, o que se percebe em tantos brasileiros é essa atitude de se colocar determinados políticos e lideranças em um pedestal, como se estivessem imunes a erros, ou mesmo a traições ao eleitorado, com canalhices deslavadas.

 

Estado de delírio coletivo

Enfim, fanatismo não traz nenhuma inteligência e progresso a ninguém, muito menos, à coletividade. Se formos ao significado da palavra, percebemos que está muito próximo a um estado de loucura, de delírio, individual ou coletivo. De acordo com a Wikipedia, “é o estado psicológico de fervor excessivo, irracional e persistente por qualquer coisa ou tema. Historicamente associado a motivações de natureza religiosa ou política, é extremamente frequente em paranoides, cuja apaixonada adesão a uma causa pode avizinhar-se ao delírio. Em psicologia, os fanáticos são descritos como indivíduos dotados das seguintes características: agressividade excessiva; preconceitos variados; estreiteza mental; extrema credulidade quanto a um determinado “sistema”; ódio; sistema subjetivo de valores; intenso individualismo; demora excessivamente prolongada em determinada situação/circunstância. De um modo geral, o fanático tem uma visão de mundo unilateral, rígida, cultivando a dicotomia bem/mal, onde o mal reside naquilo e naqueles que contrariam seu modo de pensar, levando-o a adotar condutas irracionais e agressivas que podem, inclusive, chegar a extremos perigosos, como o recurso à violência para impor seu ponto de vista”.

 

Caminho perigoso e destrutivo

Como verificamos, é extremamente perigoso, destrutivo, quando uma sociedade caminha para este tipo de condição a partir da adesão de seus membros. É o retorno à barbárie, constituindo-se num comportamento anti-civilizatório. Mas, parece que muitas pessoas encontram imensa dificuldade em perceber que, talvez, tenham sido enganadas, iludidas, por seus “políticos de estimação” ou por ideologias que não se revelam tão perfeitas e benéficas, assim, considerando os interesses e demandas da sociedade de modo integral. Como bem citou o escritor Mark Twain: “É mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que foram enganadas”.

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