O presidente Lula criticou o “pessimismo” da imprensa ao avaliar a recente queda de popularidade do governo revelada pelas pesquisas de alguns institutos, na primeira reunião ministerial do ano. O petista mencionou o “pessimismo vendido através de alguns editoriais e de veículos de imprensa” como um dos fatores supostamente responsáveis pela queda da popularidade de seu governo. Em resumo, Lula não tem diferido muito do então presidente Bolsonaro quando este criticava a imprensa por não divulgar resultados positivos do governo passado.
Cobranças a ministros
Durante a reunião, o presidente Lula não deixou de cobrar duramente os ministros, também, pedindo melhores resultados. Em especial, cobrou os ministérios da Educação, do Desenvolvimento Social, da Justiça e Segurança Pública e da Saúde. As críticas mais duras foram feitas a ministra da Saúde, Nísia Trindade, que chegou a chorar em certo momento quando cobrada por melhores relações com o Centrão.
Autocrítica
Lula culpou a imprensa e os ministros pela queda na avaliação positiva do governo, porém, faltou-lhe autocrítica. O presidente não deve ter se dado conta que o seu próprio desempenho ao comunicar-se em público, principalmente, quando fala “de improviso”, possa estar atrapalhando a imagem de seu governo. A opinião de Lula sobre a guerra na Faixa de Gaza é o maior exemplo de grande má repercussão. As reiteradas defesas que faz a ditadura de Nicolas Maduro, na Venezuela, é outro ponto que nem a imprensa mais “amiga” consegue “passar pano”.Ainda, ficou muito feio Lula e Janja terem acusado Bolsonaro e Michelle pelo sumiço de dezenas de itens no Palácio, sem provas. Nesta quarta-feira, dia 20, a imprensa divulgou que, após uma comissão instalada em 2023, foram feitas buscas e encontrados todos os itens em móveis e objetos, no porão do Palácio. Ou seja, não era necessário o casal petista ter gasto uma fortuna com novos móveis quando assumiram o mandato, no início de 2023.
Inflação dos alimentos
São coisas assim, aparentemente menores, que pesam contra a popularidade do governo, também. Sem contar o registro de inflação nos preços dos alimentos em fevereiro e indicadores que apontam para uma desaceleração da economia e geração de empregos. Mas Lula culpa o “pessimismo” da imprensa. E, também, uma possível falha na comunicação do governo. Possivelmente, haja falha na comunicação do governo, mesmo. Inclusive, o presidente disse a imprensa durante a reunião ministerial que “quem não divulgou ainda, pode divulgar, agora”, a respeito de resultados positivos. Entre eles, citou a recuperação de programas sociais como o Farmácia Popular e o programa Mais Médicos. Contudo, ainda que haja bons resultados, talvez, essas boas ações não tenham gerado na população o impacto positivo esperado.
Redes sociais
Entretanto, se boas estratégias de comunicação são fundamentais a qualquer governo, estas não fazem milagres. É preciso que o governante saiba bem interpretar as reais demandas da população e buscar compreender sobre os melhores caminhos para atendê-las. Possivelmente, também, o governo Lula não esteja atualizado sobre as mudanças na forma como a população busca se informar. Atualmente, o papel das redes sociais é decisivo. Grande parte da população não dá mais tanto crédito a grande imprensa, preferindo informar-se pelas redes sociais, mesmo que, muitas vezes, não se trate de informação propriamente dita, mas de “fake news”, opiniões ideologizadas e meias verdades. Logo, responsabilizar o “pessimismo” da imprensa não faz muito sentido uma vez que grande parte da população costuma não dar muito crédito ao que é publicado nos grandes veículos.
“Covardão”
Foi aparentemente estranho o presidente Lula ter se dedicado a falar do ex-presidente Bolsonaro durante a reunião ministerial. O petista comentou sobre a suposta tentativa de golpe do ex-presidente. Disse que Bolsonaro não tentou o golpe por que o comando da Aeronáutica e o comando do Exército não toparam. Mas, que, também, por que Bolsonaro seria um “covardão” que teria “fugido” para os EUA após ficar chorando a derrota por um mês. Na avaliação de Lula, Bolsonaro tinha a expectativa de que o golpe fosse concretizado enquanto ele estava nos Estados Unidos a partir do povo (“financiado”, segundo o petista), que se encontrava acampado a frente dos quartéis. Com essas ilações, Lula terminou por ajudar a defesa de Bolsonaro, admitindo que não houve participação de um ex-presidente “acovardado” e “fujão”, em sua percepção, não?
Polarização
Como é perceptível, o petista não consegue esquecer Bolsonaro nem em uma reunião ministerial. Um claro sinal de que não tem focado em seu compromisso de campanha: o de pacificar o Brasil, unindo o povo em um só. Se o próprio presidente da República contribui para acirrar a polarização, é evidente que deve acreditar que ela seja benéfica, eleitoralmente. Todavia, é preciso focar em resultados para a população, acima de tudo. Não há estratégia de comunicação que faça o que o governo precisa fazer; não há imprensa “camarada” que consiga consertar o estrago de falas equivocadas e não há rejeição a Bolsonaro que consiga fazer o povo acreditar que está tudo bem com o governo Lula quando a população não sente, não vive, uma vida melhor em seu dia-a-dia. Está na hora do governo Lula esquecer Bolsonaro e focar em trabalhar para levar bons serviços públicos, projetos e programas para a população. Trabalhar mais e falar bem menos. Lula afirmou que 2024 será o ano da colheita do que foi plantado em 2023. Mas, é preciso retirar muitas ervas daninhas para não perder-se essa colheita.