Em sabatina a Folha de São Paulo/UOL , na quarta-feira (23/10), a candidata Cristina Graeml (PMB) disse que aceitará uma eventual derrota eleitoral, porém, deverá apoiar manifestação ordeiras e pacíficas de seu eleitorado, aos moldes dos eleitores de Bolsonaro após derrota para Lula, em 2022.
A candidata de extrema direita, ainda, questionou a segurança das urnas eletrônicas, defendendo o voto impresso, alegando falta de transparência no sistema eleitoral. Disse que o povo tem direito de questionar as urnas eletrônicas, sendo um direito legítimo.
Incentivo a manifestações
Graeml, com esses comentários, já deu o recado. Pressente que não será eleita, assim, estimula e incentiva seu eleitorado a crer que sua derrota foi resultado de sabotagem nas urnas. Obviamente, não pode dizer diretamente que gostaria que seus eleitores fossem às ruas questionar a legitimidade de uma eventual eleição de Eduardo Pimentel. Então, utiliza-se do subterfúgio de colocar o assunto em pauta de forma indireta, mencionando dúvidas sobre o sistema eleitoral, de forma geral.
Legitimidade das eleições presidenciais
Ainda afirmou, na sabatina, que questiona a legitimidade das últimas eleições presidenciais, vencidas pelo presidente Lula. Na interpretação de Graeml, é difícil acreditar que tantos eleitores tenham dado voto ao petista sendo que a popularidade do presidente não seria detectada nas ruas e locais públicos por onde passa. Bem, se popularidade nas ruas fosse equivalente a popularidade nas urnas, poderíamos dizer que a passeata de sua candidatura, realizada na quarta-feira (23/10), é um claro sinal de sua derrota eleitoral. O evento atraiu um público bem menor do que o esperado, conforme mostram as imagens divulgadas em blogs políticos e redes sociais. Comenta-se que não passou de 500 apoiadores.
Transparência do sistema eleitoral
A preocupação com a fala da candidata não deve ser menosprezada. Ao questionar a legitimidade da eleição de Lula, indiretamente questiona a legitimidade de uma eventual eleição de Pimentel, devido a questionamentos sobre a transparência do sistema eleitoral brasileiro, em geral. O pior de tudo – além de colaborar para enfraquecer a democracia e desmotivar o eleitorado a participar de futuros processos eleitorais por dúvidas reacendidas na cabeça do eleitor – é contarmos com uma reedição, em versão curitibana, das manifestações de bolsonaristas, em 2022. Apesar de a candidata condenar o vandalismo em Brasília, no evento de 8 de janeiro, conforme disse na sabatina, há sempre o risco de uma manifestação de extremistas descambar para violência e vandalismo.
Ausência de Bolsonaro
É lamentável que uma candidata insinue que aceitará o inconformismo de seus eleitores com uma eventual derrota de sua candidatura. Mais do que aceitar, é nítido que estimula manifestações populares neste sentido. Como se diz no popular: se essa moda pega… Ao que parece, Cristina Graeml espelha-se em Jair Bolsonaro em todos os aspectos. Talvez, tendo em vista, quem sabe, buscar um protagonismo a nível nacional para futuras eleições. Porém, não contou com a presença do próprio ex-presidente, conforme esperava, na passeata no Centro de Curitiba,
na quarta-feira. Um Bolsonaro representado por um “boneco de papelão” foi o que restou aos seus apoiadores nas ruas.
Bolsonarismo como “cabo eleitoral“
Apesar de repetir que sua candidatura surgiu de forma orgânica, espontânea, a “pedido do povo”, é evidente que agarra-se ao bolsonarismo para conquistar votos. Sem dúvidas, a candidatura da extrema direita em Curitiba não sairia do primeiro turno se não se apoiasse desesperadamente na figura de Jair Bolsonaro e suas bandeiras políticas. De independente e “novidade”, a candidata não tem nada. Tanto que já ganhou o apelido de “Bolsonaro de saias”. Enfim, a candidata está no seu direito, de inspirar-se e buscar apoio de quem quiser.
Desrespeito à democracia
Contudo, não é nada republicano incentivar manifestações, mesmo que pacíficas, contra uma eventual eleição de seu adversário. Mais do que algo mesquinho, pequeno, a quem se apresenta como única candidata representante do conservadorismo em Curitiba, é uma afronta a democracia, ao processo eleitoral. Ser conservador não tem nada a ver com ser anti-democrático. Curiosamente, quando um bolsonarista vence as eleições, não se questiona a credibilidade das urnas. Quando um bolsonarista está na frente nas pesquisas, não se questiona a credibilidade dos institutos. O país está repleto de candidaturas bolsonaristas eleitas, tanto para prefeituras como para o Legislativo Municipal, aliás.
Bolsonaristas no Nordeste
O próprio Nordeste, nestas eleições, está surpreendendo. Em Aracaju, pesquisas apontam vitória de uma candidata do PL à prefeitura. Em Fortaleza, há um empate técnico entre um bolsonarista e um candidato de esquerda. Se, nestas capitais, os candidatos bolsonaristas não forem eleitos, também, seria legítimo questionar as urnas eletrônicas? E se estes bolsonaristas forem eleitos, até no Nordeste, tradicional reduto da esquerda, como ficará o questionamento da candidata curitibana sobre as urnas, caso não seja eleita? Apenas, em Curitiba, as eleições seriam fraudadas? Realmente, Graeml subestima muito a inteligência de seu eleitorado…