Especialistas falam sobre largar o vício do cigarro sem rodeios

Especialistas falam sobre largar o vício do cigarro sem rodeios

O tabagista deve enfrentar a dependência de substâncias químicas, uma mudança de vida que exige trabalho e superação
O processo pode ser difícil e programas de acompanhamento, junto a palavras e incentivo de familiares e amigos, sempre fazem a diferença porque a mudança é para o corpo e a mente

No dia 29 de agosto foi o Dia Nacional de Combate ao Fumo e muito se falou sobre o tema, o que é a finalidade da data. Afinal, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), fumar é a principal causa de morte evitável no mundo. Mas se tem alguém que sabe muito bem da quantidade enorme de substâncias tóxicas que o cigarro contém (cerca de 4.720), bem como da dependência que a nicotina causa, é justamente o fumante. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) mostram que 10% deles chegam a reduzir sua expectativa de vida em 20 anos.

O fumo está relacionado a uma série de outras doenças, sendo fator de risco para doenças cardiovasculares e pulmonares e também para todos os tipos de câncer em regiões próximas à boca (traqueia, laringe, faringe, esôfago), além do câncer de pulmão. Porém, ainda que motivo não falte, é preciso que o tabagista tome coragem de seguir o caminho de abandono do hábito, o que passa pelo enfrentamento do vício, então ter uma rede de suporte é fundamental. O pneumologista Irinei Melek, médico cooperado da Unimed Curitiba e presidente da Associação Paranaense de Pneumologia e Tisiologia (APPT), destaca que o tabagismo é uma doença crônica causada pela dependência à nicotina (presente nos produtos à base de tabaco) e que integra o grupo de transtornos mentais e comportamentais em razão do uso de substância psicoativa.

É por isso que, tanto na rede pública quanto na rede privada, há diversas iniciativas para reunir fumantes com equipes formadas por médicos, psicólogos e outros profissionais da saúde. O Você Sem Cigarro, um dos programas da Unimed Curitiba voltado para o estímulo de hábitos saudáveis e bem-estar, já existe há 5 anos e foi criado para a sensibilização e tratamento do tabagismo, com estratégias focadas na mudança de comportamento, compressão dos gatilhos condicionados ao tabagismo, prevenção da recaída, bem como para a prevenção das doenças relacionadas ao uso do cigarro. Direcionado para os beneficiários do plano que desejam parar de fumar, o serviço é coordenado por uma psicóloga e conta com uma equipe multidisciplinar. As reuniões, neste momento, acontecem via videoconferência e os participantes podem interagir entre si. São sete encontros semanais, em datas previamente agendadas, e as inscrições podem ser feitas pelo telefone (41) 3021-4735, neste link (http://www.unimed.coop.br/pesquisasonline/index.php/871119/lang-pt-BR) ou pelo e-mail pse@unimedcuritiba.com.br. Além disso, há troca de experiências e envio de informações, lembretes e materiais didáticos pelo grupo do Whatsapp. O propósito é ajudar a adotar hábitos e comportamentos mais saudáveis e a fortalecer redes de apoio social e familiar.

Melek reforça a importância desse suporte porque muitas pessoas não imaginam, ou simplesmente minimizam o esforço que deixar de fumar demanda. “Não é nada fácil se envolver nesse processo porque exige mais do que uma atitude ou força de vontade. O tabagista deve enfrentar a dependência de substâncias químicas, uma mudança de vida que exige trabalho e superação. É um caminho que está relacionado a hábitos, estilo de vida, questões psicológicas, e por ser tão abrangente exige suporte em todas as etapas, do primeiro passo até o resultado final que compensa tudo”, comenta.

Fazendo parte da mudança

Quem já passou por isso, como a beneficiária Sandra Paparazzo, reafirma essa importância. Ela hoje mora no interior de São Paulo, mas conhece bem os programas da Unimed Curitiba. Quando começou a pandemia Sandra entrou no programa Viva Leve especializados no acompanhamento para redução de peso, e depois dele participou também do programa Saia do Sofá, quando soube do Você Sem Cigarro. Foi então que teve a ideia de levar seu marido para as reuniões. “Faz mais de 20 anos que deixei de fumar, mas participei para incentivar meu esposo. Matriculei ele e depois da nossa participação ele já diminuiu bastante a quantidade por dia, porém ainda não conseguiu deixar de vez. Para quem fuma faz muito tempo, como ele há mais de 40 anos, é muito difícil largar o cigarro. Vi vários relatos nesse sentido. Minha intenção foi participar com ele para levar a minha experiência, acompanhar e apoiar”, conta.

Sandra comenta que cada caso é um caso, e justamente por isso ter orientações ajudam a achar a direção e não desanimar. “Eu não senti muita dificuldade quando parei, tanto que deixei dois maços fechados na época. Para mim foi uma decisão tomada, até questão de honra. Mas sei de todas as etapas para avançar. E agora com meu marido está sendo diferente, ele segue com o acompanhamento médico, está tomando medicamentos e teve reações durante o processo. Vejo o quanto o incentivo e a paciência são estimulantes para ele não desistir”, revela. O pneumologista Jonatas Reichert, também médico cooperado da Unimed Curitiba, destaca que cada pessoa responde de um jeito à dependência. Alguns fumantes conseguem largar logo o cigarro; outros enfrentam um processo mais longo e com a necessidade de medicamentos.

“Dentro de todo esse contexto recaídas estão previstas, mas elas não devem ser desestímulos nem motivo para desistir. Há aqueles que sofrem a recaída e a escondem por vergonha. Mas é preciso encarar e trabalhar psicologicamente essa recaída para mostrar que ela não representa uma fraqueza pessoal e sim em função de milhares de toxinas. A pessoa não é culpada por isso”, afirma Reichert. O médico conta que já tratou de pacientes com um nível de dependência intenso, que recaíram cinco, seis vezes, até conseguirem parar de vez com o cigarro. É aqui que entra o apoio, pois o fumante precisa descobrir outras formas de prazer, de aliviar o estresse e até mesmo de conduzir determinados hábitos e rotinas sociais de forma mais saudável. “Essas medidas, com mudanças no estilo de vida, o aconselhamento breve, a participação em grupos e o apoio multidisciplinar, ajudam muito. Não tenha medo da recaída: a enfrente sem medo do julgamento”, orienta Reichert.

Movimentar a mente e o corpo

Se estar ao lado do tabagista sem julgamentos é uma das chaves para sua evolução, há também outra iniciativa que ajuda muito a largar o cigarro: a prática de atividade física. Ela traz bem-estar emocional e ajuda a controlar os impulsos, diminuindo a ansiedade gerada pelo vício. “O exercício realizado de forma regular tem a capacidade de melhorar o humor e fazer com que a ansiedade e o estresse diminuam. Isso ocorre porque a prática de exercícios faz com que haja liberação de endorfinas, conhecidas popularmente como o hormônio da felicidade. Ele funciona como um analgésico natural, aliviando as tensões e regulando as emoções”, explica o médico cooperado da Unimed Curitiba especialista em psiquiatria, Guilherme Góis. Dessa forma, combate a ansiedade gerada pelo vício e outros distúrbios psicológicos associados à abstinência. “Pesquisas mostram que, muito além do condicionamento físico, pessoas que se exercitam têm menos depressão, ansiedade e hipocondria, além de melhor autoestima”, afirma.

Ele destaca atividades aeróbicas como andar, correr, ciclismo, natação e remo porque, ao respirar ar puro, há eliminação do monóxido de carbono e aumento do nível de oxigênio circulante. Mas o mais importante, segundo o psiquiatra, é escolher uma atividade que seja prazerosa, pois a motivação aumenta e as chances de ela se tornar duradoura também. “A atividade física regular tem muito a ver com a direção que damos para nossas vidas, assim como nossos hábitos de lazer, alimentação, sono e espiritualidade, já que a dependência da nicotina ocorre nos níveis físico, psicológico e comportamental”, conclui.

publicidade

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress