quinta-feira, 19 de setembro de 2024
Entre o que Lula quer e o que consegue há uma longa distância

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Entre o que Lula quer e o que consegue há uma longa distância

Na live semanal de terça-feira, dia 25, o presidente Lula fez um vigoroso posicionamento contrário a posse de armas por cidadãos comuns, ou seja, que não sejam integrantes das polícias ou das Forças Armadas. Na opinião do petista, o Decreto de Armas do governo Bolsonaro só teria servido para favorecer o crime organizado, que costuma comprar armas de alto calibre. E foi além: afirmou que falou ao ministro da Justiça, Flávio Dino, que quer fechar quase todos os clubes de tiro no país, deixando, apenas, aqueles destinados ao uso de policiais e militares.

Discurso e prática

Contudo, entre o discurso e a prática, há uma longa distância. No ‘pacote da segurança pública’ lançado na semana anterior, o Decreto Armamentista do governo federal tão somente faz algumas alterações no Decreto do governo Bolsonaro, a exemplo da restrição do horário de funcionamento dos clubes de tiro e outras medidas como, a proibição do funcionamento desses clubes perto de escolas. Enfim, não tem nada que decrete o fechamento dos clubes de tiro. A questão é que, entre Lula querer e conseguir fazer, há uma longa distância. O presidente Lula, na verdade, não quer enfrentar um desgaste terrível no Congresso Nacional por conta de um tema tão espinhoso e que poderia lhe render retaliações do presidente da Câmara, Arthur Lira, em favor da bancada ruralista, por exemplo, que é veementemente favorável a liberação da posse de armas para a população, em geral. Enfrentar a “bancada da bala” no Congresso pode não se revelar um bom negócio, ao menos, no momento… Inclusive, parlamentares pró-armas já têm em punho alguns projetos de Decreto Legislativo prevendo sustar um eventual rígido Decreto do presidente Lula contra o armamento. Para avançar mais em relação ao desarmamento, Lula teria de comprar muita briga com esses parlamentares, que não são poucos, afinal, somam-se a bancada conservadora, em geral, e aos liberais, que também são pró-armas.

Medida impopular

Medidas radicais com o intuito de revogar o Decreto Armamentista de Bolsonaro, certamente, deverão se revelar muito impopulares ao presidente Lula. O brasileiro tem, entre suas grandes preocupações, a segurança pública e se sente parcial ou totalmente desassistido pelo poder público para garantir sua segurança. Não são poucos os brasileiros que defendem a posse de armas ao cidadão. Bolsonaro perdeu a reeleição para Lula por um percentual muito pequeno. A imensa maioria, senão todos, que votaram em Bolsonaro, quer o direito a posse de armas para defesa pessoal e de sua família, mesmo que não tenha intenção ou não possa comprar uma arma, no momento. O presidente da República iria enfrentar uma horda de populares com mais um motivo para se enfurecer com ele caso endurecesse as medidas contra o armamento da população.

Discurso para agradar a esquerda

Então, resta, ao petista, falar bonito nas lives e para a imprensa, mas, sem poder fazer muito, ao menos, ainda, de efetivo, contra o armamento da população. Lula disse na live que o povo não quer saber de comprar armas, pois, mal pode comprar comida, material escolar para os filhos. Realmente, não é qualquer brasileiro que conta com poder aquisitivo para comprar armas, munições e frequentar clubes de tiro. Entretanto, muito embora, contar com uma arma legalizada em casa constitua-se numa espécie de “luxo” para poucos privilegiados das classes mais altas, ainda, assim, não é pequena a parcela populacional de brasileiros que apoia a posse legal e responsável de uma arma em casa para defesa da família e do patrimônio. Alguns chegam a colecionar armas como um hobby e a frequentar clubes de tiro como quem pratica um esporte, indo além do intuito de defesa pessoal e constituindo-se numa atividade de lazer. Mas, o fato de ainda se tratar de algo caro para a maioria justificaria proibi-lo para todos? Carros luxuosos e outros bens de consumo de luxo também são inacessíveis a uma imensa maioria que não tem poder aquisitivo para comprá-los, mas, nem por isso, devem ser proibidos pelo governo, não? Então, este argumento não se sustenta. E ainda não há outros argumentos convincentes.

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