O ex-presidente da República Jair Bolsonaro convocou, pelas redes sociais, seus apoiadores entre o eleitorado para comparecerem a ato na Avenida Paulista no próximo dia 25, último domingo de fevereiro, a partir das 15 horas. Disse que quer se defender, bem como defender o Estado Democrático de Direito, diante do cerco da Polícia Federal e do STF que vem sofrendo.
Guerra de narrativas
Quando fala em “se defender”, naturalmente, refere-se a defesa no âmbito político, no sentido de gerar e disseminar uma narrativa favorável que ofereça um contraponto a narrativa desfavorável amplamente disseminada pela grande imprensa. Como tudo em política, atualmente, tem se definido a partir de uma guerra de narrativas político-ideológicas, Bolsonaro quer, para além do âmbito da defesa judicial, capitalizar algum possível ganho político com o ato.
Termômetro de popularidade
Assim como o ato poderá servir de termômetro para medir a quantas anda a popularidade do ex-presidente. Porém, pode se revelar um “tiro no pé“ caso compareçam poucos apoiadores. Certamente, o número de bolsonaristas “envergonhados“ tem aumentado, assim como ocorreu com o petismo. Ir às ruas é muito diferente de depositar um voto secreto na urna.
Capitalização política de danos
Da mesma forma que o PT e Lula, diante do cerco da Operação Lava-Jato, capitalizaram politicamente uma narrativa favorável, com alegações sobre “perseguição política” e erros e abusos na condução das investigações e processos contra Lula e demais investigados, Jair Bolsonaro busca esse mesmo intento. Lembremos que Lula foi condenado e preso, mas, não perdeu tantos apoiadores e eleitores quanto se supunha. Em grande parte, pelo trabalho da esquerda em desmoralizar a conduta de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, em especial, o que resultou na anulação das condenações pelo STF. Devido a erros processuais cometidos por Moro, de fato. Havia processos que não deveriam ter sido concentrados na “República de Curitiba”, realmente. O que terminou por afetar a lisura do chamado “devido processo legal”. Com este exemplo da Lava-Jato, Bolsonaro e seus apoiadores têm como argumento favorável dos mais consistentes a alegação de que Moraes também estaria centralizando processos indevidamente. Já se comenta que a atuação do STF não poderia estar abrangendo investigados que não têm foro privilegiado. Ainda há a esdrúxula condição de Moraes estar julgando processos referente aos atos de 8 de janeiro, em que ele, mesmo, seria o alvo, a vítima, dos acusados. Uma vez que havia plano, segundo ele, mesmo, revelou a imprensa, de assassiná-lo. Quer dizer, um juiz que seria uma das prováveis vítimas dos réus é também aquele que julga esses mesmo réus… Uma situação das mais absurdas e que coloca o ministro do STF sob suspeição.
Ambições políticas
E ainda Bolsonaro passa a explorar a hipótese de o próprio Alexandre de Moraes intencionar candidatar-se a presidente da República. Sérgio Moro, mesmo negando até o fim, terminou por lançar candidatura… Moraes, possivelmente, não quer abrir mão de ser presidente do STF, cargo ocupado, a cada dois anos, em forma de rodízio entre os ministros. Mas, e depois? Se algum dia, Moraes ingressar na política, bolsonaristas terão um prato cheio para validar a narrativa, assim como os petistas fazem em relação a Sérgio Moro, que acabou virando candidato, mesmo tendo repetido a exaustão que não contava com a mínima intenção de tornar-se político.
Versão dos fatos
No ato, Bolsonaro deverá disseminar a sua versão dos fatos, em relação a suposta tentativa de golpe. Já que não pode contar com a grande maioria da imprensa para dar sua versão, o ato público na Paulista deverá ser usado como um canal de comunicação direto com seus apoiadores. Uma oportunidade, também, de gerar imagens favoráveis a narrativa de popularidade e apoio do povo contra a atuação de Moraes. Mas, pediu, em vídeo nas redes sociais, que nenhum dos manifestantes leve faixas e cartazes contra quem quer que seja. Nas entrelinhas, referiu-se a Alexandre de Moraes e o STF. O difícil será confiar que não haverá manifestantes mais radicais e destemperados desatentos a essa recomendação. Se houver cartazes e faixas neste sentido, Bolsonaro terá de se policiar muito para não expressar qualquer apoio ou incitação a ataques às instituições, a democracia, e ao Estado Democrático de Direito. Se houver qualquer incitação a respeito, poderá ser preso em flagrante.
Estratégia arriscada
Talvez, a ideia de convocação do ato não se revele uma boa estratégia, caso o número de manifestantes seja pequeno. E caso não haja o comparecimento de lideranças apoiadoras, a exemplo do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PL-SP). O MDB tem orientado Nunes a não comparecer ao ato, até, por que, é aliado do Governo Lula, contando com um ministério. Mas, a presença de Tarcísio é fundamental. Pode repercutir negativamente, também, a eventual presença de manifestantes radicais que protestem com menções de ataques ao STF, a Alexandre de Moraes e a atos golpistas.