Discurso de ódio crescente contra as mulheres representa mais um desafio na busca por dignidade
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Discurso de ódio crescente contra as mulheres representa mais um desafio na busca por dignidade

Neste dia 8 de março, celebramos mais um Dia Internacional da Mulher. Como todos os anos, nesta data, tantas conquistas costumam ser elencadas, assim, como os desafios e desigualdades de oportunidades e direitos são ainda debatidos. Em 2023, acredito que um destes desafios merece atenção especial, por se tratar de um fenômeno antigo, mas, que tem ganhado novas roupagens a partir da internet e redes sociais, em geral. Trata-se do crescimento exponencial de movimentos e comunidades em prol de uma supremacia masculinista que terminam por se revelarem propagadores de misoginia, ou seja, do ódio e desprezo às mulheres.

Graves consequências

Quem acredita que não se trata de algo sério ou grave, possivelmente, compactua das mesmas ideias ou desconhece a dimensão da influência e implicações desse movimento cultural que vai na contramão de todos os avanços já obtidos em prol da igualdade de direitos e oportunidades entre os gêneros, bem como a tudo o que se refere a proteção da mulher, em termos de segurança física, emocional e moral. São comunidades em que, a pretexto de ensinarem os homens a serem “verdadeiramente homens” e a se autoafirmarem na sociedade e, principalmente, perante as mulheres, na verdade, terminam por disseminar uma porção de ideias e preconceitos que vão além do machismo, desembocando em discurso de ódio contra o gênero feminino.

MGTOW e “Redpill”

Entre esses movimentos, encontram-se os MGTOWs (Men Going Their on Way) que significa “Homens seguindo seu próprio caminho”. Este, entre os mais radicais, defende que o homem nunca se case, nem tenha filhos, assim como não se relacione com mulheres que tenham filhos, tampouco, que divida o mesmo teto com uma mulher. Há ainda o movimento Redpill, referente a “pílula vermelha” tomada pelo protagonista do filme Matrix, que deu ao personagem a consciência da realidade, a saída da ilusão da Matrix. Embora menos radicais, os “redpillados” defendem ideias semelhantes aos MGTOW, sempre se referindo às mulheres como seres inferiores, que lhes devem submissão e servidão, bem como usando termos pejorativos a mulheres consideradas feias, velhas, gordas ou “mães solteiras”. Detalhe: passou dos trinta anos, já é velha para esses homens. Se é que eles podem ser chamados de homens, pois, no fundo, não passam de meninos amedrontados, frustrados e ressentidos com as mulheres. Não é preciso muita investigação para deduzir que os adeptos desses movimentos apresentam profundos problemas emocionais, que deveriam ser tratados em consultórios de psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, até. Contudo, ao invés de reconhecerem que têm graves problemas emocionais, talvez, alguns, até, psiquiátricos, eles unem-se nas redes sociais para compartilharem seus recalques, frustrações e inseguranças sob o disfarce de estarem em busca de desenvolvimento pessoal, de aprimoramento da masculinidade e de técnicas de sedução e conquista.

Coachs de relacionamento

Se os conteúdos fossem realmente apenas para o desenvolvimento pessoal e técnicas de sedução e conquista, não haveria problemas. Para as mulheres, também há inúmeros conteúdos com esse teor. A diferença é que não há nenhum discurso de ódio contra homens ou termos pejorativos nos conteúdos para as mulheres.

Comunidades misóginas

É preocupante que tais comunidades masculinistas tenham proliferado tanto, em especial, na última década, a partir das redes sociais. Não há como desvincular esse fenômeno ao enorme risco de contribuírem para a violência contra a mulher, seja a partir de abusos e agressões físicas ou psicológicas. Inclusive, dias antes do Dia Internacional da Mulher, houve situações de ameaças a influenciadoras digitais e a uma atriz e roteirista por parte de um dos representantes do movimento Redpill. Os casos foram parar na Delegacia da Mulher e ganharam reportagem do programa Fantástico. O “redpillado” em questão ameaçou as influenciadoras de “processo ou bala“. Quando viu que o caldo entornou, o coach, que “ensina” homens a se libertarem de um suposto jugo feminino, postou um vídeo dizendo que “bala” não deveria ter sido interpretada literalmente. Em resumo, deve ter ficado com medo de sofrer alguma punição na Justiça.

Denúncias de agressões e ameaças

É importante que mulheres denunciem ameaças e agressões desse naipe por parte de qualquer homem, sendo ou não parte desses movimentos. Quando o referido coach sentiu o clima pesando contra ele, tentou contornar a situação. As influenciadoras ameaçadas apenas fizeram críticas, algumas, em tom de piadas e chacota a ele, e se realmente ele se sente um homem de verdade, não deveria ter se deixado abalar com críticas e chacotas de mulheres, seres, aliás, que ele considera inferiores aos homens. Além do mais, todos que expõem suas ideias e opiniões ao público estão sujeitos a serem rechaçados ou ridicularizados.

Virilidade em xeque

É quase inacreditável que, em 2023, tenhamos chegado a esse nível de incivilidade a partir desses movimentos masculinistas. Depois de tantos avanços para as mulheres, há homens muito insatisfeitos. Mas, essa insatisfação não é mera crítica ao movimento feminista, como querem fazer crer. Essas comunidades pregam o retrocesso a proporções absurdas, onde a mulher não deve passar de um objeto de consumo sexual e não deve contar com direito algum além de servir às necessidades do homem. Em resumo, são homens muito inseguros em sua masculinidade que visam se autoafirmarem diminuindo as mulheres. Como bem disse a filósofa e feminista Simone de Beauvoir: ”Ninguém é mais arrogante, violento, agressivo e desdenhoso contra as mulheres que um homem inseguro de sua própria virilidade”.

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