Nestas eleições presidenciais, mais do que em qualquer outra, está em jogo a luta pela manutenção de nossa frágil democracia. Tanto eleitores de Bolsonaro, quanto de Lula, alegam que optam por seu candidato, entre outras razões, em defesa da democracia. Dizer-se “democrata” para justificar seu voto tem sido a tônica de muitos eleitores, tanto de Lula como de Bolsonaro, em especial, daqueles que não se consideram genuinamente petistas ou bolsonaristas, mas, que se sentem no dever, inclusive, moral, de fazer uma opção entre dois candidatos.
Ameaças à democracia
Mas, para considerarmos apenas o quesito “democracia”, qual dos dois candidatos representaria ameaça maior a democracia? Ou representaria uma ameaça real a democracia? Tem sido comum eleitores que optaram pelo PT como opção ”menos ruim” alegarem que votam em Lula porque são democratas e não querem ver o Brasil ameaçado por um suposto pendor ditatorial de Bolsonaro que, segundo eles, faria constantes ameaças às instituições, e inclusive, tendo insinuado que não aceitaria o resultado das urnas se perdesse. Estes eleitores temem que bolsonaristas inspirem-se nos eleitores de Trump e partam para a violência, a exemplo do que aconteceu no Capitolium, logo após a vitória de Joe Biden. Também, dizem temer fechamento do STF, “aparelhamento” da Suprema Corte com ministros bolsonaristas, ”golpe militar” e outras mudanças radicais.
Entre o discurso e a prática
O fato é que Bolsonaro, em quase quatro anos no poder, não fez nada que pudesse corroborar essas desconfianças, além de algumas falas revoltosas sobre a atuação do STF, suposta possibilidade de fraude nas urnas e defesa de impeachment de ministros do STF. De concreto, em seu governo, nada foi feito contra a democracia e a liberdade de expressão. Críticas à imprensa têm sido frequentes, mas, nada diferente do que Lula e o PT também sempre fizeram. Quem lembra das críticas de Lula a Rede Globo e a atuação da mídia, principalmente, durante a operação Lava Jato? Para os petistas, a imprensa teria sido conivente e dado palco a atuação da Lava Jato. A Rede Globo teria sido a responsável pela derrota de Lula para Collor, em 1989, especialmente, após o famoso e histórico debate.
Críticas a imprensa
Enfim, todos têm direito de criticar a mídia, a grande imprensa, ou veículos específicos, julgando-os “parciais demais”, ”sensacionalistas”, ”mentirosos” e outros adjetivos desabonadores. Poder criticar a atuação da imprensa é um dos pilares da democracia. O que é diferente de querer censurar a imprensa, de tentar coibir ou inibir sua atuação. No governo Bolsonaro, não houve, sequer, um mínimo movimento em relação a censura à imprensa. Ao contrário. A grande imprensa tem sido pródiga em críticas a ele e seu governo, sem poupá-lo de nada, sem que nenhum gesto ou palavra que tenha dito passe despercebido por jornalistas.
Amizade com ditadores
Por outro lado, defender a democracia e, ao mesmo tempo, o candidato do PT, tem se tornado muito difícil a quem preza pela coerência e senso de realidade. Nesta campanha, por exemplo, o partido tem acionado o TSE para “derrubar” conteúdos que façam menção a amizade e apoio de Lula a ditadores latino-americanos, como o ditador Daniel Ortega, da Nicarágua. Além de menções a ditadura de Cuba e Venezuela e o endosso (ou silêncio) do PT a esses regimes opressores. O TSE também foi acionado, com sucesso, para retirar conteúdo do site Brasil Paralelo, no Twitter, em post referente a “estratégia das tesouras”. Se antes de possível vitória nas urnas, as coisas já se encaminham dessa forma sob a batuta do PT, o que pensar após eventual eleição de Lula? A preocupação é grande para todos os defensores da liberdade de imprensa. O temor é de que, até, mesmo, veículos pequenos, como esta Gazeta, venham a ser censurados.
O “menos pior”
Acredito que a maioria dos eleitores, ao optar por um candidato ou outro, não o fará pela defesa irrestrita de Lula ou Bolsonaro, de todas a pautas, falas e atuação passada ou presente, mas, pela necessidade de escolher o “menos pior” e o que menos representaria uma “ameaça a democracia”. Desta forma, creio que é necessário basear-se em dados e fatos concretos sobre ambos, no lugar de especulações e histeria generalizada. Quando vemos o PT já acionando o TSE para retirar conteúdos desfavoráveis a Lula das mídias sociais e da imprensa, isto é um fato concreto, objetivo, que já está acontecendo, em plena campanha. Não são meras especulações, desconfianças e hipóteses baseadas em insinuações e discursos, ou falas aleatórias.
Apoio irrestrito à liberdade de imprensa
Como disse o empresário Roberto Justus em vídeo recente nas redes sociais, ”não concordo em tudo com o que Bolsonaro faz ou fala, mas, discordo de tudo que o PT faz e defende”. Caros leitores, enquanto ainda houver um mínimo de liberdade de imprensa e de expressão no país, é importante nos posicionarmos com veemência em defesa da democracia, e isso passa por uma imprensa livre, sem ser submetida a censura de qualquer espécie. No primeiro turno, foram 33 milhões de brasileiros que deixaram de votar para presidente. O número de abstenções foi muito elevado. A disputa tem sido voto a voto. Há uma grande possibilidade de os dois candidatos estarem tecnicamente empatados, conforme o último levantamento do Paraná Pesquisas aponta. Assim, é fundamental que cada eleitor reflita muito, observe muito a realidade, dados concretos e fatos, com objetividade. Que deixe as paixões e simpatias e antipatias pessoais de lado ao decidir seu voto. Se nossa democracia está em risco, é o momento de olhar para a realidade. Quem tanto defende o candidato Lula, notoriamente, a maioria da grande imprensa, pode estar dando um tiro no próprio pé. Tudo indica que será a imprensa a primeira a sofrer as consequências de um governo petista, tendo sua atuação cerceada, ”regulada” e, até, mesmo, censurada, a exemplo do que acontece em todas as ditaduras de esquerda com as quais o partido sempre teve proximidade.