A apresentadora do Jornal Hoje, da Rede Gobo, Maju Coutinho, viralizou nas redes sociais ao comentar sobre racismo durante a apresentação do noticiário no dia 22. “Tem de mudar a mentalidade de que preto parado é suspeito e correndo é culpado. Isso tem de mudar”, disse ela ao final da reportagem. Muitos internautas elogiaram o comentário da jornalista, expressando apoio a sua opinião. A matéria que motivou o comentário abordou a prisão injusta, por quase três anos, de Lucas Moreira de Souza, de 26 anos, por ter sido confundido com o verdadeiro criminoso. O jovem negro foi solto na madrugada da quinta-feira (22) por decisão da Justiça do Distrito Federal, que reverteu a condenação de quase 80 anos. Policiais do caso procuraram a Defensoria Pública para dizer que havia inconsistência nas provas. O verdadeiro criminoso foi identificado e também é negro.
Com esse comentário, a jornalista sugeriu que a prisão e condenação injusta do jovem rapaz deu-se pelo fato dele ser negro. Porém, tal insinuação não faz o mínimo sentido, neste caso, uma vez que o verdadeiro criminoso com o qual o preso foi confundido também é negro. Ou seja, houve realmente uma confusão e mau trabalho dos policiais e da justiça ao confundir um suspeito com outro, mas em nada tem a ver com discriminação racial. Afinal, é lógico que um negro só pode ser confundido com outro negro, assim como é lógico que um branco só pode ser confundido com outro branco em razão das características físicas similares. Tentar forçar a barra estabelecendo uma falsa relação de causa e efeito, ao dizer que o rapaz foi injustamente condenado por ser negro é totalmente descabido neste caso.
Os posicionamentos da Rede Globo em relação ao racismo e combate à discriminação racial já são notórios há muito tempo, para quem acompanha a programação da emissora. Não discordo que seja realmente necessário combater o racismo e o preconceito racial, pois, negros e pardos, em especial, sofrem, ainda, discriminação, mesmo que mais velada e disfarçada na atualidade. E se voltarmos atrás na história, verificamos que foi ainda muito pior, a partir da presença de um racismo explícito mesmo no Brasil, um país de grande miscigenação. Não se discute a existência de racismo e discriminação racial e a necessidade de combatê-lo.
Discurso da esquerda
Contudo, o que considero digno de crítica a certas políticas de combate ao racismo, e que são abraçadas pela Rede Globo em sua linha editorial, é uma clara tentativa de distorcer fatos, tentando imputar racismo onde não há. Bem como incitar uma divisão racial, um separatismo que considero nocivo à sociedade, jogando negros contra brancos e vice-versa. O discurso da esquerda é que a polícia e a justiça discriminam as pessoas por raça, sempre tentando colocar como suspeito ou condenado os negros, de forma a privilegiar os brancos. Mas, será que isso é mesmo uma realidade ou simplesmente uma opinião, um viés ideológico? Há muitos brancos nas penitenciárias, também, condenados, inclusive. Se considerarmos apenas que grande parte da população brasileira é negra ou parda, com variados graus de miscigenação, até se poderia justificar que haja uma tendência de predominância de negros e pardos nas prisões, mas não é bem assim. De acordo com o IBGE de 2016, 46,7% da população brasileira se declarou parda e 8,2%, negra. Ou seja, mais da metade dos brasileiros não é da raça branca.
Separatismo
Se quisermos realmente combater o racismo é preciso mudar a estratégia, deixando de lado essa narrativa de provocar hostilidade entre negros e brancos. A tendência é só piorar o racismo e o separatismo, de forma semelhante ao que acontece nos Estados Unidos, onde a “guerra racial” tem chegado a proporções alarmantes neste ano de campanha presidencial. Acredito que seria muito mais eficaz mostrar como muitos negros têm alcançado posições de destaque na sociedade, no mercado de trabalho, no mundo acadêmico, no meio artístico, entre outros.
Negros de destaque
E de fato, isso acontece. Tivemos um ministro do Supremo Tribunal Federal negro, Joaquim Barbosa. Um dos maiores escritores brasileiros e do mundo era negro, Machado de Assis, um mestre da Literatura. A primeira mulher engenheira do Paraná foi uma negra, Enedina Alves Marques, formada em 1945, pela UFPR, juntamente com uma turma composta só por homens brancos. Enedina também se destacou como a primeira engenheira negra em todo o país. Naturalmente, recebeu ajuda para estudar em bons colégios a fim de se preparar com igualdade de condições, uma vez que era de família sem rendimentos financeiros para custear boas escolas. O patrão de sua mãe foi quem bancou seus estudos em escola particular. E, assim, com esforço e inteligência, ela pôde ingressar na universidade e concluir seus estudos superiores. Enedina não parou por aí. Mesmo em uma época em que até as mulheres brancas eram discriminadas no mercado de trabalho, ela destacou-se em importantes cargos públicos no Governo do Estado. Reza a lenda que Enedina costumava trabalhar com uma arma na cintura e, para conquistar o respeito dos homens ao seu redor em um canteiro de obras, ela eventualmente disparava tiros para o alto.
Inspiração a todas as raças
O exemplo de Enedina é fabuloso e muito inspirador a todos os negros, revelando-se um orgulho para a raça e também a todas as mulheres. Ter vencido com garra, determinação, coragem e muito estudo e trabalho deve se constituir num belo exemplo para todos, a homens e mulheres, a negros, pardos e a brancos. O negro, assim como o branco, o índio, o amarelo, tem toda capacidade de alcançar seus objetivos quando conta com igualdade de oportunidades, muita determinação e dedicação. Em capacidades, talentos e dignidade somos iguais, independentemente de raça ou etnia. O que falta são igualdade de oportunidades para todos, devido a condições socioeconômicas desfavoráveis a muitos. Penso que é com união e solidariedade entre as raças que vamos vencer o racismo e o preconceito, ao invés de se provocar separatismo e divisão, instigando-se disputas raciais improdutivas que geram mais distorções e injustiças, além de violência e competição. Mas, para alguns, quanto pior, melhor. A quem interessa todo esse separatismo e divisão racial?