Dê passagem para poder seguir em paz

Dê passagem para poder seguir em paz

Não há como negar as incríveis transformações que a contemporaneidade vivencia no momento. Avanços em inúmeras áreas, sobretudo na tecnologia, vêm contribuindo para a transformação da sociedade. Num tempo de constantes mudanças que interferem de forma positiva ou negativa – conforme o modo peculiar com o qual cada um toma para si o que é oferecido – uma coisa se mantém: o fator humano. Ainda somos os mesmos, porém com características e ações potencializadas ou exacerbadas pelo lugar no qual estamos inseridos.

Um contexto representativo de nosso cotidiano é o trânsito. Nele, numa fração de segundos ou horas vivenciamos quase tudo que é possível, desde gentilezas até desavenças, de favores até falta de educação, de relacionamentos que se iniciam num simples olhar até brigas que terminam em mortes.

No trânsito pessoas se conhecem, compartilham vivências e se interagem quase sempre de forma positiva quando o momento está bom. Mas, basta uma cochilada no semáforo para se ouvir “acorda, lerdo!” ou “comprou carteira onde?”, entre outras infindáveis frases de teor pejorativo e ofensivo.

Pesquisa realizada pelo Instituto Real Time Big Data nos dias 18 e 19 de junho de 2024 evidenciou dados preocupantes sobre o comportamento do brasileiro no trânsito. Na pesquisa, 68% disseram já ter presenciado alguma discussão ou briga entre motoristas nos 3 meses anteriores. Os dados mostraram que 71% responderam que no trajeto diário se considera calmo e paciente, outros 26% informaram se sentir um pouco ansiosos, enquanto 3% relataram se sentir estressados ou irritados.

“O problema é o outro” responderiam quase todos, e provavelmente também você, caro leitor! Na referida pesquisa, 61% responderam que a imprudência de outros motoristas é o principal motivo de irritação no trânsito. Outros 34% relataram a falta de respeito às leis de trânsito. Quase 40% dos participantes informaram que já sofreram alguma ameaça de outro motorista e 85% disseram que não se sentem seguros dirigindo nas ruas de sua cidade. Enfim, num contexto notadamente repleto de normas, regras, sinalizações e orientações, tantos números negativos indicam que falta o básico: respeito e empatia!

De onde viria tanta agressividade e hostilidade no trânsito? As respostas são muitas, em geral relacionadas com a forma com a qual nos comportamos em sociedade porque o trânsito é um reflexo dessa mesma sociedade. Ainda que pouco mais de 70% se considerem calmos, conforme a pesquisa, conforme a pesquisa, 38% relataram vontade de, em algum momento, agredir fisicamente alguém no trânsito.

A conta não fecha! Com certeza falta algo nesta equação e provavelmente a incógnita e possibilidade de resolução está com a variável mais complexa: você. Isso mesmo, cabe a você fazer o que o outro ignora! Cabe a você colocar em prática regras criadas para nos preservar, e cabe a você se proteger e proteger o outro de forma respeitosa, disseminando novos hábitos que se tornarão a base de uma cultura de paz no trânsito.

O simples ato de buzinar no trânsito não vai fazer fluir o movimento, xingar alguém indeciso não vai proporcionar uma opção de resolução e o excesso de velocidade, em muitos casos, não significa chegar a tempo num local, mas sim encerrar a própria vida ou de outros no meio do caminho.

A tensão que vivenciamos todos os dias não precisa ser canalizada para nossas condutas no trânsito. Temos sim a opção de escolher uma vida mais tranquila em todos os contextos de nossa sociedade. Fica aqui a recomendação para continuar seguindo em paz: não apenas respeite e cumpra as regras, seja tolerante e paciente, ajude e saiba receber ajuda, tenha bom senso e pratique gentileza no trânsito, deixe passar para também poder seguir.

Carlos Luiz Souza é psicólogo especialista em Trânsito e vice-presidente da Associação de Clínicas de Trânsito de Minas Gerais

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