Cyberbullying: quem é seu filho no mundo virtual

Cyberbullying: quem é seu filho no mundo virtual

Se em uma sala repleta de pais e filhos, a plateia for questionada: “Você cuida do seu filho?”. A resposta prontamente será: “Sim, claro!”. Os pais prontamente afirmam que levam e buscam os filhos na escola, sabem onde e com quem estão e orientam firmemente sobre como devem se comportar em lugares públicos, seja com conhecidos ou estranhos. Quando um pai ensina seu filho a andar de bicicleta ou a atravessar a rua, as regras de trânsito, os equipamentos de proteção e orientações sobre velocidade, quedas e atenção a perigos também estão junto do pacote de orientações.

Mas e no ambiente virtual? Quem é seu filho? A pergunta ecoa um pouco mais fundo na sala e certamente levanta pontos de interrogação na cabeça dos adultos. Quais são as orientações que ele recebe ao passar pelas redes sociais, fóruns e chats privados? Você sabe dizer se seu filho é uma vítima ou um agressor no mundo virtual? Quais foram as orientações que ele recebeu sobre comportamento, interação, respeito e limites?

De acordo com uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada seis crianças de 11 a 15 anos sofreu cyberbullying em 2022. O termo indica a versão virtual do assédio e de ações repetitivas de intimidação entre crianças e adolescentes. Com o agravante de que na internet, há o efeito multiplicador, pois o ataque tem maior audiência e fica registrado para que um grupo ou um público aberto possa acessá-lo.

Esse tipo de insulto, humilhação e violência psicológica tem um impacto devastador na saúde mental de pré-adolescentes e jovens. O nível de constrangimento e intimidação é tamanho que pode ultrapassar as telas e ter consequências reais e até fatais. Sim, há inúmeras mortes registradas por pessoas que não viram outra solução a não ser tirar a própria vida em decorrência de bullying.

O Brasil ocupa um lugar preocupante no ranking mundial. Somos o segundo país com maior incidência de episódios de cyberbullying, segundo dados do Instituto Ipsos. Um avanço nesse sentido, foi a recente criminalização desse tipo de violência. Uma lei aprovada em dezembro de 2023 no Congresso Nacional determinou que bullying e cyberbullying estão entre crimes previstos no Código Penal. Em caso de condenação por bullying, a pena é uma multa, que pode ser agravada de dois a quatro anos de prisão em caso de cyberbullying. Além do agressor, estão passíveis de punição também administradores de grupos e comunidades em redes sociais, que respondem legalmente pelos atos cometidos no ambiente virtual.

Por isso, voltamos à pergunta: quem é seu filho no mundo online? Será que ele se sente à vontade para fazer bullying com colegas e amigos no ambiente virtual? Será que aquela figurinha inocente, feita naquele momento engraçado e compartilhada com toda a turma é uma brincadeira inofensiva? Esse julgamento, que precisa de ética, moral e muito bom senso, é construído diariamente e começa em casa, com a família, com apoio da escola. São exemplos, conversas e debates no mundo offline que constroem o caráter dos nossos filhos.

O ambiente escolar tem suas responsabilidades, já que é o lugar de socialização e convivência primário de crianças e jovens. É lá que eles põem em prática as regras sociais que aprenderam e que constroem vínculos, fortalecem sua identidade e experimentam diferentes sentimentos em relação à socialização. A escola tem o dever de acompanhar de perto o comportamento de seus estudantes, incentivando boas práticas e prevenindo atitudes negativas. No entanto, as limitações da escola são muitas. Seu controle segue somente até seus muros e durante os dias letivos. Além disso, cabe à família orientar, prevenir e principalmente evitar o bullying, seja no off ou online. Empatia, sensibilidade e educação se aprende em casa, e se leva a todo lugar.

Fernanda Musardo, especialista em mídias sociais e negócios na internet e consultora do Colégio Marista Santa Maria

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