O Dia Internacional de Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos, na quarta-feira (29/9), foi marcado por várias ações da Prefeitura para reforçar a importância do consumo consciente. Mas em Curitiba a preocupação em aumentar o engajamento dos curitibanos nas causas da redução do desperdício e do combate à fome é permanente, com vários programas e ações integrados sendo desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Segurança Alimentar (SMSAN).
“Dados da ONU mostram que 931 milhões de toneladas de alimentos são jogados fora por ano em todo o mundo e, para 121 kg de alimentos desperdiçados a cada ano por habitantes em todo o planeta, 74 kg são desperdiçados no preparo nas próprias residências. Por isso, todo este esforço de Curitiba para reduzir o desperdício e combater a fome”, afirma Luiz Gusi, secretário municipal de Segurança Alimentar e Nutricional.
Gusi lembra que Curitiba aderiu à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e está comprometida em atingir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12, de Consumo e Produção Responsáveis. “Buscamos conscientizar e incentivar a redução do desperdício de alimentos per capita e diminuir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento”, salienta ele.
O secretário lembra ainda que o prefeito Rafael Greca está profundamente preocupado com este problema, principalmente, neste momento de pandemia.” Por isso, todo município, em especial a área de segurança alimentar, está empenhada em divulgar iniciativas de consumo consciente e combate à fome para aumentar o engajamento da população com as causas”, reforça Gusi.
Ações
Desde 2017, a Prefeitura de Curitiba tem desenvolvido várias ações para reduzir o desperdício e a fome na capital. Cursos de Educação Alimentar e Nutricional são ofertados gratuitamente em espaços públicos, como Ruas da Cidadania, escolas, feiras, Armazéns da Família, Sacolões da Família, Mercado Municipal e até em praças e hortas urbanas. As aulas ocorrem na unidade móvel da SMSAN e também, a partir deste mês, na Fazenda Urbana de Curitiba, no Cajuru.
“São cursos presenciais e EAD, como de aproveitamento integral dos alimentos, valorização de alimentos in natura, redução de consumo de gordura, sal e óleo e preparo de conservas e compotas, que podem ser agendados través da plataforma Aprendere”, conta a nutricionista Tayana Fernandes Cecon, da SMSAN, responsável por ministrar várias das aulas.
Criado em 2020 para reduzir os impactos da pandemia na população mais carente da capital, o Banco de Alimentos de Curitiba agora é permanente e arrecada gêneros alimentícios próprios para o consumo humano, porém, que perderam o valor comercial (têm algum tipo de “machucadinho”). São gêneros alimentícios dos Armazéns da Família, alimentos colhidos da Fazenda Urbana e as chamadas “xepas” de feiras, Sacolões da Família, Mercado Municipal, Mercado Regional Cajuru e da iniciativa privada que são destinadas a instituições parceiras do município no Mesa Solidária.
“Desde o início da sua operação, em maio de 2020, o Banco de Alimentos de Curitiba já doou 192 toneladas de alimentos para as instituições do Mesa Solidária”, salienta Morgiana Kormann, gerente de Programas Alimentares da SMSAN, como o Mesa Solidária e o Banco de Alimentos.
Lançado em dezembro de 2019, o Mesa Solidária é uma ação de combate à fome da população em risco social. A iniciativa é um trabalho conjunto de órgãos da Prefeitura (como SMSAN e FAS), que cedem locais e apoio logístico, com mais de 50 entidades parceiras, entre instituições religiosas, ONGs e movimentos de apoio às pessoas em situação de rua, que adquirem, preparam e servem os alimentos para moradores em situação de rua, desempregados e idosos. Em quase dois anos, já foram distribuídas 490 mil refeições.
No dia 28 de setembro, comerciantes da Feira do Rebouças entregaram para representantes da Igreja Presbiteriana do Capão da Imbuia, parceira do Mesa Solidária, 300 quilos de hortaliças, legumes, verduras e frutas que perderam o padrão comercial. “As doações das frutas e verduras pelos comerciantes das feiras vão nos ajudar a diversificar os lanches para as pessoas carentes. Só nós preparamos 250 refeições, toda terça-feira, que são servidas no Restaurante Popular do Capanema”, salienta Ozias Carvalho, membro da Igreja Presbiteriana do Capão da Imbuia.
O feirante do Rebouças Romeu Ribeiro de Almeida já tinha começado a separar os hortifrutis para doação já no meio da manhã de terça-feira (28/9). “Vou percebendo que os fregueses descartam alguns produtos e já tiro da banca para o Mesa Solidária”, conta ele. Ribeiro também participar da ação na Feira do Alto da Glória, aos sábados. “Todo mundo tem que ajudar em um momento tão difícil”, convida o feirante.
Compostagem
Na Fazenda Urbana, além dos alimentos plantados nos canteiros se tornarem em refeições servidas por entidades no Mesa Solidária, também é incentivado que a população transforme cascas de legumes, frutas, ovos e até filtros de café em um potente adubo orgânico para as hortas em suas casas. O projeto Compostroca é uma parceria da Prefeitura com o Coletivo Ambiente Livre que envolve, neste momento, 19 famílias do bairro Cajuru que vivem próximo à Fazenda Urbana.
Uma vez na semana, as famílias deixam o resíduo na Fazenda Urbana onde será realizada a compostagem. A entrega é feita em “bombonas” (embalagens) cedidas pelo Coletivo Ambiente Livre.
As famílias participantes do projeto também começam a ser capacitadas. “Elas estão sendo orientadas sobre plantio, compostagem, aproveitamento integral dos alimentos e tipos de hortas em pequenos espaços”, explica Maurício Gikoski, cofundador Coletivo Ambiente Livre e responsável técnico do Compostroca.
De acordo com o engenheiro agrônomo Marcos Rosa, da Fazenda Urbana, a compostagem é um processo biológico de transformação da matéria orgânica, por ação de microrganismos, num composto fertilizante natural, semelhante ao solo. “Restos de comida e resíduos verdes são matérias orgânicas que podem ser utilizados em jardins, hortas ou quintais”, completa.
Moradora do bairro, a professora Vanessa Domingos Amaro Borba, está participando do Compostroca e conta que, além de cuidar da horta de casa, onde planta cebolinha, salsinha e flores, pretende levar o conhecimento em compostagem para seus alunos do CMEI Cajuru. “Trabalho com os meus estudantes na nossa horta escolar. É muito importante as crianças aprenderem sobre plantar, compostar, sobre o cuidado com o meio ambiente”, diz.
Quem participa das visitas guiadas na Fazenda Urbana também recebe orientações sobre compostagem (agende no portal Aprendere a sua visita). Além disso, há um projeto piloto em desenvolvimento para absorção de resíduos do Mercado Regional do Cajuru, que fica ao lado da Fazenda Urbana, que prevê o redirecionamento de alimentos fora do padrão de comercialização para o Mesa Solidária e apenas o resíduo orgânico impróprio para compostagem.