A quarta-feira (29/09) foi um dos dias mais movimentados na CPI da Covid-19, no Senado Federal, com o depoimento do empresário catarinense Luciano Hang. Tanto que o vídeo em que consta o depoimento do empresário, na TV Senado, bateu recordes de visualizações, somando cerca de 1,5 milhão de acessos. A entrevista coletiva que Hang deu após, junto com o senador Flávio Bolsonaro, alcançou os mesmos patamares de visualizações.
O empresário foi chamado à CPI de uma forma que, muita gente, ainda não entendeu qual o motivo. Afinal, trata-se de um dos grandes empresários do país cuja única ligação com o Governo Federal, pelo que se sabe até o momento, é ser um grande apoiador do presidente da República. O fato de sua mãe, Regina, ter falecido de Covid-19 em um hospital em São Paulo pertencente ao seguro de saúde privado Prevent Sênior foi o grande gatilho para a CPI chamá-lo. Os objetivos são claros: a cúpula da CPI tenta associar as atividades da Prevent Sênior no tratamento de seus pacientes com Covid-19 ao Governo Federal. Busca-se atrelar o tratamento com o “kit Covid-19” utilizado por uma empresa privada ao Governo Federal.
Busca de um elo “criminoso” com o presidente Bolsonaro
Ora, o que uma empresa privada de seguro de saúde teria a ver com o Governo Federal e sua política de enfrentamento à Covid-19? Para os integrantes da CPI, parece que tem tudo a ver. Ao menos, é o que tentam mostrar. Se a Prevent Sênior cometeu crimes e irregularidades em seus protocolos médicos de tratamento à Covid-19, isso deve ser investigado, naturalmente. Contudo, querer levar um caso relativo à iniciativa privada a uma CPI que tem a única prerrogativa de investigar fatos do Governo Federal no tocante à pandemia, extrapola a ética. A tentativa, notoriamente, é encontrar algum elo de ligação entre as práticas médicas na Prevent Sênior e o Governo Federal. Porém, até o momento, tudo com o que os senadores contam é o depoimento da advogada Bruna Morato, que está defendendo ex-médicos da Prevent Sênior que denunciam a empresa por irregularidades em seus protocolos de tratamento à Covid-19.
Discurso sem provas
Os senadores têm se baseado na palavra de uma única pessoa, a advogada Bruna Morato, para tentar fixar um elo de ligação entre a Prevent Sênior e o Governo Federal. A advogada disse que haveria, sim, um “gabinete paralelo” no governo com o intuito de usar os tratamentos supostamente bem-sucedidos à Covid-19 na Prevent Sênior como exemplos a serem seguidos pelo Ministério da Saúde. Disse, ainda, que foi estabelecido um “pacto“ entre Governo Federal e a empresa para incentivar o uso da hidroxicloroquina entre a população, a fim de colocar o medicamento como esperança no tratamento da doença. O objetivo seria atender aos interesses do Ministério da Economia, que não queria ver a economia parada. Assim, a população ficaria confiante em abandonar os lockdowns e seguir a vida normalmente, sem prejuízos à economia.
Graves acusações sem provas
O depoimento da advogada conteve acusações muito graves à Prevent Sênior e ao Governo Federal. É providencial que ela apresente provas, realmente, que vão além de seu discurso. Pois, revelou até supostos fatos aparentemente surreais e privados, a exemplo de funcionários serem obrigados a cantarem o hino da empresa.
“Kit Covid-19” e autonomia médica
Enquanto o trabalho da CPI continuar baseado em meros depoimentos sem provas, torna-se bastante complicado à opinião pública conhecer a verdade. A advogada de ex-médicos da Prevent Sênior defende, acima de tudo, seus clientes, que acusam a empresa de obrigá-los a prescrever o tratamento com o “kit Covid-19”. É algo bastante inverossímil imaginar médicos sendo obrigados a prescrever medicamentos com os quais não concordam, sendo que o Conselho Federal de Medicina prevê a autonomia médica no tratamento aos seus pacientes. Vale ressaltar, também, que é muito estranho a advogada resolver “abrir o bico” somente agora, quando a CPI caminha para a conclusão de seus trabalhos.
Luciano Hang deverá processar senadores
O empresário Luciano Hang disse que irá processar cada um dos senadores a quem prestou depoimento na CPI. Deverá acusá-los não, apenas, por vazamento de documentos sigilosos (o atestado de óbito e o prontuário médico de sua mãe) mas, por danos morais. “Foi um crime moral, uma desumanidade o que cometeram os senadores”, disse Hang. O empresário está em seu absoluto direito ao processar senadores da CPI, pois, conforme disse, o colegiado cometeu o maior crime desde seu início a partir da exposição pública do atestado de óbito e prontuário médico de sua mãe. Aliás, a médica Nise Yamaguchi, meses atrás, anunciou que faria a mesma coisa: processar senadores da CPI.
Assassinato de reputação e intimidação
Independentemente de supostos crimes que a Prevent Sênior possa ter cometido – que deverão ser investigados pela Assembleia Legislativa de São Paulo a partir da abertura de uma CPI já anunciada – a CPI do Senado Federal ultrapassou, mais uma vez, os limites do bom senso, da moralidade e da ética ao devassar a vida privada do empresário. Foi uma clara tentativa de assassinato de reputação e intimidação de um empresário que gera milhares de empregos no país, empreende e acredita no desenvolvimento da nossa economia, paga uma fortuna em impostos e ainda investiu cerca de R$ 5 milhões em doações para a área de saúde, e exemplo de investimentos em UTIs. Acusado de “negacionista” na CPI, disse que nunca negou a gravidade da doença, inclusive, lembrando que doou 200 cilindros de oxigênio a Manaus (terra do senador Omar Aziz), somando R$ 1 milhão. Parece que se tornou crime no país ser um empresário conservador, que acredita no potencial do trabalho e do empreendedorismo e ainda investe em responsabilidade social a partir de doações.