CPI da Covid-19 descamba para factoides e acusações sem provas
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

CPI da Covid-19 descamba para factoides e acusações sem provas

Não bastasse o escândalo da suposta tentativa de superfaturamento em cima da compra da vacina indiana Covaxin, em que envolveu o nome do deputado federal Ricardo Barros (PP-Pr), líder do Governo, eis, que surge um outro caso, este denunciado pela Folha de São Paulo em reportagem publicada na terça-feira (29/06). Mas, desta vez, a história se revela muito mais mal contada que a primeira. A reportagem do jornal acusa um funcionário do Ministério da Saúde de ter pedido propina de um dólar por unidade para a compra de vacinas da AstraZeneca, que seriam supostamente adquiridas por intermédio de uma empresa do Texas, EUA, chamada Davati Medical Supply. Quem deu a entrevista foi o cabo da PM de Minas Gerais, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que também se apresenta como representante comercial da Davati Medical Supply no Brasil. Dominguetti acusa o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, de ter feito pedido de propina no valor de um dólar para cada dose de vacina comprada. O representante da Davati no Brasil afirma ter negado a proposta para entrar no suposto esquema de corrupção.

História mal contada

Ocorre que, a olhares mais perspicazes, torna-se muito difícil acreditar na veracidade integral dessa história. A AstraZeneca afirma não possuir nenhuma relação comercial com a Davati Medical Supply. As negociações para a compra da vacina AstraZeneca no Brasil foram todas feitas por intermédio da FioCruz, instituto tradicional que se tornou o fabricante desta vacina no país. Outro dado suspeito é que a tal empresa texana já foi acusada de tentativa de golpe no Canadá, na província de Saskatchewan, em alerta veiculado no site de notícias daquele país, o MBC News. A empresa texana não seria credenciada a vender vacinas da AstraZeneca. E também já teria tentado aplicar outros golpes em cidades de Minas Gerais, fazendo-se passar por representante credenciado de indústrias farmacêuticas, conforme reportagem da imprensa local demonstrou em maio passado. Outro “detalhe” inconteste é que a própria reportagem da Folha de São Paulo afirma que a tentativa de venda de vacinas ao Ministério da Saúde fracassou, uma vez que o então secretário executivo da pasta, Élcio Franco, rejeitou, por duas vezes, a proposta da empresa.

Factoide?

Mas, a CPI da Covid-19, mesmo com todos os indícios de que se trata de um factoide plantado pela reportagem da Folha, decidiu chamar para depor o representante da Davati no Brasil, o PM Dominguetti. O resultado? Mais um capítulo de um verdadeiro “circo” armado, trazendo muita confusão ao público que já não sabe quem é o mais mentiroso nessa lambança de troca de acusações e de tentativas de derrubar o Governo Federal. O PM Dominguetti apresenta na CPI um áudio gravado com a voz do deputado Luís Miranda (DEM-DF) – o parlamentar que acusa funcionários do Ministério da Saúde de tentar superfaturar a compra da vacina indiana Covaxin. No áudio, Miranda negocia compras de produtos com outro representante da Davati. Porém, o áudio não menciona ou insinua compra de vacinas, precisamente, nem fala qualquer coisa sobre pandemia, Covid-19, enfim, é uma gravação obscura, que não deixa claro sobre de que se trata o assunto. Inclusive, há menção a distribuição dos produtos em lojas como a rede de supermercados Wallmart. Vacinas vendidas em supermercados?

Pedido de prisão por “falso testemunho”

O deputado Luís Miranda confirma a veracidade do áudio, mas, diz que a conversa aconteceu em 2020 e não tem nada a ver com a compra de vacinas, e, sim, de outros produtos dos EUA. Dominguetti ainda disse à CPI que outros parlamentares teriam tentado comprar vacinas por intermédio da Davati, mas, o mais insistente seria Miranda. Os membros da CPI ficaram atônitos, acusando Dominguetti de levar um “cavalo de tróia” à comissão. Houve pedido de prisão a Dominguetti pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) acusando-o de mentir na CPI, mas o presidente da Comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), negou atendimento ao pedido, alegando que se trata de um pai de família, e que “não se deve fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem conosco”.

Reportagem duvidosa da Folha de São Paulo

A reportagem da Folha de São Paulo e os desdobramentos na CPI são bastante intrigantes. A Folha de São Paulo teria topado veicular reportagem duvidosa com o intuito de incriminar funcionário do Ministério da Saúde e, por consequência, prejudicar o governo Bolsonaro? Dominguetti, ao que tudo indica, queria realmente armar uma arapuca contra Miranda, visando desqualificar suas denúncias a partir da manjada tática de se tentar desqualificar o próprio denunciante. A entrevista à Folha de São Paulo teria sido uma “pegadinha” à CPI , supondo Dominguetti que seria chamado à Comissão após a veiculação da reportagem e, assim, conseguir levar a público o áudio contra Miranda? Se foi essa a pretensão, revela-se uma tentativa das mais toscas. Afinal, ou se apresenta provas contundentes, ou é melhor ficar quieto no seu canto. Aliás, por falar em provas, o próprio deputado Miranda, ainda, não provou em áudio que o presidente Bolsonaro estaria sabendo da suposta tentativa de superfaturamento com a compra da vacina indiana Covaxin. Se for para continuar com a palavra de um contra a palavra de outro, tão somente, sem se provar absolutamente nada, melhor encerrar essa CPI. Como se diz nas redes sociais: “Parem, que está feio”.

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