Um restaurante, em São Paulo, da rede de franquias Freshouse chamou a atenção nas redes sociais e, consecutivamente, na imprensa devido a um polêmico comunicado afixado no balcão de atendimento. A unidade, localizada no shopping Marketplace, na zona sul de São Paulo, ao justificar a falta de funcionários e a demora no atendimento, responsabilizou o Bolsa Família pela situação.
De acordo com o comunicado, a dificuldade em encontrar funcionários seria devido “ao pessoal do Bolsa Família e da cervejinha que não quer trabalhar”. Dando a entender que as pessoas estariam recusando trabalhar na empresa por preferirem viver de Bolsa Família.
Pedido de desculpas
Clientes, ao verem o comunicado afixado, compartilharam nas redes sociais, que, sem demora, viralizou, gerando polêmica. Houve os que concordaram com a explicação sugerida pelo comunicado e aqueles que discordaram. A empresa, ao ver o caso sendo objeto de reportagem na imprensa, até, emitiu uma nota esclarecendo que a decisão de afixar o comunicado não partiu da diretoria da empresa, que não estaria ciente da iniciativa. Um pedido de desculpas, também, foi feito.
Vagas de trabalho abertas
Felizmente, a empresa pediu desculpas e explicou que a iniciativa não partiu da diretoria. Mas, a polêmica gera reflexão importante, pois, a ausência de interessados em preencherem vagas em diversos setores do comércio e de prestação de serviços tem sido frequente no país, ultimamente. Diversas reportagens têm revelado a dificuldade que determinados setores têm encontrado para contratar funcionários. Não somente por falta de mão-de-obra qualificada, mas, principalmente, por falta de candidatos interessados em preencherem as vagas.
Supermercados em crise
O SBT News fez uma matéria, dias atrás, sobre as dificuldades do setor de supermercados para atrair interessados nas vagas. Haveria cerca de 35 mil vagas abertas em todo o país. A ABRAS – Associação de Supermercados culpa as novas gerações, a geração Millenials e a geração Z, pelo desinteresse. Os mais jovens, nascidos a partir de 1982 (os Millenials e geração Z) em diante, não estariam dispostos a trabalhar no setor. A reportagem, inclusive, mostra uma funcionária de 58 anos recém-contratada no setor e que estaria satisfeita com o novo emprego, devido a benefícios como, plano de saúde e vale-alimentação.
Desafios com novas gerações
O que estaria acontecendo para tanta dificuldade das empresas em preencher vagas no comércio e em prestação de serviços como, restaurantes? Muito se tem falado dos baixos salários e da escala 6×1, onde só se tem um dia de descanso na semana. A jornada de trabalho, nestes casos, costuma ultrapassar as 40 horas semanais. O trabalhador, em geral, não estaria mais disposto a enfrentar uma jornada, convenhamos, bastante pesada, para ganhar pouco. O grande problema é que a média salarial no país é muito baixa. No setor de supermercados, por exemplo, de acordo com a reportagem do SBT, a média varia entre R$2 mil a R$2.500. Estes valores, alguns anos atrás, não eram tão baixos. Porém, a inflação tem disparado. Os preços dos aluguéis e dos serviços, em geral, estão absurdos, também, não, apenas, dos alimentos. Enfim, considerando o custo de vida atual, trata-se de vagas mal remuneradas, realmente.
Escala 6×1
Para piorar, a escala 6×1 é realmente cruel, visto que o expediente costuma ser de oito horas diárias. O trabalhador ainda tem de deslocar-se de casa para o trabalho e do trabalho para casa, subtraindo mais um bom tempo de seu dia com o transporte.
Qualidade de vida
O questionamento que as novas gerações têm feito é: ”quê tempo sobra para cuidar da família, da vida pessoal e da saúde?”. Praticamente, nenhum, durante seis dias da semana. Outra reclamação é a de que muitas vagas nestas empresas terminam por levar o funcionário a executar diversas funções. Ou seja, alega-se que o funcionário seria colocado para fazer o trabalho de dois ou três funcionários. Muitos das gerações mais jovens não querem um estilo de vida que consideram de “trabalho escravo“, classificando tais vagas como “subemprego“.
Grandes e pequenos empresários
As dificuldades para empreender no país não são desconhecidas da maioria. A pesada carga tributária é elevada a quem quer abrir seu negócio próprio. Mas as dificuldades costumam ser maiores às empresas de menor porte. Grandes grupos empresariais têm obtido faturamentos crescentes, não importa se o governo federal é de esquerda ou de direita. Com crise ou sem crise. Quando a vaga ofertada revela-se atraente a partir de salários compatíveis com o custo de vida atual, a partir de benefícios vantajosos como vale-alimentação, plano de saúde, e outros, a tendência é atrair mais interessados em candidatarem-se. Um horário de expediente menor, ou a oferta de dois dias de descanso semanais, também, pode tornar as vagas mais atrativas.
Desinteresse da geração Z
Estes são alguns dos desafios no mercado de trabalho trazidos pelas mudanças culturais impostas pelas gerações Millenials e Z. Em especial, a geração Z tem sido recusada por muitas empresas devido a uma suposta falta de comprometimento com o trabalho e as responsabilidades. É bem provável que ambas as partes apresentem sua parcela de razão. Os jovens alegam não quererem ser “escravizados” em subempregos, por um lado. Há uma certa razão nisso. Mas, o empregador também tem sua razão quando reclama do comportamento dos jovens nas empresas. São inúmeras as histórias de jovens que mal chegam na empresa já querendo saber quando vão tirar férias, não cumprem horários de entrada e saída, não executam mais nada além de sua função, não demonstrando interesse em desenvolverem-se e aprenderem mais dentro da empresa. A crise no mercado, enfim, está instalada, com a chegada das novas gerações.
Avanço da Inteligência Artificial (IA)
Enquanto isso, a Inteligência Artificial (IA) avança ameaçando ocupar postos de trabalho no lugar das pessoas. Num breve futuro, a oferta de empregos tenderá a uma drástica redução a partir da substituição da força de trabalho humana pela tecnologia, pela IA, por robôs… Faltará Bolsa Família e benefícios do governo para tanta gente desempregada. Infelizmente, este é o prognóstico dentro de um mercado de trabalho em que as partes não conseguem chegar a um acordo satisfatório para ambas.