Com Ministro Moro enfraquecido, governo Bolsonaro perderia popularidade

Com Ministro Moro enfraquecido, governo Bolsonaro perderia popularidade

por Vanessa Martins de Souza

“No momento, está descartada a possibilidade de criação de um Ministério da Segurança Pública”, disse o presidente Jair Bolsonaro na manhã da sexta-feira (24), durante viagem à Índia. O suspiro de alívio foi geral a grande parte dos brasileiros apoiadores do governo e principalmente do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Mas a pulga atrás da orelha permanece entre aqueles que não apoiam cegamente o presidente da República. Bolsonaro estaria cogitando, nos bastidores, enfraquecer o super-ministro? Por que teria dado declarações imprecisas nos dois dias antes se não cogitava essa possibilidade?

Direita dividida

A direita encontra-se dividida nessa questão. Há aqueles eleitores mais devotos ao presidente da República que confiam de maneira acrítica em Bolsonaro, jamais cogitando a possibilidade de que este poderia passar uma rasteira em Moro e trair seu eleitorado. Mas, há outra turma que não duvida nem um pouco de que o presidente seria capaz de enfraquecer o ministro. Possivelmente, com receio da popularidade de Moro, que é maior que a de Bolsonaro, e que esse possa ameaçar suas chances de reeleição em 2022, lançando uma candidatura própria. Alguns vão além e acreditam que Bolsonaro teria traído seus eleitores ao ter fechado acordo com a quadrilha da corrupção em Brasília para minar a operação Lava Jato. Em troca, obteria apoio no Congresso Nacional para as reformas, a exemplo da tributária. Já os que apostam todas as suas fichas na honestidade e sinceridade de Jair Bolsonaro perante seus eleitores e compromissos de campanha, entre eles, o duro combate à corrupção, alegam que tudo não passaria de uma trama da grande imprensa para desestabilizar o governo criando-se factóides. De fato, boataria ou não, essa não é a primeira vez que a imprensa lança manchetes alarmistas sobre uma eventual possibilidade de queda do ministro Moro em razão de suposta “traição” de Bolsonaro. No ano passado, especulou-se rompimento semelhante.

Reunião desconfortável para Moro

Contudo, dessa vez, há um fato mais concreto que gera, no mínimo, alguns pontos não bem esclarecidos. Na quarta-feira, o presidente Bolsonaro reuniu-se em Brasília com secretários de segurança pública dos estados (alguns veículos dizem que foram 22 deles, outros, dezessete). Tais secretários sugeriram, entre outras coisas, a criação de um Ministério da Segurança Pública, pois, segundo eles, o ministério de Moro não estaria dando conta do recado por dar atenção mais ao combate à corrupção. O que não é verdade, uma vez que há dados fartos sobre redução da criminalidade após a criação do super-ministério. A divisão do Ministério também ganhou apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que, tempos atrás, andou engalfinhando-se com Moro. Estranhamente, Bolsonaro não foi enfático ao negar a divisão, num primeiro momento. Limitou-se a dizer que essa proposta seria estudada com outros ministros e que seria lógico que Moro deve ser contra. As reações populares, após essa declaração, não foram nada boas. Houve indignação nas redes sociais, muita indignação, mesmo. Ao que parece, Bolsonaro recuou na sexta-feira após dar-se conta de que a medida seria extremamente impopular, podendo seu governo como um todo perder apoio. Teria Bolsonaro testado reações ao ventilar essa possibilidade “a ser estudada”?

Humilhação ao superministro

Se Bolsonaro repetir o modelo de Ministério da Segurança Pública de seu antecessor, Michel Temer, Moro perderia o comando da Polícia Federal, do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), os três órgãos mais importantes da sua pasta. Ficaria responsável apenas por questões relacionadas a conflitos indígenas, direito do consumidor e outros assuntos de menor protagonismo. Seria uma humilhação ao superministro.

Sucesso no Roda Viva

Outro dado interessante é que a hipótese foi ventilada na reunião com secretários dois dias após entrevista de Sérgio Moro ao programa Roda Viva, na TV Cultura. O ministro foi aclamado nas redes sociais pelo desempenho, tendo muito bem respondido, com a serenidade que lhe é de costume, a uma série de perguntas espinhosas e até capciosas. O nome de Moro à presidência da República em 2022 cresceu em apoios nas redes sociais após a entrevista que deverá se revelar histórica, futuramente. Ao Roda Viva, Moro negou-se a dizer que assinaria um documento comprometendo-se a não candidatar-se a presidente da República em 2022. Desconversou, dizendo que não adiantaria negar que vai lançar candidatura, pois muitos políticos assim o fazem e mais tarde mudam de posição.

Contradição

Também chama a atenção a contradição do presidente Bolsonaro. Disse à imprensa, que o convite para o ex-juiz integrar o governo, em 2018, foi feito antes de se pensar na ideia de formar um “superministério”. “Se for criado, aí o Moro fica na Justiça. É o que era inicialmente. Tanto é que, quando ele foi convidado, não existia ainda essa modulação de fundir (a Justiça) com o Ministério da Segurança”, declarou Bolsonaro na quinta. A afirmação, no entanto, contradiz o que o próprio presidente falou ao anunciar a entrada do ex-juiz da Operação Lava Jato no governo. “O juiz federal Sérgio Moro aceitou nosso convite para o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sua agenda anticorrupção, anticrime organizado, bem como respeito à Constituição e às leis será o nosso norte!”, escreveu Bolsonaro, no Twitter, no dia 1º de novembro de 2018.

Polemizar

Durante a reunião com secretários de segurança pública, à qual Moro não foi convidado, cinco itens foram abordados, sendo o pedido por mais recursos às pastas o principal ponto.Mas, Bolsonaro falou com a imprensa somente sobre a divisão do ministério, o item polêmico da reunião. Culpa da imprensa que gosta de polemizar? Ou de Bolsonaro que parece continuar gostando de polemizar? Quando se junta a fome com a vontade de comer, temos um prato cheio para a semana toda, enfim.

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