Caso Marielle Franco ainda promete desdobramentos e mais politização
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Caso Marielle Franco ainda promete desdobramentos e mais politização

A operação da Polícia Federal “Murder Inc.”, que deflagrou a prisão preventiva dos suspeitos de mandarem matar Marielle Franco aparentemente solucionou o caso. O deputado federal Chiquinho Brazão, juntamente com o irmão, Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, foram apontados como os mandantes da execução da vereadora. O motivo seria a disputa de território na zona oeste do Rio, dominado pelas milícias. Marielle havia se oposto a regularização de terrenos para exploração comercial de interesse dos Brazão. A vereadora defendia que as áreas fossem usadas para fins de moradia social.

Também, foi preso na operação da PF, uma figura que surpreendeu a todos: o delegado Rivaldo Barbosa, suspeito de ter planejado o crime e obstruído a investigação por, a época do assassinato, ocupar o cargo de delegado-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

 

Intervenção federal no Rio de Janeiro

Contudo, o caso Marielle Franco ainda promete novos desdobramentos a partir de especulações sobre o envolvimento do nome do general Walter Braga Netto na investigação. O ex-ministro de Bolsonaro e vice na chapa à reeleição do ex-presidente, era o interventor federal no estado do Rio de Janeiro na ocasião do crime, em março de 2018, no governo Temer. Uma estranha coincidência coloca o nome de Braga Netto em uma situação delicada, para dizer o mínimo. O delegado preso pela PF foi nomeado treze dias antes do crime, tendo assumido o cargo um dia antes da morte de Marielle. Quem assinou a nomeação, como interventor da segurança pública no Rio, foi Braga Netto. O General já se pronunciou alegando que seguiu orientação do general Richard Nunes, o responsável pela pasta de Segurança Pública no estado, durante a intervenção. Porém, o que não ficou esclarecido ainda é o porquê de Nunes ter ignorado recomendação para não nomear Rivaldo Barbosa encaminhada pelo setor de inteligência da Polícia Civil, que o acusava de envolvimento com milícias. Nunes alegou simplesmente que não encontrou dados objetivos no parecer da inteligência para opor-se ao nome de Barbosa.

 

Banda podre da polícia civil

Tudo pode ter sido uma infeliz coincidência acompanhada de negligência dos supostos incautos Nunes e Braga Netto em relação a nomeação absurda de um delegado criminoso, envolvido com as milícias, para a chefia da Polícia Civil. Mas não se pode deixar de lado uma apuração mais detalhada do que realmente aconteceu.

 

Wilson Witzel polemiza

Se depender do ex-governador do Rio, Wilson Witzel, há muita coisa ainda a ser esclarecida. Quem lembra do impeachment – relâmpago do governador do Rio, em meados de 2021, por unanimidade na Alerj, devido a acusação de corrupção envolvendo supostamente superfaturamento nas compras da pandemia? Foi difícil assimilar um impeachment tão fora da curva, mas como a imprensa não gostava do ultradireitista que comemorava a morte de bandidos, foi logo esquecido. Assim que deflagrada a operação da PF, no dia 24, domingo, Witzel saiu do ostracismo enviando “recados” pelas redes sociais. Disse que sofreu impeachment porque foi em seu governo que os executores Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram presos, cerca de um ano após o crime. Segundo o ex-governador, que teve seus direitos políticos suspensos por cinco anos, e atualmente filiado ao Partido da Mulher Brasileira, o motivo de o terem defenestrado do cargo teria sido para impedir que as polícias, em seu governo, chegassem aos mandantes do assassinato.

 

Ex-bolsonarista

Witzel tem dado entrevistas a veículos de imprensa de esquerda, inclusive, para contar muita coisa daquela época em que, assim que assumiu o cargo, demitiu Rivaldo Barbosa e o delegado de homicídios Giniton Pires, homem de confiança do delegado-geral da Polícia Civil. Assim que saíram os dois delegados que estavam obstruindo as investigações, a polícia conseguiu chegar aos executores e dava sinais de que chegaria aos mandantes, conta ele. Witzel, que se tornou desafeto de Bolsonaro após ter sido eleito na esteira do bolsonarismo, em 2018, tem lavado a alma com a prisão dos mandantes do assassinato de Marielle. Inclusive, jogando mais lenha na fogueira da politização do crime. Disse que a Polícia do Rio já sabia quem eram os executores em 2018, mas teria ocultado a informação a imprensa por se tratar de ano de eleições presidenciais. Com isso, joga o nome de Bolsonaro nesta fogueira infinda que muita gente não quer que ela se apague.

 

“Interesses eleitorais”

O polêmico ex-governador referiu-se a pegar mal a divulgação do nome de Ronnie Lessa por este ter sido vizinho de condomínio do então candidato a presidente Jair Bolsonaro, no Vivendas da Barra. O ex-bolsonarista não chegou a responsabilizar os generais Braga Netto e Richard Nunes pela ocultação a imprensa. Mas afirmou que certamente os delegados sabiam e que é preciso investigar se os generais sabiam ou não sabiam. Ora, agora que a PF apontou o envolvimento dos delegados no crime é fácil Witzel dizer que, em 2018, a polícia do Rio já sabia, não?

 

Especulações

De qualquer forma, a estranha coincidência da nomeação do delegado Rivaldo Barbosa treze dias antes da morte de Marielle realmente é bastante intrigante, alimentando especulações sobre o envolvimento de mais nomes de poderosos neste crime. A suspeita está levantada e,sem dúvidas, merece uma investigação mais apurada. Mesmo que sirva de munição para mais politização do caso,o único compromisso da Polícia Federal deve ser com o completo esclarecimento dos fatos.

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