A apresentadora Xuxa, junto com artistas e celebridades como Patrícia Pillar e Marcelo Tás, querem a cassação do mandato de senadora da ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, recém-eleita ao Senado pelo Distrito Federal. Xuxa já conseguiu um abaixo-assinado com 500 mil assinaturas. Tudo por que a ex-ministra fez uma denúncia grave de crimes de exploração sexual e tráfico de menores ocorridos, supostamente, na Ilha de Marajó, no Pará. Detalhes da atuação dos criminosos foram relatados durante um culto da igreja Assembleia de Deus, em Goiânia, no sábado, dia 8. Estranhamente, artistas, a grande imprensa e a esquerda demonstram mais indignação com a denunciante que com os crimes denunciados. Acusam-na de prevaricação, por supostamente não ter feito nada enquanto ministra ao saber desses crimes. Outra acusação a motivar o pedido de cassação seria a propagação de fake news durante campanha eleitoral, o que configuraria crime eleitoral, caso seja provado que Damares mentiu.
Contudo, faltou, no mínimo, boa vontade com a ministra, por desconsiderarem a nota do Ministério da Mulher a imprensa, confirmando a existência de inquéritos sobre exploração sexual de menores na Ilha de Marajó. Diz a nota, inclusive, que uma operação foi deflagrada em aposto de 2019 pela Polícia Civil e o Ministério Público do Pará, a operação Regate Marajó, para coibir crimes de exploração sexual de menores. A operação resultou na prisão de vinte pessoas. Ainda na nota, a pasta afirma que o ministério criou o programa Abrace o Marajó, para uma resposta a situação de vulnerabilidade social, econômica e ambiental na Ilha. E que, desde 2020, já foram investidos R$950 milhões para o desenvolvimento econômico e social da Ilha. ”Esta pasta tem total ciência da gravidade do problema e age diuturnamente para combater essa e outras práticas criminosas”, afirma a nota. Cita, ainda, campanha lançada de prevenção sexual a violência sexual contra menores na internet e que conta com canal de denúncia, sigiloso, para receber informações sobre abuso sexual contra crianças e adolescentes. Há o Disque 100, o aplicativo Direitos Humanos Brasil e o atendimento no Portal do Ministério.
Segundo a pasta, as denúncias são encaminhadas aos órgãos competentes, e posteriormente, monitoradas pelo Ministério para averiguar o andamento das investigações e providências. De acordo, ainda, com o Ministério, apesar do Ministério Público Federal cobrar explicações da ex-ministra, os crimes de exploração sexual de menores na Ilha são de conhecimento público.
A indignação da imprensa e artistas contra a postura da ministra têm todo o jeito de não passarem de indignação político-ideológica, exacerbada pelo período de campanha eleitoral. Se todos estes que pedem a cassação do mandato da ministra, antes mesmo que ela assuma o cargo, estivessem realmente preocupados com crimes de pedofilia e exploração sexual de menores, não estariam todos, de pronto, acusando-a de prevaricação ou de crime eleitoral. Onde já se viu o ato de denunciar crimes hediondos ser considerado mais graves que os crimes em si? Isso só se vê, e muito, no Brasil, onde a polarização ideológica ultrapassa todos os limites do bom senso, da ética e da moralidade. No Brasil, infelizmente, denunciar crimes pode se constituir num grave crime, mais grave que os crimes denunciados. A depender de quem denuncia e de quem é denunciado… Sérgio Moro e Deltan Dallagnol são considerados bandidos criminosos por muitos, só para citar um caso bem emblemático.
Em mais uma triste ironia do destino, um dia depois da nota do Ministério, encaminhada no dia 11, o ator José Dumont, acusado de pedofilia, foi solto da prisão. Um ex-ator global preso recentemente por diversas acusações de crimes de pedofilia ganhou a liberdade, com tornozeleira eletrônica, no Dia das Crianças. Antes fosse piada de mau gosto. Mas, nenhuma palavra da Xuxa, de artistas, de celebridades. Essa indignação seletiva tem destruído todo senso moral da sociedade brasileira. Realmente, a preocupação de tantos artistas com o bem-estar e proteção dos menores é um caso a parte. Digno de estudos nas nossas melhores universidades.