Câncer de Colo do Útero: um desafio de saúde pública que pode ser prevenido

Câncer de Colo do Útero: um desafio de saúde pública que pode ser prevenido

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A principal causa da doença é a infecção persistente pelo papilomavírus humano (HPV)

O câncer de colo do útero representa uma das principais causas de mortalidade por câncer entre mulheres no Brasil, com cerca de 7 mil óbitos anuais (INCA, 2023). Mundialmente, aproximadamente 1 em cada 10 casos de cânceres femininos é de colo de útero (SINGER; KHAN, 2014). Ainda que altamente prevenível, essa neoplasia continua sendo um grande desafio de saúde pública, sobretudo em regiões com acesso limitado aos serviços de saúde. A principal causa da doença é a infecção persistente pelo papilomavírus humano (HPV), um vírus sexualmente transmissível. Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2022), os tipos 16 e 18 do HPV são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer cervical. Em muitos casos, o sistema imunológico elimina a infecção, mas em outros, ela persiste e leva à formação de lesões pré-cancerosas que, se não tratadas, podem evoluir para o câncer invasivo.

A prevenção primária do câncer do colo do útero é possível, principalmente por meio da vacinação contra o HPV e do rastreamento regular com exames ginecológicos. A vacina contra o HPV é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos entre 9 e 14 anos, sendo altamente eficaz se administrada antes do início da vida sexual (BRASIL, 2021). Desde 2024, o Brasil passou a adotar o esquema de dose única para ampliar a cobertura vacinal. Apesar da disponibilidade, a taxa de vacinação ainda está aquém da meta de 90% proposta pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2022). Além disso, o exame citopatológico de Papanicolau — simples, gratuito e eficaz — continua sendo uma das ferramentas mais importantes para detectar lesões precursoras (BRASIL, 2016). A recomendação é de que mulheres entre 25 e 64 anos realizem o exame anualmente e, após dois exames consecutivos normais, a cada três anos. Recentemente, o Ministério da Saúde começou a implantar o teste molecular para HPV no SUS, com o objetivo de aprimorar o rastreamento da doença em mulheres dessa faixa etária.

Contudo, o acesso desigual aos serviços de saúde compromete a efetividade dessas estratégias. Regiões mais carentes, como a Norte, apresentam taxas de mortalidade significativamente mais altas — em 2021, essa região teve 9,07 mortes por 100 mil mulheres (INCA, 2023). Em contrapartida, as regiões Sul e Sudeste registraram as menores taxas. Essas disparidades não são apenas reflexo de questões médicas, mas também de fatores sociais, educacionais e culturais. Falar sobre sexo, prevenção e saúde íntima ainda é um tabu em muitas comunidades brasileiras, dificultando o acesso à informação e o empoderamento feminino. Assim, a prevenção do câncer de colo do útero precisa ser tratada como uma responsabilidade não apenas das autoridades sanitárias, mas também das famílias, escolas e sociedade em geral. A disseminação de informações corretas, o incentivo ao autocuidado e o diálogo aberto sobre saúde sexual são passos essenciais para romper com essas barreiras.

Diante desse cenário, o Ministério da Saúde lançou o Plano Nacional para a Eliminação do Câncer de Colo de Útero, com a meta de eliminar a doença como problema de saúde pública até 2030. As estratégias envolvem ampliação da vacinação, melhoria do rastreamento e garantia de tratamento adequado e humanizado para todas as mulheres diagnosticadas (BRASIL, 2023). A sensibilização da população para a importância do exame preventivo e da vacinação precisa ser contínua. Mulheres entre 25 e 64 anos devem procurar regularmente o posto de saúde para realização do exame. Pais e responsáveis devem garantir que seus filhos e filhas recebam a vacina na idade adequada. A mobilização coletiva é essencial: conversar com amigas, colegas de trabalho e familiares sobre a prevenção pode ser determinante para salvar vidas. Afinal, a detecção precoce aumenta consideravelmente as chances de cura e reduz o sofrimento causado por tratamentos mais agressivos.

Nesse contexto, destaca-se a atuação do profissional biomédico, cuja formação permite não apenas o diagnóstico laboratorial precoce de diversas patologias, mas também a orientação da população sobre medidas preventivas. O biomédico pode interpretar exames, identificar infecções pelo HPV e encaminhar os pacientes para acompanhamento especializado. Sua atuação, em parceria com outros profissionais da saúde, é crucial na rede de atenção básica e em campanhas de conscientização. Em caso de dúvidas ou sintomas suspeitos, é fundamental procurar um profissional qualificado. A prevenção e o diagnóstico precoce são as armas mais eficazes contra o câncer do colo do útero. Informar-se, cuidar-se e incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo é um ato de responsabilidade individual e coletiva — e um passo essencial para a eliminação dessa doença evitável e tratável.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. 2. ed. rev. atual. – Rio de Janeiro: INCA, 2016. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/diretrizes-brasileiras-para-o-rastreamento-do-cancer-do-colo-do-utero. Acesso em: 16 abr. 2025.

BRASIL. Ministério da Saúde. Cartilha de Prevenção do Câncer do Colo do Útero. Brasília: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br. Acesso em: 16 abr. 2025.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA (INCA). Câncer do colo do útero. Rio de Janeiro: INCA, 2023. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-do-colo-do-utero. Acesso em: 16 abr. 2025.

SINGER, Albert; KHAN, Ashfaq M. Singer & Monaghan’s: prevenção do câncer de colo de útero e trato genital inferior. 3ª. ed. rev. [S. l.: s. n.], 2014. ISBN 978-85-372-0689-8.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Human papillomavirus (HPV) and cervical cancer. Geneva: WHO, 2022. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/human-papillomavirus-(hpv)-and-cervical-cancer. Acesso em: 16 abr. 2025.

 

Alana Taborda Peschisky
Jaqueline Paola Alves Calixto
Maria Gabriela dos Anjos de Oliveira
Millena Bassolli Medina Freiria
Gabrielli Alves de Souza
Dr. Wellington José Gomes Pereira — Fisioterapeuta — CREFITO 8: 310.359-F

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