Há muita gente descrente com o Brasil. Cidadãos de bem, trabalhadores, brasileiros que amam a pátria, cumprem as leis, pagam impostos e contribuem para o desenvolvimento do país. Homens e mulheres que não são pessimistas, mas que se mostram preocupados com a situação nacional.
Mais que isso: são brasileiros que já não conseguem esconder sua decepção com a classe política, com a elite pensante e com a grande mídia, atribuindo a esses segmentos da sociedade grande parte do fracasso nacional.
Não faltam razões para essas pessoas se sentirem dessa forma. Uma delas é o recorrente discurso de governantes e de setores da classe dominante, com eco na grande imprensa, que lhes dedicam amplo espaço e reverberam suas ideias.
Falam sempre e muito sobre estado democrático de direito, democracia, governança ambiental, constituição cidadã e outros lemas que embelezam discursos pomposos porque, de fato, são fundamentais a toda e qualquer nação livre.
Entretanto, tudo soa como cinismo porque o discurso não é acompanhado das ações práticas que o brasileiro espera há tanto tempo, em vão. O que se vê, amiúde no Brasil, é a repetição da retórica da preocupação com a população mais pobre sem a adoção de medidas efetivas para mudar essa realidade. Muito pelo contrário. Assistimos à sistemática reiteração de atos destinados aos mais ricos e poderosos, aqueles que já gozam de muitos privilégios.
O que não se vê é o efetivo enfrentamento das elites dominantes da economia nacional, sempre em defesa dos seus próprios interesses e com inesgotável apetite para os lucros fáceis, mesmo que sabidamente às custas das classes menos favorecidas.
É isso o que alimenta, há décadas, a grande máquina nacional das desigualdades sociais, perpetuando a triste situação em que poucos ganham muito e muitos ganham pouco, ou quase nada.
A Educação, pilar para o desenvolvimento de qualquer país, aqui é tratada como questão menor. Parece que basta a aplicação do percentual mínimo do Orçamento prevista na Constituição. Não é verdade. O Brasil tem baixíssimo número de alunos das últimas séries do ensino fundamental e médio em escolas de tempo integral.
A remuneração dos professores é baixíssima, muito inferior à de várias outras carreiras do funcionalismo público e dos milhares de cargos comissionados nos três entes federativos. A classe dos mestres sofre com a falta de prestígio e respeito por parte do governo. Ignora-se que, sem a dedicação dos professores, não é possível formar médicos, dentistas, advogados, engenheiros, economistas, nem juízes, nem promotores, nem procuradores que compõem o Judiciário e gozam de polpudas remunerações.
“Sem educação não há salvação”, alardeia antigo chavão, sempre repetido porém jamais levado a sério no país, onde educação nunca foi, de fato, uma prioridade nem de Estado nem de governos. Em recente matéria publicada na imprensa, a educadora Priscila Cruz, cofundadora da organização não governamental Todos pela Educação, questionou: o que falta? O país tem censo, tem avaliação, tem Enem, Ideb, mas há um descompasso entre discurso e atitude. E continuou afirmando que educação não pode mais ser considerada como uma área a mais a ser tocada pelos governos: ela é essencial para que todas as outras funcionem, inclusive para geração de empregos e crescimento.
Em vez de dar o exemplo, a classe política cria mais privilégios para si e se apressa em aprovar anistia aos partidos políticos punidos pelos tribunais em razão de irregularidades cometidos durante suas campanhas eleitorais.
Não se cortam despesas milionárias que custeiam o conforto e as benesses de quem está no poder, em todas as esferas da República. Ninguém toca no manto de impunidade em que se transformou o instituto do foro privilegiado.
A corrupção – que custa tão caro ao país – não é combatida com a efetividade que se espera, alimentando a sensação de impunidade na sociedade e o falso sentimento de que o crime compensa.
Vivemos num país com soluções de mentira para problemas reais: fome, miséria, violência, falta de saneamento, saúde precária e educação capenga.
Esse retrato é o berço da descrença e a principal causa da perda de entusiasmo de quem tem muito a contribuir, mas não encontra mais estímulo para isso.
O Brasil precisa de mais verdades e atitudes e menos de promessas e fantasias que ficam bonitas nos discursos, porém não mudam a realidade dos cidadãos.
Samuel Hanan é engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário, e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002). Autor dos livros “Brasil, um país à deriva” e “Caminhos para um país sem rumo”.
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