A estiagem que reduziu de forma impiedosa a vazão dos mananciais de abastecimento público também propiciou belas imagens para observadores da natureza. No Parque das Nascentes, que fica no entorno da Barragem do Iraí, a 25 quilômetros de Curitiba, centenas de pássaros trouxeram cores ao cenário monocromático da seca. As aves apareceram em busca de alimentos em áreas que geralmente não têm acesso. É que a seca deixou à mostra uma grande área do fundo do lago, composta de lodo e sedimentos onde vivem organismos, como moluscos, crustáceos e invertebrados, importantes na cadeia alimentar das aves.
Bandos de Garças-brancas-grades também se beneficiaram da fartura de alimentos, aparecendo em revoadas nos fins de tardes no Parque das Nascentes. Segundo a bióloga da Sanepar, Ana Cristina do Rego Barros, as aves, que se reuniam em bandos para a alimentação, deslocavam-se para o pernoite em um ninhal com mais de 70 indivíduos.
Ana Cristina conseguiu identificar outras espécies de pássaros, algumas não tão comuns de serem visualizadas. E convidou a também bióloga Tayla Coelho para ajudar na identificação e fazer registros fotográficos. As lentes capturaram imagens de diversas espécies: Garça Moura, Tapirucu, Colhereiro, Pernilongo, Pica-pau-do-campo, Carão, Gavião Carcará e Maçarico. Esta última, uma ave migratória que se reproduz na América do Norte e passa o período não-reprodutivo nos ecossistemas brasileiros.
“Vimos uma grande diversidade de aves, que foram atraídas pela quantidade de alimentos disponível. Era uma rica feira-livre, biodiversa e gratuita”, brinca.
A Barragem do Iraí é a maior do Sistema de Abastecimento Integrado de Curitiba e Região Metropolitana (SAIC), com capacidade para armazenar 58 bilhões de litros de água. Na gestão do sistema, a Sanepar prioriza o uso da água reservada no Iraí, por estar mais sujeita à proliferação de algas. No nível mais baixo de sua história, em 15 de agosto de 2020, a Barragem do Iraí chegou a ter apenas 10,04% de sua capacidade, reduzindo a área do lago a cerca de 35% do tamanho normal.
“A natureza tem dessas contradições. Em meio a um cenário que beira à melancolia pela falta de água, aparece tanta vida e beleza, para nos lembrar de que é preciso preservar o meio ambiente, que nos presenteia com a água, a fauna, a flora e tantos outros serviços ecossistêmicos, dos quais somos totalmente dependentes”, afirma Ana Cristina.