Esta frase “Bandido bom é bandido morto” que logo ganhou as ruas, os quarteis e delegacias de policia em todo o Brasil e que até hoje se propaga como filosofia de combate a criminalidade, foi criada nos anos 80 pelo ex-deputado estadual e delegado de Polícia, Guilherme Godinho Sivuca Ferreira, simplesmente conhecido como Sivuca, fundador da Scuderie Detective Le Cocq, organização esta que se atribuiu o extermínio de criminosos, atuando durante os anos 1960 até a década de 1980 no Rio de Janeiro.
E, baseado nesta pretensa filosofia de combate a criminalidade que nas últimas décadas os governantes deixaram de elaborar e implementar uma política eficiente de combate a violência e criminalidade, priorizando apenas o enfrentamento policial, levando ao caos da segurança pública que vivemos nos tempos atuais.
Segurança publica é uma ciência e como tal deve ser tratada. E, como ciência, logicamente traz em si diversas complexidades que não podem ser resumidas e implementadas a partir de uma simples frase ou conceito, pois até mesmo a interpretação do que é um bandido possui uma nuance de possibilidades a serem exploradas.
Seria bandido aquele que tem passagem pela polícia? Ou aquele que foi julgado e condenado? Quem sabe aquele que está segurando uma arma? Ou somente aquele que pertence a grupos étnicos e sociais pré-determinados?
Baseado em todas essas possibilidades de interpretação e dezenas de outras é que erros têm sido cometidos diariamente na segurança pública, levando a morte de vítimas inocentes e de policiais que dedicam a sua vida ao combate a criminalidade.
Priorizar uma política de enfrentamento é transferir para o policial o ônus de ser, ao mesmo tempo, o juiz e o executor da pena. E, logicamente, sem o devido processo legal, as arbitrariedades e os erros se multiplicam, tornando sem efeito benéfico para a sociedade esta prática ineficiente de combate a criminalidade.
A Segurança Pública enquanto ciência dispõe de um arsenal de ferramentas que podem ser utilizadas para o combate à violência e a criminalidade, como o investimento em inteligência e investigação, políticas de ressocialização de presos, programas de geração de emprego e renda nas comunidades, educação, cultura, esportes entres muitas outras ferramentas, sendo a atuação de enfrentamento policial apenas uma dessas muitas ferramentas.
Ou seja, precisamos inicialmente agir preventivamente para que o morador das comunidades dominadas pelo crime organizado, principalmente os jovens de 14 a 29 anos não tenham como única opção de sobrevivência aderir ao crime, e logicamente atuar com medidas eficazes de recuperação e ressocialização daqueles que foram dragados pelo crime organizado.
Somente assim poderemos substituir a frase título deste artigo, pela expressão “Bandido bom é bandido recuperado!”
Prof. José Ricardo Bandeira, é Perito em Criminalística e Psicanálise Forense, Comentarista e Especialista em Segurança Pública