A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) implementou uma nova regra para a dispensação das chamadas “canetas emagrecedoras”, que agora exigem receita em duas vias, com uma delas retida pela farmácia. Segundo a Dra. Aline Santana Goes, farmacêutica e professora da Universidade Tiradentes (Unit), essa medida foi adotada focando na segurança do paciente e no uso racional desses medicamentos.
“Não se trata de uma medida relacionada a desabastecimento ou para dificultar a compra, mas sim de uma resposta às evidências de uso indiscriminado, muitas vezes sem acompanhamento médico adequado”, explica Dra. Aline. Ela reforça que “relatos de efeitos adversos graves em alguns usuários, como a pancreatite, reforçam a necessidade de um controle mais rigoroso”. A intenção é assegurar que esses medicamentos sejam usados de forma segura, dentro das indicações corretas e com a devida orientação profissional.
Implicações Clínicas e Sociais do Uso Indiscriminado
Inicialmente indicados para o tratamento de diabetes tipo 2, medicamentos como o Ozempic ganharam popularidade por induzir a perda de peso como efeito secundário. Essa característica levou muitos médicos a prescrevê-los para o controle da obesidade, prática que, embora permitida no Brasil como uso off-label, tem gerado consequências importantes para o sistema de saúde.
Dra. Aline destaca que “a Anvisa registrou um número significativo de eventos adversos graves relacionados ao uso inadequado da semaglutida, princípio ativo do Ozempic. Muitos casos envolvem o uso fora das indicações aprovadas, o que aumenta os riscos à saúde, como a pancreatite, uma reação grave que exige interrupção imediata do tratamento”. A especialista reforça que, por se tratar de um medicamento recente, seu uso deve ser feito com prescrição e acompanhamento rigoroso, garantindo a segurança do paciente.
Obesidade, Estigma e a Necessidade de Acompanhamento
Para a especialista da Unit, é fundamental reconhecer que a obesidade é uma doença crônica complexa, que exige tratamento multidisciplinar e acesso facilitado a terapias reconhecidas. As “canetas emagrecedoras” oferecem uma nova esperança, mas precisam ser usadas com responsabilidade e acompanhamento médico.
Dra. Aline Santana Goes lamenta que “o estigma ainda dificulta o acesso a tratamentos e traz sofrimento desnecessário”. Ela conclui que é preciso “avançar no cuidado e na compreensão, tratando a obesidade com respeito, ciência e empatia“.