Os acidentes de trânsito no Brasil são uma chaga nacional, deixando anualmente cerca de 250 mil vítimas com sequelas permanentes, conforme o “Estudo dos Custos de Acidentes de Trânsito no Brasil” do Instituto de Segurança no Trânsito. Esse número, provavelmente subnotificado, contribui para que o Brasil ocupe a terceira posição mundial em mortes no trânsito, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
“É urgente melhorar a educação no trânsito e adotar iniciativas eficientes para reduzir os acidentes”, afirma Lucio Almeida, presidente do CDVT – Centro de Defesa das Vítimas de Trânsito, uma ONG que atua em todo o país. Ele destaca, contudo, outra medida crucial: “a necessidade de se criar algum mecanismo de amparo a essas vítimas. Muitas ficam completamente desassistidas, fragilizadas e abandonadas à própria sorte, sem qualquer auxílio durante o período de recuperação”.
A Realidade das Vítimas e a Busca por Apoio
Um exemplo dessa realidade é Josivan da Silva, ajudante de obras de 38 anos, que ainda se recupera de um capotamento sofrido em novembro de 2024, em Mossoró (RN). Com diversas fraturas e usando colar cervical, ele não sabe quando retornará ao trabalho nem em quais condições. “Não sei mais se poderei voltar a fazer tudo que podia, como antes do acidente”, lamenta Josivan, abalado psicologicamente.
Para reverter situações como a de Josivan, representantes do CDVT têm debatido a criação de um novo seguro para vítimas de acidentes de trânsito com autoridades em Brasília. “Temos procurado apoio de deputados, senadores e ministros que compreendem a urgência dessa pauta, para que possam nos representar nessa luta”, complementa Almeida. Ele ressalta que “o Brasil tem um dos trânsitos mais violentos do mundo e não podemos mais permitir que as pessoas, principalmente as mais desfavorecidas, fiquem desamparadas pelo estado”.
Seguro Obrigatório: Um Modelo Global a Ser Seguido
A ideia de um seguro obrigatório não é nova. Iniciada na Suécia em 1929, essa política se espalhou por diversos países, incluindo nações menos desenvolvidas que o Brasil. No Peru, Equador ou Venezuela, por exemplo, as vítimas são cobertas pelo SOAT (Seguro Obrigatório de Acidentes de Trânsito), que custeia despesas médicas e hospitalares, independentemente da culpa pelo acidente.
“Seja motorista, passageiro ou pedestre, todos têm direito a um respaldo digno em caso de acidente. Portanto, não podemos mais tolerar que sejam tratados com todo esse descaso”, conclui o presidente do CDVT, enfatizando a necessidade de uma solução para essa grave questão social.