Ao longo dos seus mais de quatro mil anos, a Coreia do Sul foi governada por diversas dinastias, sofreu com guerras e invasões. Tudo isso fez com o que o país padecesse por anos. Para se ter uma ideia, na década de setenta, a Coreia do Sul era um território arrasado pela pobreza. Na ocasião, no ranking global de desenvolvimento o Brasil aparecia na frente, com a renda anual da população sendo duas vezes maior do que a dos coreanos. Porém, isso mudou radicalmente e agora o país sul-coreano, que viveu uma revolução econômica, é referência em diversos segmentos tecnológicos, inclusive na área da saúde.
Para chegarmos na fase tecnológica da Coreia do Sul, é preciso voltar alguns anos. Esse impulsionamento veio do vizinho Japão. Entretanto, após a rendição japonesa, a península coreana foi anexada ao seu vizinho, deixando marcas no passado do povo que vivia na região. Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, ocorreu outra fase traumática para a Coreia, a divisão entre Sul e Norte ao longo do Paralelo 38.
Durante três anos, militares americanos (sul) e soviéticos (norte) administraram as regiões. Apenas em 1948 é que a Coreia do Sul elegeu seu primeiro presidente, Rhee Syngman, e a reconstrução da nação começou, através de programas governamentais que incentivaram as famílias ricas do país a investirem em conglomerados industriais. Chamada de “chaebol”, que em coreano significa riqueza dos clãs, essa estratégia foi adotada com entusiasmo no país.
A introdução do “chaebol” foi muito importante para evolução da Coreia do Sul. Entre os anos de 1980 até 1993, o crescimento econômico do país foi de 9,1% ao ano em média, um dos mais altos do mundo. Com esse enriquecimento, foi possível o país aderir à Industrialização Orientada para Expansão (IOE) e depois ao bloco econômico dos “Tigres Asiáticos”. Com grandes investimentos, o país se tornou uma referência nos segmentos de eletroeletrônicos e automóveis.
Diante dessa evolução gradativa no cenário mundial no início do século XXI a tecnologia de ponta utilizada na Coreia do Sul começou a dominar internacionalmente outros setores da indústria. No fim da década passada, o governo sul-coreano viu na biotecnologia e no setor farmacêutico novos motores de crescimento para, mais uma vez impulsionar a economia.
Na região de Free Economic Zone na cidade de Incheon, Songdo, fica o principal local de pesquisas e instituições relacionadas com a biotecnologia e é onde existe o primeiro cluster de farmacêuticas. Por meio desses polos, é possível ver inúmeros produtos fabricados, trazendo benefícios para toda a sociedade.
Aqui, vale destacar que devido à tecnologia desenvolvida na Coreia do Sul, tornou-se possível produzir os biossimilares, que são medicamentos biológicos não idênticos a um medicamento de referência, porém desenvolvidos com a mesma complexidade e finalidade. Mesmo precisando de um aparato tecnológico extremamente caro, esse tipo de fármaco é uma alternativa econômica para tratamentos avançados.
Com os investimentos crescendo nos segmentos de biotecnologia e farmácia, as grandes companhias começam a ampliar as suas atividades e se espalham pelo mundo. Esse é um fator extremamente importante, pois são portas que se abrem para países como o Brasil terem uma oportunidade de se alavancar economicamente com uma base muito forte como a da Coreia do Sul. Essa abertura já começa a prover frutos com o desenvolvimento de diversas companhias deste segmento aqui em nosso país.
Esta potência tecnológica mostrou ao mundo que o investimento consciente gera inúmeros frutos que desenvolvem uma nação gradativamente e a biotecnologia produzida no país asiático começa a trazer benefícios para todo o mundo, incluindo o Brasil.
Michel Batista é Gerente Sênior de Negócios da Celltrion Healthcare no Brasil.