A cultura gaúcha e suas tradições

A cultura gaúcha e suas tradições

por Noelcir Bello

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Esta semana vamos falar um pouco da Tradição Gaúcha, que vem crescendo, nos últimos anos, em toda região sul, após ter sido deixada de lado por algumas gerações.

São hábitos, costumes e comidas típicas que sempre foram passadas de geração para geração, como forma de manter a cultura. Reunimos alguns tradicionalistas que nos contaram um pouco daquilo que aprenderam ao longo dos anos e sobre a batalha deles para manter viva a tradição.

A cultura gaúcha é retratada através dos hábitos e costumes, como a sua indumentária (roupa), o chimarrão, a gastronomia muito rica, o gosto pelos cavalos, o gado, a terra riograndense. Aquele que deseja viver a cultura gaúcha deve visitar o Rio Grande do Sul, conhecer suas regiões, participar de um baile gaúcho, ir a um festival de músicas nativistas, assistir a um rodeio, o tiro de laço, ver de perto o modo de ser do povo gaúcho, a sua identidade e a preservação das tradições.

O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG)

O Movimento Tradicionalista Gaúcho é uma entidade cívica, sem fins lucrativos, associativa, dedicada à preservação, resgate e desenvolvimento da cultura gaúcha. Compreende que o tradicionalismo é um organismo social de natureza nativista, cívica, cultural, literária, artística e folclórica.

Os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs)

São entidades tradicionalistas que cultivam a cultura e os costumes do Rio Grande do Sul no Brasil, através de atividades associativas e recreativas, guiadas pelos mesmos princípios e normas de ação, mas espalhadas em células que podem encontrar-se em qualquer território, mesmo fora do Estado. O lema criado no primeiro CTG, em 1948, permanece cultuado, ainda hoje, pelos homens (peões) e mulheres (prendas) participantes deste movimento: “Em qualquer chão – sempre gaúcho”.

Os CTGs visam à integração social dos seus participantes, os tradicionalistas, o resgate e à preservação dos costumes dos gaúchos, através da dança, do churrasco e dos esportes. Existem muitos Centros de Tradições Gaúchas no Brasil, mas principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Grandes artistas, músicos, declamadores, cantores, poetas, gaiteiros, escritores manifestam seu apego pelo Rio Grande através da arte, que conservam acesa a chama crioula que fortalece e mantém a essência do nativismo, da identidade do gaúcho, através da cultura gaúcha. Através da arte e cultura, o Rio Grande do Sul atravessou fronteiras, levando a bandeira daquele estado para todo o Brasil, assim como no estrangeiro. O encontro dos gaúchos junto aos CTGs torna possível a preservação da identidade, dos hábitos e costumes.

Nativismo

Nativismo é o amor que a pessoa tem pelo chão onde nasceu. Os gaúchos têm em seu vocabulário duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo: Pago e Querência. Pago é onde se nasceu. Querência é onde se vive. Um diálogo muito comum é: “De onde tu és cria vivente?” “Eu sou dos pagos do Caxias, mas estou aquerenciado em Passo Fundo”.

O tradicionalismo tem cinco aspectos especiais e específicos, todos fundamentais. Faltando qualquer um deles, já não se fala em tradicionalismo.

· Aspecto cívico – É o que primeiro se nota nas atividades do CTG. Lá estão as bandeiras e os hinos do Brasil e do Rio Grande do Sul. Nas festas, nas solenidades, nos desfiles de cavalaria e nas sedes são comuns os quadros retratando os heróis e figuras patrióticas. O gaúcho tem duas pátrias: a Pátria Grande, que é o Brasil e Pátria Pequena, ou Chica, que é o Rio Grande do Sul.

· Aspecto filosófico – O aspecto filosófico do tradicionalismo é dado pelos quatro documentos básicos que norteiam, obrigatoriamente, todos os centros de tradições gaúchas. O primeiro é a tese: “O sentido e o valor do Tradicionalismo Gaúcho”, de Barbosa Lessa, aprovada no I Congresso Tradicionalista do RGS, em Santa Maria, julho de 1954. O segundo é a tese: “A função acultuadora dos centros de tradições gaúchas”, de Carlos Galvão Krebs, aprovada no II Congresso Tradicionalista do RGS, julho de 1955. O terceiro é a Carta de Princípios do Movimento Tradicionalista do RGS, de Glaucus Saraiva, aprovada no VIII Congresso Tradicionalista do RGS, em Taquara, julho de 1961 e o quarto é a tese: “A função social do MTG”, redigida por Antônio Augusto Fagundes, sob orientação de Onésimo Carneiro Duarte, aprovada pela Convenção Tradicionalista de Lagoa Vermelha, em julho de 1984. Esses quatro documentos fundamentais ditam a filosofia do Tradicionalismo, dando-lhe unidade e tornando-o um movimento. Caso contrário, haveria entidades tradicionalistas com orientação própria, sem um sentido comum.

· Aspecto ético – Esse é o aspecto da filosofia não escrita do tradicionalismo, que diz sobre o permitido e o proibido dentro das entidades tradicionalistas, mas informalmente. Por que não se realizam bailes de carnaval dentro de um CTG? Por que o Papai Noel não entra em CTG? Por que não existe homossexual no tradicionalismo? Por que não existe drogas? Essas são perguntas frequentes, mas nada disso é proibido pelos estatutos e regimentos internos e, no entanto, a ética do tradicionalismo disciplina esses assuntos sem o uso das sanções, apenas por sua força intrínseca.

· Aspecto associativo – Toda a entidade tradicionalista reveste obrigatoriamente o caráter de associação civil, organizada e registrada de acordo com a lei brasileira. O tradicionalismo é obrigatoriamente coletivo.

· Aspecto recreativo – Além de tudo o que oferece, o tradicionalismo precisa oferecer aos associados também recreação. Lá está a roda de chimarrão, o churrasco, o arroz carreteiro e o fandango.

As ciências e as artes

As ciências são todas aquelas que, com seus conhecimentos, podem auxiliar o movimento no que se propõe. A história diz do passado glorioso dos homens e momentos que construíram o Rio Grande do Sul. A geografia localiza pagos e querências, rios, lagoas, cerros, onde às vezes as lendas também estão presentes. A linguística estuda o falar gauchesco. A zoologia, bichos como o cavalo e o boi, fundamentais na história do gaúcho. A botânica estuda árvores e plantas. Sem essa ciência, como saberíamos sobre a erva-mate?

Fazem parte da cultura gaúcha o homem chamado de peão trajar bombacha, alpargatas, botas, guaiaca, faixa, lenço, poncho, chapéu ou boina. Já para a mulher, chamada de prenda, o vestido.

A Tradição Gaúcha no Paraná

No Paraná, há décadas, um ícone da cultura, que entre idas e voltas, reaparece nos canais de televisão apresentando programas voltados exclusivamente para eventos e promoção de artistas, que carregam em suas veias a tradição gaúcha. Estamos falando do grande Ivan Taborda, que sempre aparece pilchado e falando o linguajar típico da cultura gaúcha. Atualmente, ele reside na região de Maringá e, vez ou outra, apresenta o programa Alô Tchê, juntamente com seu filho Tabordinha.

Outro personagem que merece destaque na difusão da tradição gaúcha é o araucariense Gaúcho Fraterno, que apresenta o programa Galpão Gaucho, na TV Araucária, sempre prezando pela valorização dos artistas locais.

Mantendo viva a Tradição

O grande destaque da luta pela tradição gaúcha tem sido o maravilhoso trabalho do peão Juva Galo Véio, que há vinte e três anos percorre o Brasil ensinando através de aulas de dança toda a cultura, costumes e a importância de se passar esta tradição de pai para filho. Juva já percorreu nestes anos, juntamente com sua esposa Paula, os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, além do Rio Grande do Sul e diversas regiões da Argentina.

De acordo com Juva, ainda muito jovem ele percebeu a dificuldade das pessoas em frequentar os bailes no Rio Grande do Sul, pois os que não sabiam dançar ficavam apenas olhando os outros se divertirem. Então, decidiu se preparar e se tornar um professor de dança. “Ser professor é muito gratificante, pois quando o aluno chega na primeira aula meio arredio, envergonhado e sem perspectiva de aprender a dançar, percebo o quanto posso ser útil para ele. A tradição gaúcha vai muito além da dança de salão. Antes de tudo, vem o respeito aos mais velhos, as damas, enfim ao ser humano”, contou o professor Juva.

Há um ano, Juva chegou a Região Metropolitana de Curitiba com a proposta de novas aulas e novos bailes. A cada turma formada surgem novos convites de escolas, clubes e associações. Atualmente, Juva convidou para auxiliar neste trabalho o colunista da Gazeta da Cidade de Pinhais, Bello, que passou a ser o responsável por novos cursos de danças e novos bailes em toda a região.

Bello nos informou que em Pinhais já está em andamento a quinta turma de dança, em que as aulas são ministradas na região do Vargem Grande. Os municípios vizinhos contam com turmas simultâneas, como é o caso de Araucária, onde o baile de formatura dos alunos já esta programado para o próximo dia 20 de agosto, no clube Acqua Park. “Eu que sempre gostei da cultura gaúcha, vejo nela a possibilidade da valorização da família e a reunião de amigos. Enquanto frequentamos as aulas, os bailes e as rodas de chimarrão vamos criando um vínculo cada dia maior, sempre permeado por muito respeito, alegria e companheirismo. Também vale lembrar que temos a intenção de em breve montar um CTG no município de Pinhais, por isso a necessidade de fomentar todos os dias esta cultura tão bonita, familiar e sem restrição de raça ou credo. O que importa para nós do Grupo Passos Gaúcho é ter vontade de aprender, honrar a palavra empenhada e praticar o amor à dança e às pessoas todos os dias”, garantiu Bello.

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