Circula nas redes sociais um post com um pensamento de Ayn Rand, filósofa norte-americana de origem judaico-russa, falecida em 1982, que merece reflexão: “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; ao comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; ao perceber que a corrução é recompensada, e a honestidade se converte em autossacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.
O texto não é novo, mas permanece atual, e embora concebido como de caráter universal, parece ter sido escrito especificamente como uma alerta a nós, brasileiros. Não é exagero, porque aqueles que desejam produzir, gerar emprego e renda, movimentar a economia, enfim, dependem de autorização de quem nada produz além de regras. São os burocratas e as autoridades, verdadeiras ou autointituladas como tais.
O dinheiro que deveria fluir para quem produz e negocia com bens circula fácil e farto nas mãos de lobistas e de autoridades corruptas. Brota na advocacia administrativa, no superfaturamento de obras públicas, no vazamento de informações privilegiadas, no tráfico de influência. Propicia a riqueza que não é gerada pelo trabalho honesto, mas pela corrupção quase institucionalizada em um mundo de comissões, subornos e rachadinhas.
Igualmente preocupante é constatar que a lei não protege os cidadãos dos autores desses malfeitos, mas sim àqueles, por meio de mecanismos como o foro privilegiado que beneficia 55.000 autoridades, aposentadorias precoces, benefícios vitalícios, impossibilidade de prisão mesmo após condenação em segunda instância, prescrição e consequente impunidade.
Em total oposição aos princípios éticos e morais que devem reger as sociedades civilizadas, no Brasil a prática da corrupção, em vez de combatida com rigor, é recompensada, tendo se banalizado a ponto de ser vista como meio de vida.
Antes mesmo de Ayn Rand, Ruy Barbosa já antecipava o momento em que o brasileiro sentiria vergonha de ser honesto. O grande jurista baiano nem poderia imaginar que a “Lei de Gerson” instituiria ser mais importante levar vantagem em tudo a vencer pelo esforço, pela dedicação ao estudo, pelo trabalho, pelo aprimoramento do talento, sem atropelar os princípios éticos e os valores morais. Nossa imagem de pessoas de fácil relacionamento – produto-exportação – esconde nossa tendência de preferir a esperteza, de enxergar virtudes na malandragem, de desprezar o mérito e optar pelo caminho mais fácil.
Caminhamos rapidamente rumo à situação de uma sociedade condenada. Vivemos – sem termos a coragem e a humildade de admitir – uma crise política, ética e moral, da qual resulta a absoluta falta de compromisso com a coletividade e com o País. É o Brasil de 2021, não uma nação imaginada pela filósofa norte-americana na metade do século passado.
A 12ª economia do mundo possui um enorme contingente de cidadãos que não terá nada para comer nas próximas 24 horas. Somos um país de imensas riquezas com quase 28 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. São brasileiros sem nada, nem perspectiva.
A crise econômica que nos aflige não é causa, mas efeito da crise moral vivida no País e que precisa ser enfrentada com efetividade. Somente uma grande mobilização da sociedade brasileira será capaz de mudar esse quadro. Que tenhamos coragem e pressa!.
Samuel Hanan é engenheiro, com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002)