Muitos cristãos não gostam de política e, para eles, “política e religião não se misturam”. No entanto, essa aversão à política não se coaduna com a fé cristã, nem com o exercício da cidadania. Quando o cristão se afasta do cenário político, além de renunciar aos seus direitos de cidadão, favorece aqueles que, sob o argumento do “estado laico”, querem afastar os religiosos das decisões mais importantes de nosso município, estado ou país. “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”, frase de Martin Luther King.
Quando sempre que alguém menciona que o Estado é Laico, começo a refletir nesta frase e me vem o pensamento que com estas palavras não estamos dizendo que o Estado é antirreligioso ou antidemocrático, mas que o Estado é neutro, dando a liberdade de expressão a cada um sem interferências. Como cidadãos do céu, os cristãos já têm seu representante legítimo, que é o Espírito Santo de Deus. Como cidadãos da terra, precisamos influir nos destinos da nação.
Não consigo ver cristãos apoiarem pessoas defensoras do aborto, da eutanásia, da ideologia de gênero, do desmantelamento da família, que estimulam nossa juventude a terem experiências sexuais de forma precoce e imatura, ou que desejam retirar do nosso povo a liberdade religiosa e o nosso direito de expressar a nossa fé no ambiente de trabalho ou em qualquer outro de forma pública.
Hoje, mais do que nunca, como cristãos (evangélicos ou não) conscientes de que cidadania plena e responsável legitima nosso cristianismo. A fé cristã exige uma cidadania responsável, pois segundo os ensinamentos bíblicos somos mordomos de Deus nesta terra.
Precisamos apoiar pessoas que tenham os princípios da fé cristã e apoiarmos autoridades que tenham princípios compatíveis com um genuíno cristão. Acredito na expressão “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor” II Sm. 23:3b-4 – “Quando um justo governa sobre os homens, quando governa no temor de Deus, é como a luz da manhã ao sair do sol de uma manhã de nuvens, como o esplendor depois da chuva, que faz brotar da terra e a erva”.
Política séria é a maneira de organizar a sociedade, para o bem comum e de toda comunidade. Sendo assim, todo mundo se envolve na política: ou exigindo melhorias para o seu bairro, para sua classe ou até mesmo não se mexendo, deixando as coisas como estão (aí quem está no poder se aproveita e faz tudo como quer). Os lavradores fazem política quando batalham pela reforma agrária; os estudantes fazem política quando exigem que os professores cheguem na hora e ensinem com dedicação; os trabalhadores fazem política quando lutam por melhores salários; a Igreja faz política quando se coloca a favor dos empobrecidos e explorados. É claro que todo mundo faz política!
Outra coisa é política partidária: é alguém se filiar a um determinado partido e trabalhar por uma legenda partidária, como candidato ou filiado. A Igreja pede que os cristãos leigos entrem nesta política partidária para lutar por uma sociedade nova onde todos possam viver dignamente como filhos de Deus e irmãos. Outra coisa é politicagem: é a política individualista, do clientelismo e interesseira de um candidato ou de um partido que faz leis para se beneficiar; que cria planos para eleger os seus candidatos, que deixa a nação com fome e desempregada; que engana o povo com promessas impossíveis; que busca apenas os interesses de uma minoria que está no poder.
Já deu para você perceber como o cristão não pode ficar por fora da política, porque ele vive no meio deste mundo, com mil e um problemas. E o cristão deve ser sal da terra e luz do mundo. Ou seja, deve ajudar a mudar o que está errado. Deve criar uma sociedade transformada. Política é um meio de transformação da sociedade. Como somos cristãos, vamos olhar a política com os olhos de Jesus.
Como cristãos não podemos ficar alheiros à política. Se ficarmos por fora, apoiamos quem está no poder só atrapalhando. Como podemos participar efetivamente? De imediato, devemos votar bem, escolhendo pessoas que consigam defender os interesses da maioria empobrecida e necessitada. Tudo isto alimentados pela fé em Jesus Cristo Libertador.
Todas as autoridades estão debaixo do governo de Deus. Por este motivo, aumenta a nossa responsabilidade das “oliveiras”, “figueiras” e “videiras” no processo de escolha na sociedade. Nossa omissão pode ceder lugar ao espinheiro. O espinheiro é sempre a alternativa do poder temporal, secular – quer seja político, social, econômico ou das armas. O espinheiro sempre “cospe fogo” (Jz.9.15) para exercer seu domínio, e punir os que lhe resistem. Mas, em cada geração, a principal escolha é sempre escolher o que não nos afaste de Deus. Eis o grande desafio.
O cristão como eleitor
Uma verdadeira igreja é marcada pela ação do Espírito Santo, que, entre outras coisas, separa dentre os seus membros alguns que são enviados como profetas e evangelistas (At. 13:1-3). O Espírito não indica na igreja candidatos a cargos políticos, como não indica professores, administradores de empresas, jornalistas, etc. Isto não impede que haja candidatos evangélicos. O que a igreja deve fazer é produzir cristãos maduros que possam ocupar os mais diferentes postos na sociedade, onde, se fiéis a Cristo, irão destacar-se pela lisura, responsabilidade e trabalho. Se um candidato não tem habilidades para a função, não tem consciência do que lhe espera, nem comprovada maturidade e testemunho de vida irrepreensível, não merece nosso voto, mesmo que seja membro de uma igreja evangélica.
Jamais vender seu voto
O voto do cristão deve ser dado de forma consciente, ou seja, sem anular ou sem deixar a cédula em branco, mostrando respeito pelas coisas públicas e pensando no bem-estar da população (Gn 6.9,10; 1 Jo 3.17,18; Rm 13.10), e não visando interesses pessoais. Não é assim que acontece quando muitos dão o seu voto por um par de sapatos, por uma receita médica, óculos, materiais de construção etc., sem nenhuma noção do que está fazendo (Am 2.6; 8.6).
Muitas vezes o cristão vota em pessoas que não têm nenhum temor a Deus e aos homens, e nem às coisas públicas (Pv 1.7; Dn 1.17-20). A representação da igreja no mundo político é de suma importância para defender os interesses públicos, morais, sociais, educacionais e assistenciais, entre outros, e possui fundamentação bíblica (1 Tm 3.16,17; Sl 119.105). “Bem-aventurada a nação cujo Deus é o Senhor”. Quando os justos são eleitos. Pv 11.14 Não havendo sábia direção, o povo cai, mas, na multidão de conselheiros, há segurança.
Vereador Airton Ferreira da Silva
Advogado, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fósforos de Curitiba – Piraí do Sul e Irati – Diretor da Federação dos Trabalhadores no Estado do Paraná – Membro do Conselho Tecnológico da UFPR – AGITEC – Membro da Força Sindical do Estado do Paraná.
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