Papa Francisco deixa legado que reflete polarização política
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Papa Francisco deixa legado que reflete polarização política

A morte do Papa Francisco, na segunda-feira (21/04), despertou múltiplas manifestações de pesar mundo afora, porém, também, manifestações de comemoração e discursos de ódio. A polarização diante do falecimento do Papa não é surpresa, afinal, não diferente do cenário geopolítico, o Vaticano e a Igreja Católica não passaram ao largo das disputas e da acirrada divisão político e ideológica que assola o mundo.

Jorge Mário Bergoglio, o Papa Francisco, o primeiro pontífice latinoamericano, foi um papa bastante controverso. Amado e admirado por muitos. Mas, também, muito criticado por setores conservadores dentro e fora da Igreja.

 

“Papa comunista”

Inclusive, recebeu a alcunha de “Papa comunista” por parte da direita conservadora no mundo. Adjetivo que sempre negou. Conhecido como grande defensor da justiça social e da defesa dos mais pobres e das minorias, Papa Francisco dizia em entrevistas que não se considerava comunista e que estaria apenas seguindo Mateus 25, versículo bíblico: ”Tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber, estive nu e me vestiste”. “Essa é minha regra de conduta”, dizia Papa Francisco.

 

Inclusão, tolerância e perdão

Enfim, comunista ou não, o que é inegável foi o caráter progressista de seu papado de doze anos, período em que trouxe alguns avanços e modernidades, atendendo aos anseios daqueles que defendem mais inclusão, tolerância e perdão a Igreja Católica. A autorização da bênção a casais do mesmo sexo foi um marco histórico de seu legado. Bem como a oferta de perdão a mulheres que abortaram. Acredito que estas duas importantes mudanças promovidas constituem a marca de seu legado modernizador, misericordioso e inclusivo. Talvez, o Papa tenha deixado a desejar àqueles que esperavam a autorização para o casamento entre casais homoafetivos. Mas, convenhamos, considerando-se a intolerância e inflexibilidade com que a Igreja Católica, até, então, vinha abordando o tema, já se tratou de um grande avanço promovido pelo sumo pontífice.

 

Causa ambiental

Quando se trata de legado, ao lado de avanços na área dos costumes, Papa Francisco ainda destacou-se como um grande defensor das causas ambientais, sempre alertando o mundo sobre as mudanças climáticas e a necessidade de mais atenção e cuidados com a preservação da natureza. Um importante papel cumprido com firmeza por Francisco.

 

Críticas ao capitalismo

As críticas ao sistema capitalista eram outra característica marcante de seus posicionamentos. Além da defesa irrestrita a imigrantes e refugiados, em geral. Neste ponto, Papa Francisco foi dos mais polêmicos, uma vez que desconsiderou as inúmeras implicações da imigração irrestrita a países da Europa, por exemplo, que enfrentam sérios problemas decorrentes do choque cultural entre imigrantes islâmicos e ocidentais nativos.

 

Lava Jato

Polêmica maior, porém, Papa Francisco protagonizou quando fez a defesa do presidente Lula na Lava Jato e de Dilma Rousseff, em relação ao impeachment. O Papa declarou, em 2022, a um canal da TV espanhola, e depois, a um canal da TV Argentina, que acreditava na inocência de Lula e de Dilma Rousseff. Para Bergoglio, tudo não teria passado de perseguição política com base em fake news, em especial, a condenação de Lula. Muito provavelmente, o Papa chegou a essa conclusão após ler a obra “Lawfare: uma introdução”, escrita pelo advogado de defesa do petista Cristiano Zanin em conjunto com Rafael Valim e Valeska Teixeira Zanin Martins. O livro foi entregue em mãos por Cristiano Zanin, atual ministro do STF, e por Lula, durante visita ao Vaticano em 2020.

 

Religião e política

Diante de tantas polêmicas em um papado de doze anos, uma questão deixada em aberto é sobre até que ponto um líder religioso deve tratar de temas políticos. Seria esse o papel de uma liderança da Igreja Católica, opinar, julgar e avaliar sobre fatos e figuras políticas? Há quem defenda que, sim, pois, o próprio posto de principal representante da Igreja Católica no mundo já implicaria uma atuação política. Mas, talvez, certos limites, razoabilidade e bom senso, mantendo-se uma certa imparcialidade diante de questões internas das nações, seriam de bom tom.

 

Direita conservadora

Neste sentido, os excessos de Papa Francisco o colocaram em rota de colisão com uma expressiva parcela de cristãos no Brasil, em sua maioria, conservadores de direita. Muitos deles, inclusive, bolsonaristas ou antipetistas. Aliás, foram memoráveis, também, os comentários de preocupação de Bergoglio com os avanços da extrema-direita no mundo. É compreensível, portanto, a antipatia da direita conservadora ao papado de Mario Jorge Bergoglio. Contudo, o que não é compreensível são os discursos de ódio nas redes sociais por parte desta direita: ”Já vai tarde” e “limpeza espiritual” estiveram entre tais comentários sobre a morte do Papa. Respeito e compaixão deveriam ser a tônica no comportamento de todos os cristãos, independentemente de divergências políticas e ideológicas.

 

Escolha de um conservador

Especula-se sobre a grande probabilidade de escolha de um conservador para ocupar o posto deixado pelo argentino progressista. Seria a vez de irritar os progressistas? A conferir se a postura destes irá passar longe de discursos de ódio e de intolerância contra o novo Papa, a Igreja Católica, o Vaticano…

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