Copom endurece política monetária enquanto governo amplia crédito

Copom endurece política monetária enquanto governo amplia crédito

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic de 12,25% para 13,25% ao ano, um movimento amplamente esperado pelo mercado. Além disso, há uma forte perspectiva de um novo aumento de um ponto percentual na próxima reunião, em março.

Dois pontos merecem destaque. O primeiro não está diretamente ligado à decisão do Copom, mas ao anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre um acordo com os bancos para triplicar o volume de crédito consignado, passando de R$ 40 bilhões para R$ 120 bilhões. Essa medida vai na contramão do aperto monetário, já que injeta mais dinheiro na economia, dificultando o controle da inflação. Em outras palavras, enquanto o Copom busca esfriar a economia com juros mais altos, o governo age no sentido oposto, aquecendo ainda mais a demanda.

O segundo ponto é o próprio comunicado do Copom, que veio duro, como esperado. O Banco Central destacou as incertezas do cenário externo, incluindo fatores como o impacto da política norte-americana. Além disso, a autoridade monetária reforçou preocupações com a desancoragem das expectativas inflacionárias.

Para entender essa dinâmica, é preciso observar o comportamento das projeções ao longo das últimas reuniões. Em setembro de 2024, o Copom elevou a Selic de 10,5% para 10,75%, projetando uma inflação de 3,5% para o primeiro trimestre de 2026. Na reunião seguinte, em novembro, houve um novo aumento de 0,5 ponto percentual, e o horizonte de projeção foi ajustado para o segundo trimestre de 2026, com a inflação esperada subindo para 3,6%. Em dezembro, a Selic subiu mais um ponto, e a projeção da inflação para o segundo trimestre passou para 4%.

Seguindo essa tendência, o Banco Central atualizou novamente seu horizonte, agora para o terceiro trimestre de 2026. Em dezembro, a inflação esperada para esse período era de 3,8%, mas no Copom atual subiu para 4%. Se o objetivo for trazer a inflação para o centro da meta, os modelos do Banco Central indicam que a Selic deveria alcançar impressionantes 18,5% ao ano. Um choque dessa magnitude teria efeitos severos sobre a economia e a dívida pública, tornando essa trajetória difícil de sustentar na prática.

A desancoragem inflacionária já se reflete nas expectativas para 2024. No relatório trimestral de inflação de dezembro, a projeção era de 4,5%. Agora, apenas 40 dias depois, essa previsão subiu para 5,2%, superando o teto da meta. Diante desse cenário, a Selic deve continuar subindo, mas o impacto dessa política tem limites.

Enquanto isso, o governo segue adotando medidas que ampliam o crédito e estimulam a economia, tornando ainda mais difícil a tarefa do Banco Central. Com a inflação em alta e o custo da dívida pública subindo, o BC pode chegar a um ponto em que novos aumentos de juros terão pouco efeito prático. Afinal, elevar a Selic para patamares como 20% poderia levar o país a uma recessão severa.

A visibilidade sobre a política monetária segue baixa, tornando qualquer previsão sobre a Selic ainda mais incerta. Apesar da postura dura do Copom, o fato de a inflação projetada para o terceiro trimestre de 2026 estar em 4% reforça a percepção de que a situação está completamente desancorada. O Banco Central tem um enorme desafio pela frente para conter essa alta de preços e estabilizar as expectativas. Por ora, o cenário segue desafiador.

José Faria Júnior, planejador financeiro CFP pela Planejar

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