A morte do garçom José Augusto Mota Silva, de 32 anos, na sala de espera de atendimento em uma UPA da Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro, na sexta-feira (13/12) é um, entre muitos casos chocantes, que retratam as condições do SUS, em tantas localidades do país. O rapaz, mesmo tendo chegado a Unidade relatando fortes dores, não conseguiu atendimento médico antes de seu falecimento. Os vinte funcionários da equipe de plantão da UPA foram demitidos, após o episódio.
Casos chocantes
Recentemente, também, outra cena inaceitável aconteceu em uma maternidade pública de Camaçari, na Bahia. Uma gestante terminou por dar a luz na sala de espera da maternidade, conforme as imagens que circulam nas redes sociais demonstram, claramente. Em junho de 2023, desta vez, na cidade de São Paulo, mais uma morte na sala de espera de uma Unidade Básica de Saúde (UBS). O paciente, de modo semelhante ao que aconteceu com o garçom no Rio de Janeiro, foi visto já sem vida sentado na cadeira de plástico da UBS.
Tragédia na saúde pública
Ao longo das décadas, os graves problemas do SUS acumulam-se em muitas histórias tristes, trágicas, de descaso das autoridades e funcionários, de negligência e incompetência, de falta de investimentos e de corrupção, a partir de desvios de verbas para a saúde.
Vacinação contra COVID-19
Mas, desde a pandemia, a partir da bem-sucedida campanha de vacinação contra a COVID-19 lançada pelo SUS, a esquerda, movida apenas por proselitismo político, lançou o slogan “Viva o SUS”, para exaltar o nosso Sistema Único de Saúde somente com fins estritamente político-ideologicos. Desde então, críticas ao SUS, mesmo que construtivas, parecem não serem bem-vindas pelos progressistas. O SUS, aos progressistas de plantão na imprensa e redes sociais, passou a uma categoria de algo que está acima de qualquer crítica, como se apontar as mazelas e tragédias da saúde pública no país fosse o mesmo que defender sua privatização.
“Viva o SUS“
O objetivo dos adeptos do “Viva o SUS” (muitos deles com plano de saúde) não é uma preocupação real com a saúde pública no país, mas, sim, pura narrativa de uma polarização política que tenta colocar na direita a pecha de “privatista”. A jornalista Daniela Lima, da Globo News, por exemplo, em um momento de ufanismo memorável já disse coisas do tipo: ”o SUS é gigante. Temos de respeitar essa máquina maravilhosa que coloca o pobre e o rico na mesma fila de transplantes”. A jornalista Leilane Neubarth, outra global, teceu comentários de exaltação no mesmo nível: ”O SUS é a maior referência em atendimento público. Não dá para repassar fofocas por que o SUS salvou a gente na pandemia”.
Lula e o SUS
O presidente Lula, neste terceiro mandato, tem engrossado o coro de exaltação ao SUS, afinal, não pode perder a deixa da narrativa de polarização que o colocou no poder, novamente. Lula tem sido só elogios ao SUS. Por ocasião do transplante do apresentador Faustão, lembrou que o milionário ex-funcionário da Rede Globo obteve seu coração novo a partir da fila de transplantes do SUS. O presidente tem frisado que o “SUS é o maior e melhor sistema de atendimento em saúde pública da América Latina“.
SUS para quem?
Contudo, a doença veio para Lula. Mas, ao invés de buscar atendimento em um hospital do SUS, o petista foi para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. A instituição é uma das melhores do país e possui convênio com o SUS, também. Mas o presidente da República foi atendido na ala particular, tendo utilizado UTI cuja diária é estimada em R$2.133, de acordo com reportagem do portal Terra. Em casos complexos, com UTI seguida de quarto, o paciente pode desembolsar até R$27 mil, segundo a reportagem. Ora, quer dizer que “SUS é pra vocês e o Sírio-Libanês pra mim?”? Esta é a pergunta que muitos têm feito ao presidente da República nas redes sociais…
Críticas construtivas
Críticas construtivas ao SUS não podem ser confundidas com defesas a privatização da saúde pública. Também, não se trata de buscar denegrir a imagem do Sistema Único de Saúde, como tenta distorcer a esquerda diante das críticas da direita. Felizmente, a qualidade de atendimento no SUS varia muito conforme o estado e o município, uma vez que a gestão é compartilhada entre os três entes federados: município, estado e governo federal. Os recursos, da mesma forma, são provenientes das três esferas de poder. Então, felizmente, há municípios e estados em que o SUS costuma apresentar diferenças significativas em termos de qualidade e eficiência.
Papel do governo federal
Entretanto, cabe questionar o grande papel do governo federal, nos investimentos e gestão da saúde pública, uma vez que as diretrizes e um expressivo montante de recursos partem do Ministério da Saúde. Principalmente, em tempos de ajuste fiscal com vistas ao corte de gastos tão necessário ao governo federal. Em 2024, houve contingenciamentos de despesas que penalizaram a saúde e a educação, além do Ministério das Cidades. O governo, no final de setembro passado, por exemplo, determinou o bloqueio no Orçamento da Saúde no valor de R$4,5 bilhões. Para a Educação, o contingenciamento ficou em torno de R$ 1,373 bilhão. A medida foi necessária para que as regras do novo arcabouço fiscal fossem cumpridas.
Hipocrisia
Se fosse um governo de direita, críticos diriam que seria previsível a redução dos investimentos em saúde e educação. Mas, o que dizer de um governo de esquerda, que se vangloria de “governar para os mais pobres e vulneráveis“ que dependem de serviços públicos básicos como, saúde e educação? Resta classificar como “hipocrisia“ um discurso absolutamente incoerente com a prática.
Mordomias e migalhas
Enquanto, os detentores de cargos públicos de alto escalão esbaldam-se em mordomias, salários nababescos e seus penduricalhos, planos de saúde da melhor qualidade, ao povo, restam migalhas, descaso, negligência e incompetência. E lá vamos nós, o povo, contribuir com o ajuste fiscal, que só corta na carne das classes média e baixa. A perspectiva é a de que pagaremos mais tributos para receber cada vez menos em contrapartida, na forma de serviços públicos sucateados e ineficientes.