Vitória de Trump fortalece direita no mundo, mas pode enfraquecer economias emergentes
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Vitória de Trump fortalece direita no mundo, mas pode enfraquecer economias emergentes

A eleição do republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em uma vitória com bastante folga sobre a democrata Kamala Harris traz implicações políticas, econômicas e ideológicas ao Brasil. Do ponto de vista político e ideológico, fortalece a direita e a extrema-direita no país, oferecendo um fôlego ao bolsonarismo, inclusive. Aliás, Eduardo Bolsonaro e uma comitiva acompanharam a apuração dos votos no resort de Donald Trump na Flórida, a convite do republicano.

 

Elegibilidade e anistia

A empolgação de Bolsonaro e aliados é tanta com a vitória de Trump que traz esperanças, até, da aprovação de uma anistia aos presos de 8 de janeiro e, especialmente, ao próprio Bolsonaro, que está inelegível até 2030, por determinação do TSE. Bolsonaro e aliados acreditam que Trump no poder possa exercer pressão ao STF para que recupere a elegibilidade em 2026 e consiga concorrer à presidência da República. A aposta gira em torno da aliança entre Trump e o bilionário Elon Musk. O empresário investiu horrores na campanha de Trump, o que lhe trouxe um retorno muito lucrativo com a vitória de seu candidato e deverá ser nomeado um dos assessores do futuro presidente dos EUA.

 

Musk x Alexandre de Moraes

Porém, a probabilidade é muito remota de que Musk tenha condições de exercer algum tipo de pressão sobre o STF. Já vimos, meses atrás, o recuo do bilionário na queda de braço com Alexandre de Moraes em relação ao X (ex-Twitter). Para voltar a atuar no Brasil, a plataforma teve de pagar pesada multa e adequar-se a legislação brasileira. O Brasil, afinal, é uma nação soberana conforme nossa Carta Magna bem explicita.

 

Lira adia pauta da anistia

Com relação ao Projeto de Lei (PL) para anistia aos presos políticos do 8 de janeiro, é preciso combinar com o presidente da Câmara, Arthur Lira, que já sinalizou que não está com pressa de colocar o PL em votação. Lira determinou a criação de uma comissão especial, ainda não formada, para analisar o projeto. Até então, era necessário apenas aprovação na Comissão de Constituição e Justiça da Casa para ir à votação em plenário.

 

Expectativa de alta do dólar e inflação

Quanto às implicações econômicas da vitória de Trump ao Brasil, o que se pode esperar é a tão propagada política de protecionismo a economia americana. Isso significa mais taxação aos produtos importados pelos EUA. O Brasil tem nos Estados Unidos seu segundo maior parceiro comercial, depois da China. Espera-se um aumento entre 10% e 20% na taxação. É o chamado “protecionismo tarifário” defendido pelo republicano como uma de suas principais plataformas de campanha. O objetivo é fortalecer a economia interna do país, protegendo e estimulando a produção nacional e a geração de empregos. Setores do agronegócio, e de exportação de ferro e aço no Brasil deverão encontrar taxas mais altas para entrarem nos EUA. Porém, quem perde muito mais com a vitória de Trump é a China, considerada rival econômica dos Estados Unidos, na concepção de Trump. Para a China, a taxação deverá chegar a 60%, o que deverá contribuir ainda mais para desacelerar a economia chinesa, que já vem diminuindo o ritmo de crescimento nos últimos anos. Com a economia chinesa em desaceleração, há prejuízos às exportações brasileiras para o país asiático, nosso principal parceiro comercial.

 

Ciclo de alta do dólar

Uma tendência de alta do dólar, a curto prazo, ao menos, também é esperada a partir da eleição do republicano. Uma vez que a política econômica de Trump é direcionada ao isolacionismo nas relações comerciais com outros países, voltando-se para o mercado interno, o fluxo de capitais de investimentos tende a migrar para os EUA, promovendo maior concentração da moeda americana no país. A previsão é de um enxugamento da liquidez nos países emergentes, redirecionando o fluxo de capitais aos Estados Unidos. Quanto menos dólares circulando fora dos EUA, mais cara a moeda americana torna-se para os demais países.

 

Valorização das commodities

Por outro lado, a valorização do dólar termina por valorizar os preços das commodities agrícolas no mercado internacional. Esse efeito torna-se vantajoso para o agronegócio brasileiro que deverá exportar commodities a preços mais altos, se conseguir manter produtos competitivos.

 

Alimentos e combustíveis mais caros

Já para o brasileiro assalariado, a eleição de Trump não promete prosperidade financeira. Embora a alta do dólar favoreça a exportação de commodities agrícolas e minerais, deverá gerar mais pressão inflacionária aos preços no mercado interno do Brasil. Por conta da elevação dos custos de diversos itens da cadeia produtiva de muitos produtos essenciais, a exemplo de alimentos e combustíveis. Vale lembrar que o Brasil importa muitos itens da cadeia produtiva. Com dólar mais alto, mais caros deverão chegar ao consumidor os preços destes produtos. Em resumo, o trabalhador assalariado deverá ver a perda de seu poder aquisitivo diante de produtos essenciais mais caros ao consumidor. Em termos econômicos, não se vislumbra nenhuma vantagem para a maioria dos brasileiros, constituída por trabalhadores assalariados, servidores públicos, profissionais liberais, micro e pequenos empreendedores, enfim, pessoas sem vínculos alguns com o agronegócio, a partir da vitória de Trump.

 

Aumento da taxa Selic

Para reduzir a pressão inflacionária, o Banco Central ver-se-á obrigado a aumentar a taxa Selic de juros, mesmo sob a gestão do desenvolvimentista indicado por Lula, Gabriel Galipolo. Aliás, na noite de quarta-feira (06/11), uma reunião do Copom aconteceu com a previsão de decisão de alta de 0,50% na taxa Selic, passando para 11,25%.

 

Fim da guerra na Ucrânia

Mas entre os países mais prejudicados com a vitória de Trump, além da China, está a Ucrânia. Trump já tem dito, há tempos, que quer acabar com a guerra na Ucrânia. De um modo bastante peculiar, muito controverso, aliás. Aliado de Putin, o republicano simplesmente quer forçar a Ucrânia a aceitar ceder partes de seu território para a Rússia. A retirada do apoio dos Estados Unidos com armamentos para a Ucrânia seria estratégica para pôr fim a guerra, obrigando ao país invadido e atacado a entrar num acordo com a Rússia para ceder algumas partes de seu território.

 

Falsa paz

De fato, como tem dito Trump, a guerra tem trazido um custo alto não apenas aos Estados Unidos, que tem gastos elevados com armamentos, mas ao mundo, em geral, por contribuir para o encarecimento de diversos bens essenciais, a exemplo dos preços dos combustíveis e dos alimentos. Contudo, por meio de injustiças e do ataque a soberania da Ucrânia só se promove uma falsa paz que, mais cedo ou mais tarde, deverá quebrar-se para dar origem a um novo conflito, talvez, ainda mais grave.

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