“Febre” das bets assusta autoridades públicas que tentam conter impactos socioeconômicos
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

“Febre” das bets assusta autoridades públicas que tentam conter impactos socioeconômicos

Uma verdadeira epidemia de vício em apostas online tem assolado a população brasileira. As notícias sobre os estragos que o vício em apostas nas bets tem causado pipocam na imprensa, há várias semanas. Nesta semana, veio um dado ainda mais alarmante: beneficiários do Bolsa-Família estão gastando dinheiro do benefício social em apostas online. De acordo com dados do Banco Central, cinco milhões de beneficiários do Bolsa-Família destinaram R$3 bilhões às casas de apostas virtuais em um mês.

 

Dinheiro dos impostos

Isso é dinheiro dos nossos impostos destinado a poucas pessoas e empresas, algumas de reputação duvidosa, que lucram bilhões às custas da ignorância e vício de pessoas pobres e miseráveis. Empresários e influenciadores que estão lucrando com a destruição de vidas pessoais, familiares e conjugais de milhões de brasileiros.

 

Saúde mental

Os dados oficiais demonstram que a situação chega ao nível de um grave problema de saúde pública, de saúde mental, que acarreta consequências econômicas e sociais importantes. Os números ainda apontam que 24 milhões de brasileiros gastam seu dinheiro com jogos de azar e apostas no país. O total apostado, somente em agosto, foi de R$20,8 bilhões. 14% da população brasileira, ou seja, 22 milhões de pessoas, fizeram, pelo menos, uma aposta online em 2023.

 

Comprometimento da segurança alimentar

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate a Fome, Wellington Dias, divulgou nota expressando preocupação com o uso do dinheiro do Bolsa-Família para bancar apostas. Dias solicitou esclarecimentos ao Ministério da Fazenda e destacou ainda a proposta em andamento para a regulamentação desse mercado no país. Disse, também, que é preciso encontrar mecanismos de proteção dos mais vulneráveis a fim de evitar que o dinheiro dos benefícios sociais vá para as casas de apostas.

 

PL proíbe uso de dinheiro do Bolsa-Família

Contudo, a mera regulamentação não deverá surtir efeito no que se refere a conter o vício e o uso desenfreado das apostas online. Tampouco, evitar que o dinheiro dos benefícios sociais seja destinado a esses fins. Neste sentido, o deputado federal Tião Medeiros (PP-PR) já protocolou na Câmara o Projeto de Lei (PL) 3.703/24, que prevê a proibição do uso do dinheiro de benefícios sociais em apostas virtuais. A proibição vale para cônjuges e dependentes do beneficiário. O PL aguarda despacho do presidente da Câmara, Arthur Lira, para começar a tramitar.

 

“Febre” das bets

A iniciativa do deputado paranaense é o primeiro passo para tentar conter os estragos que a “febre” das bets tem causado a milhões de brasileiros. Porém, é preciso fazer muito mais. As instituições financeiras e bancárias expressam preocupação com o aumento da inadimplência, bem como o setor varejista. Apostadores têm deixado de pagar dívidas para gastar com apostas. Sem contarmos aqueles que pedem empréstimos bancários para financiar as apostas, resultando numa bola de neve em que o sujeito se vê cada vez mais enrolado em dívidas ao ponto de não conseguir mais pagá-las.

 

Impacto socioeconômico

O impacto socioeconômico deverá revelar-se brutal se o problema não for contido. O Banco Central, também, expressa essa preocupação e monitora o impacto das bets. Notícias dão conta de que aposentados e pensionistas já comprometeram, até, R$3 mil mensais em apostas. Sendo que 30% deles já buscaram empréstimos, em doze meses, para financiar as bets. Uma situação de calamidade pública, realmente…

 

Impactos pessoais, familiares e no comércio

Há relatos de viciados que deixam de comprar comida e medicamentos para bancar as apostas. O que, além de prejuízos pessoais, acarreta prejuízos ao setor de comércio e serviços. O dinheiro que seria gasto em supermercados, farmácias, lojas e serviços, em geral, tem ido para as bets. Há comerciantes que já registram queda nas vendas.

 

Regulamentação

É preciso ir muito além da regulamentação dos jogos e apostas online. A regulamentação apenas estabelece critérios que podem colaborar para a idoneidade das empresas credenciadas. Porém, não atua no combate ao vício em apostas, neste grave problema de saúde pública que tem destruído famílias e casamentos.

 

Divórcio e suicídio

Basta dar um Google no noticiário para encontrar dezenas de reportagens contando casos assustadores sobre este vício que levou a divórcios, endividamentos impressionantes e, até, depressão e suicídio. Entre as histórias, encontra-se até casos em que o apostador dependente de apostas cogitou largar o emprego, num misto de ingenuidade e malandragem, por acreditar que poderia viver do “lucro” em apostas. Realmente, histórias como essa revelam a quantas anda a mentalidade do brasileiro.

 

Desesperança, ignorância e malandragem

Talvez, a desesperança em obter ascensão social e melhorias no poder aquisitivo por meio do trabalho honesto e dos estudos nunca tenha chegado a uma dimensão tão assustadora. É a única explicação plausível para tanta “fé” nos jogos de azar. Aquela sensação no brasileiro de que as apostas seriam a “tábua de salvação” diante de um cenário aparentemente sem perspectivas de um futuro melhor. Contudo, empregos não têm faltado para quem acredita que o trabalho honesto é a única saída digna para mais qualidade de vida. A economia vai bem e apresenta um dos menores índices de desemprego dos últimos anos. Enfim, é perceptível um misto de ignorância e ingenuidade com pura malandragem nestes apostadores dependentes.

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