segunda-feira, 7 de outubro de 2024
“Febre” das bets assusta autoridades públicas que tentam conter impactos socioeconômicos

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

“Febre” das bets assusta autoridades públicas que tentam conter impactos socioeconômicos

Uma verdadeira epidemia de vício em apostas online tem assolado a população brasileira. As notícias sobre os estragos que o vício em apostas nas bets tem causado pipocam na imprensa, há várias semanas. Nesta semana, veio um dado ainda mais alarmante: beneficiários do Bolsa-Família estão gastando dinheiro do benefício social em apostas online. De acordo com dados do Banco Central, cinco milhões de beneficiários do Bolsa-Família destinaram R$3 bilhões às casas de apostas virtuais em um mês.

 

Dinheiro dos impostos

Isso é dinheiro dos nossos impostos destinado a poucas pessoas e empresas, algumas de reputação duvidosa, que lucram bilhões às custas da ignorância e vício de pessoas pobres e miseráveis. Empresários e influenciadores que estão lucrando com a destruição de vidas pessoais, familiares e conjugais de milhões de brasileiros.

 

Saúde mental

Os dados oficiais demonstram que a situação chega ao nível de um grave problema de saúde pública, de saúde mental, que acarreta consequências econômicas e sociais importantes. Os números ainda apontam que 24 milhões de brasileiros gastam seu dinheiro com jogos de azar e apostas no país. O total apostado, somente em agosto, foi de R$20,8 bilhões. 14% da população brasileira, ou seja, 22 milhões de pessoas, fizeram, pelo menos, uma aposta online em 2023.

 

Comprometimento da segurança alimentar

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate a Fome, Wellington Dias, divulgou nota expressando preocupação com o uso do dinheiro do Bolsa-Família para bancar apostas. Dias solicitou esclarecimentos ao Ministério da Fazenda e destacou ainda a proposta em andamento para a regulamentação desse mercado no país. Disse, também, que é preciso encontrar mecanismos de proteção dos mais vulneráveis a fim de evitar que o dinheiro dos benefícios sociais vá para as casas de apostas.

 

PL proíbe uso de dinheiro do Bolsa-Família

Contudo, a mera regulamentação não deverá surtir efeito no que se refere a conter o vício e o uso desenfreado das apostas online. Tampouco, evitar que o dinheiro dos benefícios sociais seja destinado a esses fins. Neste sentido, o deputado federal Tião Medeiros (PP-PR) já protocolou na Câmara o Projeto de Lei (PL) 3.703/24, que prevê a proibição do uso do dinheiro de benefícios sociais em apostas virtuais. A proibição vale para cônjuges e dependentes do beneficiário. O PL aguarda despacho do presidente da Câmara, Arthur Lira, para começar a tramitar.

 

“Febre” das bets

A iniciativa do deputado paranaense é o primeiro passo para tentar conter os estragos que a “febre” das bets tem causado a milhões de brasileiros. Porém, é preciso fazer muito mais. As instituições financeiras e bancárias expressam preocupação com o aumento da inadimplência, bem como o setor varejista. Apostadores têm deixado de pagar dívidas para gastar com apostas. Sem contarmos aqueles que pedem empréstimos bancários para financiar as apostas, resultando numa bola de neve em que o sujeito se vê cada vez mais enrolado em dívidas ao ponto de não conseguir mais pagá-las.

 

Impacto socioeconômico

O impacto socioeconômico deverá revelar-se brutal se o problema não for contido. O Banco Central, também, expressa essa preocupação e monitora o impacto das bets. Notícias dão conta de que aposentados e pensionistas já comprometeram, até, R$3 mil mensais em apostas. Sendo que 30% deles já buscaram empréstimos, em doze meses, para financiar as bets. Uma situação de calamidade pública, realmente…

 

Impactos pessoais, familiares e no comércio

Há relatos de viciados que deixam de comprar comida e medicamentos para bancar as apostas. O que, além de prejuízos pessoais, acarreta prejuízos ao setor de comércio e serviços. O dinheiro que seria gasto em supermercados, farmácias, lojas e serviços, em geral, tem ido para as bets. Há comerciantes que já registram queda nas vendas.

 

Regulamentação

É preciso ir muito além da regulamentação dos jogos e apostas online. A regulamentação apenas estabelece critérios que podem colaborar para a idoneidade das empresas credenciadas. Porém, não atua no combate ao vício em apostas, neste grave problema de saúde pública que tem destruído famílias e casamentos.

 

Divórcio e suicídio

Basta dar um Google no noticiário para encontrar dezenas de reportagens contando casos assustadores sobre este vício que levou a divórcios, endividamentos impressionantes e, até, depressão e suicídio. Entre as histórias, encontra-se até casos em que o apostador dependente de apostas cogitou largar o emprego, num misto de ingenuidade e malandragem, por acreditar que poderia viver do “lucro” em apostas. Realmente, histórias como essa revelam a quantas anda a mentalidade do brasileiro.

 

Desesperança, ignorância e malandragem

Talvez, a desesperança em obter ascensão social e melhorias no poder aquisitivo por meio do trabalho honesto e dos estudos nunca tenha chegado a uma dimensão tão assustadora. É a única explicação plausível para tanta “fé” nos jogos de azar. Aquela sensação no brasileiro de que as apostas seriam a “tábua de salvação” diante de um cenário aparentemente sem perspectivas de um futuro melhor. Contudo, empregos não têm faltado para quem acredita que o trabalho honesto é a única saída digna para mais qualidade de vida. A economia vai bem e apresenta um dos menores índices de desemprego dos últimos anos. Enfim, é perceptível um misto de ignorância e ingenuidade com pura malandragem nestes apostadores dependentes.

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