sexta-feira, 20 de setembro de 2024
Cadeirada e baixo nível do debate em São Paulo revelam decadência do atual sistema político brasileiro

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Cadeirada e baixo nível do debate em São Paulo revelam decadência do atual sistema político brasileiro

Não se fala em outra coisa a semana inteira: a cadeirada do Datena no Pablo Marçal. Foi uma cena digna de um circo de horrores, durante o debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo, na TV Cultura, que ganhou os holofotes durante a semana. Apesar dos memes, das brincadeiras nas redes sociais, é vergonhoso, muito lamentável, mesmo, que o pleito para a Prefeitura da maior cidade do país e umas das maiores e mais prósperas do mundo, esteja assombrado por tudo o que há de pior na política.

 

Atual sistema político

A ausência de candidatos qualificados para a Prefeitura de uma cidade com o maior PIB entre as capitais é um forte indicativo de que a política brasileira vai mal, muito mal mesmo. E que, talvez, haja um problema mais profundo do que a simples e aparente falta de bons candidatos, apontando para a falência, a decadência, do atual sistema político brasileiro.

 

“Outsiders” e o vazio de propostas

Vejamos o que aconteceu com o PSDB, em São Paulo. A que ponto chegou para não contar com um candidato, ao menos, melhorzinho, que o apresentador José Luís Datena? Pablo Marçal, também, é outra figura “outsider“ da política que, para além das polêmicas, da lacração e das confusões que cria, não tem mais nada a oferecer. O candidato goiano do PRTB, sequer, conhece bem São Paulo e seus problemas para apresentar um plano de governo minimamente aceitável.

 

Baixaria total

Enfim, dois candidatos extremamente desqualificados conseguiram ofuscar todo o debate com baixarias e barbárie. O povo, por sua vez, só faltou aplaudir a cena grotesca da cadeirada. Acredito que não esteja percebendo que o “palhaço” deste circo de horrores é o eleitor. Quem não gosta do Pablo Marçal vibrou com a “solução” encontrada por Datena para calar a boca provocativa do goiano. Ora, como alguém consegue tomar partido nesta briga e escolher um lado para defender e apoiar? A dupla de adversários é tão insana que este é um daqueles casos em que a gente costuma dizer que não dá para torcer para nenhum lado, que só dá para torcer para a briga.

 

Engajamento cresceu

Mas o que não faltam são novos “fãs” do Datena pós-cadeirada. O apresentador ganhou mais engajamento nas redes sociais após o episódio e inclusive disse que acredita que “lavou a alma” de muitos ao partir para a agressão física contra Marçal. Também, não faltam os defensores do ex-coach, que o pintam como a “vítima”. Tanto que Marçal chegou ao cúmulo do ridículo ao comparar a cadeirada que levou com a facada de Bolsonaro e o atentado a Donald Trump. A comparação é tão descabida que, das duas, uma: ou o candidato subestima muito a inteligência de seu eleitorado ou é realmente uma pessoa delirante.

 

Chamou para a briga

Marçal, de vítima, não tem nada. Provocou, provocou, Datena, até que levou. Chamou o candidato tucano para a briga, mesmo. Queria ver o circo pegar fogo. Não sossegou enquanto não levou o debate entre os dois até as últimas consequências. Não importa o motivo, se a acusação contra Datena foi falsa, ou verdadeira, o que ficou evidente foi o absoluto despreparo do apresentador e jornalista ao lidar com uma pessoa com o perfil de Marçal, aquele tipo de gentinha que não sossega enquanto não tira do sério o adversário. Aliás, é só isso que o ex-coach sabe fazer, mesmo: partir para brigas, agressões, acusações e provocações. Boulos foi acusado por Marçal de ser cheirador de cocaína. Tabata Amaral acusada por Marçal de ser culpada pela morte do pai viciado em crack… Propostas, plano de governo, que é bom… nada…

 

Discurso vazio contra o sistema

É um discurso vazio contra o sistema que já vinha perdendo força conforme demonstravam as pesquisas. Após uma disparada nas intenções de voto, o candidato supostamente conservador e pretenso herdeiro do bolsonarismo já estava perdendo pontos, conforme as últimas pesquisas. Restou-lhe tentar faturar alguns percentuais com as provocações a Datena para buscar sair como “vítima”. Mas a tática revelou-se muito tosca. Possivelmente, não conquiste o eleitorado indeciso.

 

“Menos ruim”

Enquanto isso, o insosso prefeito Ricardo Nunes , talvez, consiga comer pelas beiradas e realmente convença a maioria do eleitorado que é a opção menos ruim. Desafio que não é muito difícil, a julgar pelas alternativas. Quando a disputa pela Prefeitura da maior e mais rica cidade do país chega a um nível tão baixo como esse, é sinal de que algo de muito errado está acontecendo com nossa democracia, com o atual sistema político brasileiro.

 

“Termômetro” do país

Não é possível que uma cidade tão grande e rica como São Paulo, o maior centro econômico e cultural do país, não conte com pessoas mais inteligentes, capacitadas, preparadas e sérias dispostas a pleitear a prefeitura do que os atuais candidatos. Os partidos precisam rever o modo como estão trabalhando pelas candidaturas, devem buscar e dar espaço a gente mais qualificada. Do contrário, tem se tornado um sistema autodestrutivo. Vide o que aconteceu com o PSDB. E o temor é que o exemplo da cidade mais importante do país alastre-se. Afinal, São Paulo ainda é um termômetro para os humores e rumos da política nacional.

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