Cadeirada e baixo nível do debate em São Paulo revelam decadência do atual sistema político brasileiro
Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Cadeirada e baixo nível do debate em São Paulo revelam decadência do atual sistema político brasileiro

Não se fala em outra coisa a semana inteira: a cadeirada do Datena no Pablo Marçal. Foi uma cena digna de um circo de horrores, durante o debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo, na TV Cultura, que ganhou os holofotes durante a semana. Apesar dos memes, das brincadeiras nas redes sociais, é vergonhoso, muito lamentável, mesmo, que o pleito para a Prefeitura da maior cidade do país e umas das maiores e mais prósperas do mundo, esteja assombrado por tudo o que há de pior na política.

 

Atual sistema político

A ausência de candidatos qualificados para a Prefeitura de uma cidade com o maior PIB entre as capitais é um forte indicativo de que a política brasileira vai mal, muito mal mesmo. E que, talvez, haja um problema mais profundo do que a simples e aparente falta de bons candidatos, apontando para a falência, a decadência, do atual sistema político brasileiro.

 

“Outsiders” e o vazio de propostas

Vejamos o que aconteceu com o PSDB, em São Paulo. A que ponto chegou para não contar com um candidato, ao menos, melhorzinho, que o apresentador José Luís Datena? Pablo Marçal, também, é outra figura “outsider“ da política que, para além das polêmicas, da lacração e das confusões que cria, não tem mais nada a oferecer. O candidato goiano do PRTB, sequer, conhece bem São Paulo e seus problemas para apresentar um plano de governo minimamente aceitável.

 

Baixaria total

Enfim, dois candidatos extremamente desqualificados conseguiram ofuscar todo o debate com baixarias e barbárie. O povo, por sua vez, só faltou aplaudir a cena grotesca da cadeirada. Acredito que não esteja percebendo que o “palhaço” deste circo de horrores é o eleitor. Quem não gosta do Pablo Marçal vibrou com a “solução” encontrada por Datena para calar a boca provocativa do goiano. Ora, como alguém consegue tomar partido nesta briga e escolher um lado para defender e apoiar? A dupla de adversários é tão insana que este é um daqueles casos em que a gente costuma dizer que não dá para torcer para nenhum lado, que só dá para torcer para a briga.

 

Engajamento cresceu

Mas o que não faltam são novos “fãs” do Datena pós-cadeirada. O apresentador ganhou mais engajamento nas redes sociais após o episódio e inclusive disse que acredita que “lavou a alma” de muitos ao partir para a agressão física contra Marçal. Também, não faltam os defensores do ex-coach, que o pintam como a “vítima”. Tanto que Marçal chegou ao cúmulo do ridículo ao comparar a cadeirada que levou com a facada de Bolsonaro e o atentado a Donald Trump. A comparação é tão descabida que, das duas, uma: ou o candidato subestima muito a inteligência de seu eleitorado ou é realmente uma pessoa delirante.

 

Chamou para a briga

Marçal, de vítima, não tem nada. Provocou, provocou, Datena, até que levou. Chamou o candidato tucano para a briga, mesmo. Queria ver o circo pegar fogo. Não sossegou enquanto não levou o debate entre os dois até as últimas consequências. Não importa o motivo, se a acusação contra Datena foi falsa, ou verdadeira, o que ficou evidente foi o absoluto despreparo do apresentador e jornalista ao lidar com uma pessoa com o perfil de Marçal, aquele tipo de gentinha que não sossega enquanto não tira do sério o adversário. Aliás, é só isso que o ex-coach sabe fazer, mesmo: partir para brigas, agressões, acusações e provocações. Boulos foi acusado por Marçal de ser cheirador de cocaína. Tabata Amaral acusada por Marçal de ser culpada pela morte do pai viciado em crack… Propostas, plano de governo, que é bom… nada…

 

Discurso vazio contra o sistema

É um discurso vazio contra o sistema que já vinha perdendo força conforme demonstravam as pesquisas. Após uma disparada nas intenções de voto, o candidato supostamente conservador e pretenso herdeiro do bolsonarismo já estava perdendo pontos, conforme as últimas pesquisas. Restou-lhe tentar faturar alguns percentuais com as provocações a Datena para buscar sair como “vítima”. Mas a tática revelou-se muito tosca. Possivelmente, não conquiste o eleitorado indeciso.

 

“Menos ruim”

Enquanto isso, o insosso prefeito Ricardo Nunes , talvez, consiga comer pelas beiradas e realmente convença a maioria do eleitorado que é a opção menos ruim. Desafio que não é muito difícil, a julgar pelas alternativas. Quando a disputa pela Prefeitura da maior e mais rica cidade do país chega a um nível tão baixo como esse, é sinal de que algo de muito errado está acontecendo com nossa democracia, com o atual sistema político brasileiro.

 

“Termômetro” do país

Não é possível que uma cidade tão grande e rica como São Paulo, o maior centro econômico e cultural do país, não conte com pessoas mais inteligentes, capacitadas, preparadas e sérias dispostas a pleitear a prefeitura do que os atuais candidatos. Os partidos precisam rever o modo como estão trabalhando pelas candidaturas, devem buscar e dar espaço a gente mais qualificada. Do contrário, tem se tornado um sistema autodestrutivo. Vide o que aconteceu com o PSDB. E o temor é que o exemplo da cidade mais importante do país alastre-se. Afinal, São Paulo ainda é um termômetro para os humores e rumos da política nacional.

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