quinta-feira, 19 de setembro de 2024
Margarita Sansone deixa imenso legado de iniciativas pioneiras na ação social, nas artes e na cultura

Margarita Sansone deixa imenso legado de iniciativas pioneiras na ação social, nas artes e na cultura

Margarita Sansone
Uma das pessoas mais cultas do Paraná que se destacava, também, pela solidariedade e preocupação com os mais vulneráveis

No último dia 20 de agosto, faleceu, em decorrência de um linfoma, a primeira-dama de Curitiba, Margarita Pericás Sansone, esposa do prefeito Rafael Greca. Mais do que a perda de uma primeira-dama, a capital e o estado do Paraná perderam uma referência pioneira em áreas como a assistência social, a arte e a cultura. Dona de um notável carisma e senso humanitário, Margarita era, também, jornalista, escritora, fundadora e primeira presidente da Fundação de Ação Social (FAS). Uma das pessoas mais cultas do Paraná que se destacava, também, pela solidariedade e preocupação com os mais vulneráveis.

Grande companheira de Greca, desde a década de 1970, quando o casal se conheceu, Margarita atuou com o namorado e, depois, marido (casaram-se em 1992), em parcerias de projetos diversos no campo das artes, da cultura e da assistência social, deixando um legado de iniciativas que fizeram História em Curitiba.

 

Inspiração a Greca

Esteve ao lado e foi inspiração para o prefeito Rafael Greca em toda a trajetória política dele, como vereador, deputado estadual e deputado federal, secretário de Estado do Paraná e ministro de Estado do governo Fernando Henrique Cardoso, bem como nas três gestões de Greca como prefeito de Curitiba (1993-1996 / 2017-2020 / 2021-2024).

“Minha amada Margarita Pericás Sansone partiu, deixando um vazio imenso em meu coração e na vida de todos que tiveram a bênção de conhecê-la. Margarita foi a luz que guiou meus passos, minha companheira incansável e a razão de muitos dos meus sorrisos”, disse o prefeito Rafael Greca.

Nascida em 7 de junho de 1945, em Curitiba, Margarita graduou-se em Língua e Literatura Francesa pela Universidade de Nancy (França) e na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Também era bacharel em Economia formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e recebeu bolsa de estudos da Escola Dante Alighieri de Roma (Itália) para o curso de graduação em Literatura, História da Arte e Arqueologia. Poliglota, falava inglês, espanhol, francês, catalão e italiano (a língua de seus avós Bamonte Sansone).

 

Restaurante Popular

Além de manter uma coluna semanal por mais de 30 anos em jornais como a Gazeta do Povo, dedicou-se à poesia e à crônica. Sua atuação na área social imprimiu a marca de iniciativas icônicas, como a criação do Vale Creche, da Linha Sopão e do Restaurante Curitibano (inaugurando o primeiro restaurante popular no Brasil com refeições pelo preço simbólico de R$ 1), embrião para os demais restaurantes populares da Prefeitura e os atuais pontos do programa Mesa Solidária, que oferece refeições gratuitas à população em situação de rua e risco social.

 

Criação da FAS

De 1993 a 1996, na primeira gestão de Rafael Greca como prefeito de Curitiba, Margarita Sansone criou e presidiu a Fundação de Ação Social (FAS) e o Instituto Pró-Cidadania de Curitiba (IPCC), órgãos responsáveis por uma administração pública solidária e inovadora, com uma grande rede de programas sociais, incluindo: Vale Vovó (benefício para idosos), Carrinheiro Cidadão, Fazenda Solidariedade (de apoio a pessoas em recuperação de dependência química), FAS Trabalho, Vilas de Ofícios, Liceus de Ofícios, FAS SOS, Educadores de Rua e a Pousada de Maria, primeira instituição do Brasil voltada ao acolhimento de mulheres em situação de risco social e vítimas de violência doméstica.

 

Festas da Ordem

Margarita ainda liderou várias campanhas de caridade durante as Festas da Ordem, evento criado por ela e Rafael Greca e realizado entre 1979 e 2009, tendo contemplado a cada ano com os recursos arrecadados uma entidade diferente, como Pequeno Cotolengo, Santa Casa de Misericórdia, Asilo São Vicente e albergue da Federação Espírita do Paraná, em um movimento ecumênico e de solidariedade sem precedentes na história de Curitiba.

Ainda namorados, Margarita e Rafael Greca encamparam a causa do restauro da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, a partir de 1978, fundando a “Associação de Amigos da Igreja da Ordem Terceira dos Franciscanos” que, por mais de 30 anos, foi a unidade de ação social mais expressiva do Paraná.

 

Fundação Cultural

De 1997 a 2000, presidiu a Fundação Cultural de Curitiba, apoiando as Bienais Internacionais de Imprensa e Fotografia e também promoveu e fundou o Museu da Fotografia da Cidade de Curitiba e o Museu Brasileiro da Gravura.

Criou e inaugurou, ao lado da amiga e atriz Fernanda Montenegro, a Cinemateca de Curitiba, a Casa da Memória e o Teatro Cleon Jacques, hoje parte do Memorial Paranista, iniciativa da gestão Greca que também teve a influência de Margarita.

Mais recentemente, inaugurou o Cine Passeio, também já na segunda gestão do prefeito Rafael Greca, em 2019, com o filme “A Grande Beleza”.

Margarita permanecerá eterna na memória dos curitibanos, ainda, por trazer à capital do Paraná diversas exposições de arte e apresentações artísticas, a exemplo da primeira exposição do genial artista espanhol Picasso, no Memorial de Curitiba, quando fez a curadoria de “Picasso em Curitiba”. Outras exposições também foram idealizadas por Margarita, como “Victor Brecheret em Curitiba”, “Fernanda Montenegro em Cena”, “Calazans Neto” e “Isabel Pons”, bem como conferências e performances de artistas consagrados como Jorge Wilheim, Paulo Autran, Eva Gillar, Eva Vilma, Carlos Heitor Cony, Fernanda Montenegro, Tônia Carrero, Gianfrancesco Guarnieri, entre outros.

 

World Habitat Award

Ao longo de sua trajetória, recebeu inúmeras premiações e reconhecimentos públicos. Seu intenso trabalho social obteve, na gestão Greca, reconhecimento com o “World Habitat Award, 1996”, da Fundação de Habitação e Construção da Organização das Nações Unidas (ONU).

Em 1996, a convite da ONU, Margarita Sansone ao lado de ex-primeira-dama do Brasil, Ruth Cardoso, palestrou na Conferência Internacional do Habitat em Istambul intitulada “Cidadania e emancipação das mulheres”.

 

Prêmio Alep

Há pouco mais de um ano, em junho de 2023, ela foi agraciada com o prêmio Rosy de Macedo Pinheiro Lima, na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), uma indicação da bancada feminina em razão das comemorações do Dia Internacional da Mulher. A honraria premia mulheres que se destacam em suas atividades e representam a força, a garra e determinação feminina.

“Recordar muitas coisas que nós fizemos para os mais humildes, para as pessoas abandonadas e os idosos. Eu voltei no tempo e tive uma imensa alegria e honra de estar aqui presente”, disse Margarita, à ocasião.

 

“Símbolo do amor”

O governador Ratinho Júnior manifestou grande pesar pelo passamento da primeira-dama de Curitiba, chamando-a de “símbolo do amor”. “Perdi uma amiga”, disse, acrescentando que ela era uma “entusiasta do desenvolvimento do nosso Paraná. Não somente o governador perdeu uma amiga. O nosso estado, em especial, a capital, perdeu uma grande amiga dos curitibinhas, pela imensa contribuição às artes, à cultura e à ação social. Margarita representava com classe, elegância, carisma e sobriedade o verdadeiro papel de uma primeira-dama. E tendo ido muito além do papel de primeira-dama, mantendo uma atuação independente de Greca no poder, inclusive, impulsionando iniciativas memoráveis que contribuíram para Curitiba ser reconhecida como ‘Capital das artes e da cultura’ e uma referência em programas sociais”, acrescentou o governador.

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