por Noelcir Bello
Nascidos em Telêmaco Borba, os irmãos Eliseu e Marcelo moram em Pinhais há 34 anos. Aos dez anos de idade, Eliseu foi acometido por uma doença chamada Distrofia Muscular e, na época, sofreu muito. Ele confessa ter sido rude com sua mãe e a falecida avó, as quais ele julgava culpadas por sua doença.
Com o passar do tempo, Eliseu percebeu e reconheceu que este era um problema seu e que só dependia de sua determinação para vencer esta barreira. Pediu perdão para as duas e passou a encarar a doença com o apoio de toda a família. Marcelo, seu irmão, também teve de enfrentar a mesma doença. Porém, os dois encontraram no esporte uma forma de amenizar as limitações e se tornar a cada dia um melhor exemplo para todos. E foi praticando bocha que conseguiram superar seus limites.
Eliseu foi o primeiro a começar a competir
Eliseu conheceu a ADFP (Associação dos Deficientes Físicos do Paraná) em 2005, onde começou a fazer fisioterapia, devido à sua doença. Quando começou a fazer as sessões, o técnico da equipe de bocha, Darlan, conheceu Eliseu e o chamou para treinar com a seleção.
Gostou muito da bocha adaptada e achou perfeito para seu caso, já que é um jogo de estratégia e não requer força. Treinou dois meses e já foi participar do Campeonato Brasileiro, onde conquistou o terceiro lugar. Foi chamado para representar a seleção na Copa América. Desde então, não saiu mais da seleção, e a cada competição tem melhorado suas marcas.
Eliseu conquistou cinco títulos brasileiros individual: 2006, 2008, 2009, 2011e 2013. No Campeonato Brasileiro de dupla ganhou outros cinco títulos e uma Copa do Brasil, e tem ainda três títulos regionais e uma Copa do Mundo individual, em 2011. No Mundial de 2010, foi bronze na dupla e individual e em 2014 conquistou a prata na dupla e no individual. Em Portugal foi campeão em dupla, e vice-campeão no individual. Quando viajou para o Paramundial na China, trouxe duas medalhas de prata e duas de bronze.
Eliseu representa a seleção do estado de São Paulo, a Tradef, desde 2012. Quando retornou de Londres, foi chamado para integrar a equipe devido aos seus resultados. Moram em Pinhais, mas os irmãos treinam na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, junto com a equipe da ADFP. Também treinam na casa da mãe deles todos os dias.
No Parapan-Americano de Toronto, realizado em agosto de 2015, foi ouro no Individual e Dupla. A competição começou às 06 horas da manhã e terminou às 18 horas.
Esporte como forma de inclusão social
Eliseu ressalta que o esporte é uma forma de inclusão das pessoas na sociedade, ainda mais com aparecimento dos resultados, onde a própria família passa a encará-lo de outra forma. “Saímos da incapacidade de coitadinho para nos tornarmos atletas capazes. Sugiro às pessoas que incentivem seus familiares a praticar esportes, pois isto transforma a vida”, afirmou Eliseu.
Para o nosso entrevistado, a bocha é como o xadrez, pois o que conta é a estratégia. Tem a hora de atacar e de defender. A partida é composta por quatro parciais e não permite erros.
Família de atletas
Marcelo dos Santos começou no esporte auxiliando os treinamentos do irmão Eliseu, em 2007. O técnico da seleção veio até a casa dele para conversar com o Eliseu e aproveitou a oportunidade para convidá-lo a competir também.
Em 2009, participou da sua primeira competição, a Regional Sul, que é a porta de entrada para as competições nacionais. Fez a final com Eliseu, quando sagrou-se campeão. Isto o motivou para treinar ainda mais. Ainda em 2009, perdeu a classificação. Os fisioterapeutas e médicos, juízes responsáveis, achavam que Marcelo não poderia competir por apresentar vantagens sob os demais para-atletas. Porém, em 2011, passou por três classificações internacionais que o classificaram para competir.
Segundo Marcelo, foi Eliseu que o incentivou a competir neste ano. Retornou e fez a decisão do Regional, onde Marcelo foi campeão. Decidiram também a competição nacional, mas Eliseu foi o campeão. Em 2012, se classificou em segundo lugar no Regional e foi vice-campeão Brasileiro, em Recife.
Nos três anos seguintes, Marcelo foi tricampeão regional e, em 2013, ingressou na seleção brasileira, representando o Paraná. Foi para o Kansas, nos Estados Unidos, disputar a Copa América e conquistou a medalha de ouro, em dupla, e uma de prata, no individual. Já em 2014, foi campeão individual no Parasul-Americano e vice-campeão em dupla. Também foi campeão da Copa do Brasil, em João Pessoa, campeão brasileiro em Águas de Lindóia e vice-campeão mundial de dupla, em Pequim, na China.
Neste ano, Marcelo, como era o campeão, foi para Montreal, no Canadá, disputar a Copa América de dupla, onde foi vice-campeão. Foi para Polônia, onde conquistou dois bronzes, tanto na dupla como no individual. No Parapan de Toronto, realizado no mês de agosto, foi ouro na dupla com o irmão Eliseu e por pouco não disputou o ouro com o irmão no individual, alcançando a terceira colocação.
Paraolimpíadas Rio 2016
A expectativa dos irmãos é grande para as Paraolimpíadas 2016, no Rio de Janeiro, competição em que os dois gostariam de competir juntos. Confiam no trabalho dos técnicos, porém afirmam que as variáveis são muitas. Marcelo acredita que luta pela terceira vaga na dupla que disputará o Para Pan do Rio, ou seja, o reserva.
Por se tratar de um fato inédito, dois irmãos competirem na mesma categoria e com o mesmo potencial, eles treinam forte para que isso ocorra. Não se cansam de treinar, pois os outros atletas estão treinando também e, mesmo sendo campeões, a preparação não pode parar.
Segundo eles, o nível do esporte está muito elevado no cenário nacional e são no mínimo dez atletas que têm potencial para ser o campeão brasileiro. Todos estão percebendo a importância dos treinos, por isso os irmãos param de treinar apenas nas festas de fim de ano e já retornam aos treinos no início de janeiro.
Falta de patrocinadores
Os patrocínios ainda são poucos, mas na última edição do Para Pan, em seu terceiro ano seguido como campeão, o Brasil teve seu maior número de medalhas, totalizando 109 medalhas de ouro, e o Canadá, o dono da casa, ficou com o segundo lugar, com apenas 50 medalhas de ouro. Esta edição levou a maior delegação da história, sendo 21 atletas do Paraná.
Marcelo tem como patrocinadores o Bolsa Atleta, do Ministério dos Esportes, e o Top 2016 Talento Olímpico Paranaense, que faz parte do programa de Governo do Estado do Paraná.
Já Eliseu conta com os patrocínios da Loterias Caixa, Bolsa Atleta Pódio, do Governo Federal, e o Time São Paulo Para Olímpico.
Para mais informações, acesse o Facebook: Nadia e Eliseu, Eliseu dos Santos, ou Marcelo dos Santos.