quinta-feira, 19 de setembro de 2024
Atentado a Trump escancara militância do grupo O Globo na construção de narrativa

Vanessa Martins de Souza

Jornalista responsável dos jornais do Grupo Paraná Comunicação (A Gazeta Cidade de Pinhais, A Gazeta Região Metropolitana, Agenda Local e Jardim das Américas Notícias)

Atentado a Trump escancara militância do grupo O Globo na construção de narrativa

O atentado ao candidato à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, em 13 de julho, pode ter deixado, ainda, muitas dúvidas sobre o crime. Porém, aqui, no Brasil, terminou por não deixar mais sombra de dúvidas a respeito do tipo de jornalismo que o Grupo Globo pratica. Se é que se pode chamar de jornalismo o que a emissora praticou logo após as primeiras informações chegadas ao país sobre a tentativa de assassinato do candidato republicano. Foi vexatória, vergonhosa, mesmo, a forma como o grupo de comunicação se posicionou sobre o fato.

 

Título patético

A vergonha nacional começou com o título patético com que o jornal O Globo deu a notícia de um dos mais importantes e históricos acontecimentos dos últimos tempos, a nível internacional. “Trump cai do palco durante comício na Pensilvânia com sangue no rosto”. Foi assim que um dos maiores veículos do jornalismo impresso noticiou o que aconteceu. Descaradamente, escondendo, no título da matéria, que houve um atentado, que houve tiros, enfim, só faltou dizer que não se tratava de sangue no rosto. Que seria “suposto sangue”, talvez, catchup, que tal? Dessa vez, o grupo Globo se superou em tentar vender uma narrativa fantasiosa sem a mínima conexão com a realidade. Dessa vez, forçaram tanto a barra para esconder um fato que não atende aos interesses ideológicos do grupo ao ponto de ser inevitável encararmos como comédia o que, na verdade, é uma tragédia para o jornalismo brasileiro.

 

“Homer Simpson”

Não, não é preciso contar com alta escolaridade, boa formação política e um nível de inteligência acima de um “Homer Simpson”, como se referiu William Bonner ao público do Jornal Nacional, para perceber que o jornalismo do grupo Globo está agonizando em militância desavergonhada, há muito tempo. E que não corresponde, nem de longe, às expectativas de seu público, seja do Jornal Nacional, do impresso O Globo, ou tampouco, da Globo News.

 

Vergonha internacional na Globo News

Aliás, o canal de TV por assinatura Globo News, já nem pode ser chamado de um canal de jornalismo. Sua redação está mais para um comitê político de militantes de esquerda ou uma assessoria de imprensa do presidente Lula. Em relação ao atentado contra o Trump, passou de todos os limites. O que resultou em uma situação das mais constrangedoras, onde um de seus jornalistas militantes foi envergonhado pelo analista norte-americano Brian Winter, convidado pela emissora. O jornalista brasileiro teve a coragem de afirmar que o atentado não passava de um “teatro perfeito“, insinuando que acreditava tratar-se de uma armação do próprio Trump para alavancar sua candidatura. “É difícil ou não dizer se foi um atentado. A gente sabe da capacidade dos EUA em criar fatos, mesmo que custe a vida de pessoas”. Em outro momento, referiu-se a literalmente “teatro perfeito”. Não contente, não poderia perder a oportunidade de falar mal do ex-presidente Bolsonaro insinuando, também, que o atentado sofrido em 2018 pode ter sido falso para ele fugir do debate ou, ao menos, que o então candidato tirou proveito político da facada, capitalizando votos.

 

“Especulação ridícula“

O momento mais “quente” foi a réplica do analista norte-americano, que deu um esculacho no brasileiro e na emissora. Brian Winter classificou de “especulação ridícula“ a referência a “teatro”. “É irresponsável falar em armação um veículo de qualidade como a Globo News. Me surpreende ouvir isso de um veículo como a Globo News”. Certamente, o comentarista norte-americano não conhece muito bem o “padrão de qualidade Globo” no jornalismo para ficar surpreso…

 

Desfaçatez e falta de ética

É preocupante constatar a desfaçatez e irresponsabilidade da emissora ao permitir a participação de um jornalista tão desqualificado, que se entrega a ilações e teorias conspiratórias como se estivesse num bate-papo com amigos numa mesa de boteco. Sem o mínimo compromisso com a apuração dos fatos, a cautela, o comedimento, a imparcialidade e objetividade, e a espera da chegada de mais informações da imprensa internacional antes de começar a especular que tudo poderia se tratar de uma armação. É muito lamentável e vergonhoso contar com esse tipo de “jornalismo“ compromissado, apenas, com a difusão de narrativas político-ideológicas e teorias da conspiração. Considerando que, nem mesmo o convidado estrangeiro, possivelmente, um democrata, teve coragem de insinuar “armação” e “teatro”, vemos a quantas anda a falta de ética no nosso jornalismo em comparação ao dos EUA. Vale lembrar que um fotojornalista do New York Times, um dos jornais mais importantes do mundo, reconhecidamente democrata, captou uma imagem, emblemática, da trajetória da bala quando aproximava-se da orelha de Trump. Ou seja, nem mesmo um veículo dos mais democratas, como o NYT, deixou de veicular a icônica fotografia que comprova o atentado.

 

“Lobos solitários“

É plausível que o público ainda desconfie de muitos fatos por detrás do atentado. Inclusive, as investigações nos EUA , certamente, contam com muitas hipóteses, desconfianças e especulações. Entre elas, se o atirador teria agido sozinho, mesmo. Um “lobo solitário”, a exemplo do Adélio que esfaqueou Bolsonaro? Muitas dúvidas ainda não foram esclarecidas. Já tem sido ventilada a hipótese de que houve falha na segurança, principalmente, do Serviço Secreto. Como ex-presidente, Trump tem direito a uma equipe do Serviço Secreto para fazer sua segurança. A diretora do Serviço Secreto tem sido muito pressionada e terminou por assumir que houve falha na segurança da equipe destacada. Já se sabe, aliás, que os agentes de segurança tinham conhecimento da presença do atirador no local uma hora antes dos tiros. O Congresso americano deverá criar uma força-tarefa bipartidária para investigar a atuação dos agentes do Serviço Secreto. É bastante razoável, ainda, especular, que, muito além de “falhas” e “incompetência”, tenha ocorrido “vista grossa“ do Serviço Secreto, deixando-se que o atirador agisse. De forma deliberada, mesmo. Populares viram o atirador subindo no telhado e avisaram as forças de segurança, muitos minutos antes dos tiros.

 

Teorias da conspiração absurdas

Porém, é preciso mais do que ser ridículo, é preciso ser muito burro, para especular que a hipótese de “teatro” seria plausível considerando a necessidade de anuência do próprio Trump. Ora, o Serviço Secreto está subordinado ao governo Biden. Inclusive, a diretora do Serviço Secreto foi nomeada por Joe Biden, sendo, inclusive, amiga pessoal do atual presidente democrata. Trump não teria, jamais, esse poder de influência sobre a equipe destacada do Serviço Secreto que estava com ele. Além disso, Trump é um tanto excêntrico e considerado “maluco” por muitos, mas, seria doido o suficiente para contratar um sniper para fingir que tentaria matá-lo ao custo de outras vidas na plateia? Haveria necessidade de correr tanto risco apenas para supostamente alavancar uma pré-candidatura que já ia muito bem, como revelavam as pesquisas e seu desempenho no debate com Biden?

 

“Traço” na ausência da Globo News

É, realmente, querer passar muita vergonha em público fazer uma suposição como essa, absurdamente fantasiosa, sem vínculo com a realidade… Entretanto, quando se trata de política e ideologia, sempre há estúpidos e fanáticos o suficiente para comprar as narrativas mais absurdas e risíveis. Mas, ao menos, entre a audiência da Globo News, estes andam entrando em extinção. No último mês, o canal tem amargado uma queda fenomenal na audiência, de 38%, havendo momentos de “traço”.

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